segunda-feira, 2 de novembro de 2020

CARTAS DE SETEMBRO

 






CARTA AO VERISSIMO
 
Aos meus colegas de 26 anos de trabalho
 
 
 

Ermesinde, Setembro de 2007
 
 
        Sr. Veríssimo
 
        
        Além de ser levado pela ganância, empurrado pelo “Cavaquismo” e possuidor duma ignorância a toda a prova, sem educação ou aptidão para gerir seja o que for, ingrato para quem o ajudou a enriquecer o seu património, melhor não se podia esperar dum homem inculto e desprovido de personalidade. Reles, mentiroso e muitas vezes cruel, odiado até pelo filho (herdeiro da sua ganância) e incapaz de saber distinguir aqueles que o quiseram ajudar nas más horas que passou, na empresa que fundou com a ajuda do sócio Manuel Moreira, esse sim, pilar fundamental da firma de publicidade  Moreira & Verissímo, que com a sua saída provocou o a derrocada final, numa empresa pioneira e em franco progresso, mas que não soube acompanhar as novas tecnologias do mercado e oportunidades do momento em causa. E porquê? Eu conto, pela experiência de 26 anos ao serviço da empresa:
 
1982 — Os primeiros 3 anos foram de sacrifício, de trabalho sem condições ao frio, ao sol e muitas vezes desenhando em mesas improvisadas com pingos de chuva a caírem, etc. Mas sempre na ansiedade de conquistar melhorias nas condições de trabalho e benefícios salariais, uma vez que era a única empresa do sector na cidade. Havia naquele tempo um bom lote de profissionais, considerados por muitos como verdadeiros “artistas”. É deste viveiro que mais tarde (anos depois), vão nascer empresas que chegam a fazer uma forte oposição comercial.
 
1985 — Nos 5 anos seguintes, melhoraram as condições, agora com estiradores e material (que até aí era pago pelos próprios trabalhadores), e instalações de mais qualidade. Começaram a haver aumentos bianuais de salários, gratificações no Natal e almoço anual. A produção aumentou e entrou mais pessoal, chegando a trabalhar na empresa 25 pessoas.
 
1990 — Nestes 8 anos a seguir, foi a entrada no mundo da informática, um passo gigante na vanguarda do sector de produção. Desenho computorizado com programas específicos para corte em plother. Máquinas de fresagem e corte de esferovite em grandes volumes. Impressoras de jacto de tinta para grandes e pequenos formatos. Aquisição de grandes instalações para camiões de grande tonelagem. Aumento de postos de trabalho que atingem nesta altura 30 empregados. Aumentos anuais de salários, gratificações na Páscoa e Natal, almoço anual e distribuição mensal de senhas de refeição.
 
1998 — São os 3 anos onde vai começar a descalabro. A sociedade que até então era de dois sócios, dá lugar a mais dois (os filhos). Descapitalizam a empresa com obras megalómanas. Novas instalações para: Escritórios, sala de reuniões e 4 gabinetes de luxo, orçado em mais de 20.000 contos. Central telefónica no valor de mais de 1.000 contos. 4 Automóveis comerciais para a gerência no valor de 9.000 contos. Modificação total da identidade da empresa desde simples cartões à publicidade nas viaturas, com custos acrescidos de mais de 1.000 contos pagos a um designer particular. A partir desta altura terminam os aumentos salariais, acabam todas as gratificações e terminam os almoços anuais da empresa. Os sócios da empresa, passam a auferir os quatro, 2.000 contos mensais. O pessoal eventual (a recibo verde), é afastado e os 16 que ficam, recebam no total ao fim do mês 1.600 contos (menos que os 4 gerentes). É desviado da empresa materiais e serviços que não são contabilizados e dois dos sócios abrem empresas paralelas. Cava-se um buraco orçamental a empresa fica descapitalizada e a “crise” instalou-se. Enquanto isso, o património particular aumenta com: Automóveis topo de gama. Casas de luxo. Apartamentos no Algarve. Viagens ao estrangeiro de férias, pagas pela empresa. Motos de grande cilindrada para filhos e netos. Telemóveis topo de gama para toda a família. Passagens d’Ano e festas de Carnaval no estrangeiro. Desorganização total na empresa.
 
2001 — São os 5 anos da “Crise”. A sociedade é desfeita e três sócios abandonam a empresa, o único que fica não tem capacidade organizativa, nem sabe gerir os destinos da empresa. Desmoralizado e vitima do sucedido, arrasta a empresa para o caos, desmotivando os trabalhadores e a coberto da “crise”, e não querendo mexer no seu património particular, nem arranjando novas vias de saída da crise, perdendo 80% da carteira de clientes para outras empresas que entretanto foram abrindo ao mercado. Rodeia-se de pessoas que mesmo tentando erguer a empresa, ele começa a ser o obstáculo principal com a ideia predefinida de levar a empresa gradualmente a fechar. As dívidas à banca, ao estado e a fornecedores acumulam-se. Os salários começam a ser pagos em duas e três prestações. A desmotivação é total, não há ninguém que venda e a produção cai mais de 70%. Os filhos com medo de verem lapidado o património particular do patriarca, fazem reuniões sucessivas para venderem a empresa que no momento tem um passivo superior ao activo. Todas as tentativas saem frustradas e para não fechar a empresa, com dívidas por todo o lado, recorrem a mais credito e tentam fazer uma reestruturação, com o despedimento de mutuo acordo, com 5 dos 12 trabalhadores actuais na empresa e com os salários mais altos, apesar de não terem qualquer aumento nos últimos sete anos. Entregando nas mãos da Segurança Social e do Fundo de Desemprego o destino das pessoas, na da taxa etário de 35 aos 60 anos.
 
2007 — Afinal a tão esperada reestruturação nunca chegou. O gerente que não quer, nem sabe gerir, vai levando dia a dia a empresa ao caos. Mesmo na hora de vender a empresa e tentar que o M&V sobreviva, “rói a corda”, insulta os compradores e abandona as negociações, cego pela estupidez que sempre o caracterizou (que o digam, clientes, fornecedores e todas as pessoas que tentavam um diálogo civilizado), para desespero das próprias filhas que ainda pensavam conseguir uma saída para a crise. Com um total desprezo pelas pessoas, deixa a empresa afundar depois de penhoras sucessivas e fecha as portas definitivamente em Fevereiro, pedindo a ajuda do filho que tanto caluniou e culpou pelo descalabro da firma, pois nem para declarar falência o “gerente” teve habilidade. Os poucos empregados na altura, encontravam-se agora com a carta de despedimento na mão e palavras a abater ao débito de 3 meses de ordenado. Outros com quem assinou compromissos ficam de mãos vazias. Foi o fechar de um capitulo da era da publicidade na cidade do Porto. Aquela que tinha sido a empresa pioneira, com credibilidade no mercado, “MÃE” de muitas que hoje existem, fechou as portas da pior maneira.
                         Paz à sua alma!
 
                        Manuel Carvalho
 
(empregado nº7, apesar de em 2005 ser o 2º mais antigo na empresa, mas... a ordem era por nome, para que Álvaro Pinto [afilhado e sobrinho], ficasse em primeiro e o mais antigo, Gerado Ferreira e eu Manuel Carvalho, ficasse afastado, até nisto...)
 

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