terça-feira, 3 de novembro de 2020

CARTAS DE SETEMBRO


 



CARTA AO MEU BISNETO
 
O Meu cenourinha
 
 
 


 
Ermesinde Setembro de 2010
 
 
 
Meu querido bisneto Fábio
 
 
Nesta altura que te escrevo, ainda só tens dois anos e meio. A tua mãe deixa-te cá em casa de segunda a sexta e eu e a tua bisavó, tomamos conta de ti. Logo pela manhãzinha quando chegas, metes-te na cama junto da avó a beber o teu biberão de leite e queres sempre ver o “Ruca” na televisão. Eu brinco muitas vezes contigo, faço-te aviões de papel e desenhos para colorires. Tenho numa parede da sala a escala do teu crescimento com as datas da tua altura. Brincas muito na marquise com a tua garagem cheia carros e vens sempre ter comigo, para te colocar uma rampa que sai facilmente. Sabes de cor muitas das músicas da publicidade da televisão, desde o “Pingo doce”ao “Preço Certo”. Andas sempre a dançar, a tua bisavó até te chama «cú-de-rôla» pela maneira com que te maneias. Adoras tudo que seja instrumentos de música. És tão engraçado… És um menino lindo, com teus olhos azuis e o teu cabelo dourado, mesmo tirando algumas perrices (que ás vezes fazes), és muito meigo e quando à noite vais embora com a tua mãe, dizes sempre: «Chau buxinho!». Nós adorámos-te e quando não vens, a casa parece vazia.
 
Na altura que leres esta carta, já não devo cá estar, mas tenho esperança que vais ter um futuro melhor que o nosso, melhores que dos teus avós ou mesmo os teus tios. Sabes, é que eu nunca consegui incutir nos meus filhos e muito menos nos meus netos, o gosto por ler, estudar e ser alguém na vida. Apesar das coisas hoje serem mais fáceis que no meu tempo, é mais difícil noutros aspectos, não há trabalho, fecham muitas fábricas que mandam para o desemprego milhares de pessoas. As falências são a ordem do dia, com a crise monetária e a globalização (é curioso, como esta palavra era tão nova para mim… Hoje deve ser normal, infelizmente…).
Cheguei à idade que tenho hoje (62), um pouco frustrado com muitas coisas que pensei, que seriam diferentes. Estou a falar de sonhos que tive ou de muitas coisas que quis fazer e não fiz. Nunca tenhas medo de investir nos teus sonhos, luta por eles e não passes a vida a adiá-los, o tempo passa tão depressa e depois… nunca se tem tempo. Ás vezes são pequenas coisas, que por serem pequenas pensamos que: «Qualquer dia penso nisso!». Nunca te esqueça que a felicidade é efémera, ela é feita de pequenos momentos. Sabes, ás vezes até um cheiro a fruta madura na fruteira da sala, nos pode trazer à lembrança bons momentos de infância. Ou então, uma simples música pode-nos transportar para momentos vividos em felicidade. Por exemplo: O teu trisavô e meu pai, adorava ouvir “Fascinação”, nunca soube porquê, mas que lhe acendia um brilho nos olhos é verdade. Eu um dia de olhos fechados, pensei tanto em Luanda, que senti o cheiro da terra molhada secando com o sol, depois de uma chuvava. Pensar nas coisas e tetar concretizá-las.
Adivinho que vais ser um menino feliz, és inteligente, vais estudar e ser alguém. Teus pais adoram-te, a tua mãe foi a minha primeira neta e apesar de teres nacido quando ela ainda era tão nova, em demonstrado muita maturidade e responsabilidade, tal como teu pai, um rapaz trabalhador que tenho a certeza, tudo vai fazer para que nada te falte. És o Sol da vida deles e da nossa, só espero que quando leres esta carta, sintas que o teu bisavô que te amou muito, seja para ti um exemplo na tua vida, com votos de muita felicidade.
 
Um beijo grande Fabinho  

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