quarta-feira, 4 de novembro de 2020

S. JOÃO E OS TRIPEIROS


 



AS RUSGAS





Recado a quem organiza as Rusgas de S. João 
 
— Façam as verdadeiras Festas da Cidade, chamem ao Porto o turismo que tantos precisamos… assumam o S. João como um cartaz da cidade e único no mundo.
— Enfeitem as ruas por onde passa o desfile, ponham balões, cravos de papel e muita luz. Então o S. João não faz parte das FESTAS DA CIDADE?
— Aumentem o percurso para dar mais tempo à exibição junto à Câmara e espalhar assim mais o povo pelas ruas (sabem o que é estar de pé das 21h00 á 01h00?)
— Convidem um júri conhecedor, que avalie as músicas e as letras que seriam obrigatoriamente inéditas. Cedam fotocópias das mesmas aos membros do júri.
— Como é que um júri, onde a maioria nasceu há poucos anos, sabe o que é a essência das rusgas, ou que elas trazem de intrínseco?
— Organizem (com o devido tempo) um concurso para a Grande Marcha do S. João do Porto todos os anos (as que ouvimos hoje, ainda são dos anos 60, da Lenita, Florência e da Rosita). Esta marcha (extra concurso) seria a do Porto Lazer que abriria sempre o desfile abrilhantando e dando mais cor ao evento.
— Depois da fusão das freguesias, os bairros populares como a Lapa, a Fontinha ou as Musas e mesmo todos os bairros camarários, podem vir para a rua (era assim as Rusgas de antigamente). Mostrem que também a TV pode cá vir e dar a conhecer ao resto do país a alegria e o bairrismo da Festa mais democrática do mundo.
— As Rusgas seriam dos Bairros da Cidade e não das Freguesias, teríamos:
A Rusga do Cerco, do Agra, do Moiteira, do Regado, de S. Roque, etc.
Podiam dividir a exibição em duas, umas na Sexta e outras no Sábado.
— O tema seria sempre livre para todas as Rusgas, a única obrigação que teriam, era de todas cantaram alternadamente pela rua, a Grande Marcha da Cidade (desse ano) para depois junto ao júri, exibirem a sua Rusga.
— Lisboa faz das suas marchas um cartaz importante, com a TV em directo e nós? Que temos para dar ao país? Tenham orgulho e brio em ser do Porto
 
As Rusgas, que sempre vejo na rua, nada têm a ver com a transmissão na TV das Marchas de Lisboa. São eventos diferentes, mas com o mesmo espírito bairrista de levar e mostrar, o melhor que há nos bairros populares. Claro que as Marchas nada têm a ver com o tradicionalismo das Rusgas, estas nasciam espontaneamente em cada rua, que depois das torradas e o café feito na fogueira, percorriam as ruas vizinhas com ranchos de mulheres cantando e batendo testos e homens com ramalhos e balões, acordeões, bombos e ferrinhos. As quadras eram as mais populares e improvisadas, dentro da música mais tradicional de S. João, como:
 
E Repenica, repenica, repenica / O S. João a mijar em bica
E Orvalhadas, orvalhadas, orvalhadas / E Viva o rancho das mulheres casadas
 
O Cariz popular expresso nesta quadra, como em muitas outras, demonstra o improviso e a espontaneidade em que tudo era feito neste “rusgar” do povo.
As Marchas de Lisboa pelo contrário, nasceram da ideia cinematográfica de Leitão de Barros, com ajuda de António Ferro, responsável pela propaganda do regime do Estado Novo. Nada têm de improviso e apresentam-se aos turistas como cartaz festivo da cidade, na cosmopolita avenida da capital (onde o asfalto é forrado a vinil, com a linda “calçada portuguesa”, são embelezadas pela plástica dos seus arcos, pela luz, cor e brilho dos seus trajes (conforme o tema apresentado), apadrinhadas por gente do G7, que desce até ao povo, por “ser moda e ficar bem nas fotos das revistas cor-de-rosa”. O verdadeiro povo lisboeta, a maioria e aquele castiço e mais bairrista, fica-se pelas vielas nas sardinhadas e nos bailaricos de Santo António, claro… sem aguerridamente deixe de gritar pelo seu bairro.
Mas existem muitas coisas boas nas Marchas, que infelizmente as Rusgas não têm, por continuarmos a ser tacanhos e os eternos provincianos, sempre curvados e subservientes à capital dum país que nasceu aqui e até fomos nós que lhe demos o nome.
 
 
Cartas a Alberto Rocha da Festival 
 
 
Caro Alberto Rocha
 
Grato pela atenção em me responder e por partilhar algumas das suas ideias quanto ás Rusgas. Eu sei que é difícil mexer em tradições, é como os puristas do fado quando se deparam com algo de novo, ou seja, tudo que é novo sempre mete medo. O ideal era sabermos extrair o melhor da “novidade” sem beliscarmos a tradição. É como diz e com razão, que pouca margem de manobra existe para tornar as rusgas mais vivas, com mais luz e cor que só enriqueciam o espectáculo. As rusgas estão formatadas dentro daqueles parâmetros ancestrais, mas é sempre possível melhorar, por exemplo:
— Podia cada Freguesia, apresentar á cabeça da sua rusga um arco colorido e iluminado, que representasse um monumento, ex-líbris ou algo de interesse representativo da sua freguesia. Afinal já muitas delas trazem (como o cubo, este ano) e não faziam parte da tradição das rusgas… Apenas era preciso dar-lhe mais ênfase, mais cor, muito mais luz. Serviria para marcar a presença na rua e a entrada na exibição. Depois, podia ter uma pontuação definida e alta, para que fizesse também a diferença e levasse cada Freguesias a apostar em apresentar algo que nenhuma outra freguesia tem. Atrás deste arco principal, então viria a rusga com as suas tradições normais, mas deixava de haver “só” o mesmo cenário repetitivo de todos os anos. Haveria finalmente algo de diferente e sem fugir ou desvirtuar as rusgas em si.
— Outra coisa que dava um ar mais bairrista e faria chamar mais povo ás ruas (pela curiosidade), era cada Freguesia convidar padrinhos para a sua rusga, que abririam o cortejo à frente do Arco principal. Claro que não gostava de ver como em tempos idos, figuras da TV ou artistas de Lisboa (nunca vi lá nas marchas, gente de cá), mas artistas do porto, muitos deles das próprias freguesias. Há tanta gente ilustre nesta cidade, digna de apadrinhar qualquer rusga…
— Também o caso da música e da letra serem obrigatoriamente originais, deviam ser classificadas como tal. A contagem para a classificação, devia ser o somatório de: Arco original + vivacidade da rusga + tradicionalismo da rusga + música + letra. O júri devia ser de 5 pessoas, uma para cada área específica e ainda uma 6ª pessoa (presidente do júri) para ser responsável e porta vós (com voto de desempate, no caso disso). Acho ainda, que a rusga principal só deveria ser tocada e cantada frete ao júri, mas haveria uma Marcha da cidade que todos cantariam no desfile. Essa Marcha de S. João do Porto, claro que devia ser um concurso feito pela Câmara anualmente (com tempo), tal como acontece em Lisboa á muitos anos.
 Repare o Amigo Alberto que as únicas (que ainda se ouvem) têm muitos anos, são do tempo em que se faziam marchas na cidade na década de 60. É preciso que fique no ouvido do povo o S. João do Porto. A Câmara devia de assumir os festejos como verdadeiro cartaz da cidade.
Vem, ficam aqui algumas sugestões para o meu caro Alberto Rocha, poder apresentar em próximas reuniões para organização deste certame. Não lhe quero furtar mais tempo, pois o Amigo tem mais responsabilidades na Rádio e pouco tempo para me aturar.

Um abraço
 
Manuel Carvalho
 
 
 
 
Amigo Alberto Rocha
 
Gostaria de lhe dar os parabéns pela sua capacidade de organização. É de louvar, o empenho que põe nos eventos que a Rádio Festival leva a efeito. Mais uma vez pude constatar ontem em plena avenida, aquando do desfile das rusgas ao S. João/2010, como o Alberto Rocha se desdobra para que tudo corra pelo melhor.
Hoje, domingo, depois de ouvir as classificações e assistir à gravação do desfile pelo Porto Canal, vi e pude comparar a transmissão, com as Marchas de Lisboa. São eventos (quase) diferentes, mas com o mesmo espírito bairrista de levar e mostrar, o melhor que há nos bairros populares.
As Marchas de Lisboa nasceram da ideia cinematográfica de Leitão de Barros, com ajuda de António Ferro, responsável pela propaganda do regime do Estado Novo. Nada têm de improviso e apresentam-se aos turistas como cartaz festivo da cidade, na cosmopolita avenida da capital (onde o asfalto é forrado a autocolante com a linda “calçada portuguesa”, são embelezadas pela plástica dos seus arcos, pela luz, cor e brilho dos seus trajes (conforme o tema apresentado), apadrinhadas por gente do G7, que desce até ao povo, por ser-moda-e-ficar-bem nas fotos das revistas cor-de-rosa. O verdadeiro povo lisboeta, aquele castiço e mais bairrista, fica-se pelas vielas nas sardinhadas e nos bailaricos de Santo António.
Mas existem muitas coisas boas nas Marchas, que infelizmente as Rusgas não têm, por continuarmos a sermos tacanhos e os eternos provincianos, sempre curvados e subservientes à capital dum país que nasceu aqui e até fomos nós que lhe demos o nome.
Peço desculpa ao meu Amigo, que nada tem com isto, continuo a admirar o seu empenho, mas faça lá uma “forcinha”junto da Porto Lazer, à C. M. do Porto ou quem mais organiza as Rusgas.
 
Um abraço meu prezado Amigo e até ao ano!
Manuel Carvalho
 
 
Amigo Alberto Rocha
 
Mais uma noite de Rusgas, mornas e sem luz, não fora as montras ou reclamos luminosos da cidade, a luz e a cor não existiam. Começa pela Câmara em não aproveitar como um Grande Cartaz para a cidade as "FESTAS DA CIDADE", então o S. João não é uma festa única no mundo? Porque não aproveitar esse património em proveito da cidade (com a crise...) para chamar gente ao Porto? Porque não iluminar  (pelo menos) as artérias por onde desfilam as Rusgas. Vale (ao menos) e invasão de gente das Rusgas das freguesias mais carismáticas, mas não passa disso e da repetição ano após ano, da presença do policia, do homem das gravatas, do "Carlinhos da Sé", das prostitutas do bairro, do gracha, ete. Figuras que já vimos todos estes anos. Claro que as Marchas em Lisboa pela sua temática, têm a facilidade de todos os anos serem diferentes e despertar  a curiosidade própria de ver (como vai o nosso bairro este ano?). Depois são televisionadas em directo, assim como os casamentos de Santo António (cá já houveram os de S. João), enfim... A RTP oferece dois dias de festa em Lisboa (sempre o sul), mas também o que vinha filmar ás Rusgas? com a escuridão e a tristeza das ruas. Confesso que já ganhei 7 anos com a letra da Rusga da Sé, e depos? Que tem isso de especial, acaso o Júri (Quem são?) lê as letras ou as classifica? Nem quem as apresenta em palco, diz os nomes dos autores da Letra ou da Música, tratasse de um trabalho "menor", sem importância... Por exemplo: Desde os anos 60 que não há uma Marcha do S. João nova, ainda se podem ouvir as da Florência, Natércia, Rosita ou do Aurélio Perry. Em Lisboa todos os anos é feito um concurso para a Grande Marcha d Lisboa. O desfile cá no Porto podia abrir com uma marcha da cidade, onde houvesse cor e muita luz. Olhem o casa deste ano, como  "Manobras no Porto" abriu o desfile (sem concorrer) com uma enorme animação e a muita imaginação com o "Siga a Rusga". Enfim, esperemos que alguém lá do gabinete da "cultura" se ilumine.

Um abraço
Manuel Carvalho
 

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