quarta-feira, 4 de novembro de 2020

S. JOÃO E OS TRIPEIROS




 
O SÃO JOÃO DO PORTO





 
Festas de forte caris popular, o S. João do Porto é uma festa que nasce espontaneamente, nada se encontra combinado, embora a festa se vá preparando discretamente  durante o dia, é normalmente depois do jantar, constituído por sardinhas assadas, batatas cozidas e pimentos ou entrecosto e fêveras de porco na brasa, acompanhadas de óptimas saladas, jantar obviamente regado com vinho verde ou cerveja, mais modernamente.   Findo o jantar, os grupos de amigos começam a encontrar-se, organizando rusgas  de S. João, como são chamadas.   As pessoas muniam-se de  alhos-porros e  molhos de cidreira, actualmente as armas, são outras, mudaram para martelos de plástico, duros e ruidosos, mas que acabaram por ser bem aceites e hoje já fazem parte da tradição,
 
 
Há alguns anos atrás, o S. João limitava-se a uma área da cidade que era constituída, pelas Fontainhas (Ponto nevrálgico ) . A par deste percurso, que juntava para cima de meio milhão de pessoas, que tornavam as ruas pejadas de gente, e onde não há atropelos,   as zaragatas são de imediato sustidas pelos populares,   os beligerantes rapidamente selam a paz com mais um copo e uma pancada de alho-porro de amizade. O S. João do Porto é uma festa onde ricos e pobres convivem uma noite de inteira fraternidade e onde a festa é constante. Nos bairros, a festa continua e as comissões organizadoras de cada uma  mantém o baile animado até altas horas da madrugada. No tempo áureo do alho-porro quem chegasse ao Porto vindo de fora, estranharia o odor espalhado pela cidade... efectivamente ela cheirava a alho.
 
 
Mas muita da tradição ainda se mantém: Em barracas ou espalhados pelo chão lá estão os manjericos (Planta tradicional do S. João), as tendas das fogaças, as farturas, o algodão doce, as pipocas, as barracas da sardinha assada e dos comes e bebes. Os matraquilhos, os carroceis,  as pistas dos carros. As tendas de venda das louças de barro,  das cutelarias, o tiro ao alvo e as tômbolas.  Durante toda a noite, centenas de balões são lançados e muito fogo de artificio particular é queimado, pela meia-noite o tradicional fogo de artificio da Câmara Municipal, faz sempre furor pela sua beleza. No fim e já alta madrugada é ver os foliões procurarem as padarias onde o pão acabado de fazer e ainda quentinho vai confortar as barrigas para um merecido descanso.
 
 
O S. JOÃO DE GERMANO SILVA
 
 
“O S. João era mais divertido, o que não quer dizer que hoje não haja diversão”, começou por explicar à Viva o conhecido jornalista e historiador do Porto Germano Silva. “É um momento em que se esquece o ‘vossa excelência’.  A diferença é que as rusgas eram menos organizadas: formavam-se nos bairros, passavam nas Fontainhas e terminavam com o tradicional banho nas águas orvalhadas do Douro, antes de o sol nascer, porque todos acreditavam que dava saúde”, acrescentou.
Com efeito, contrariamente ao que muitas pessoas pensam, o S. João nunca foi uma festa católica. Trata-se de uma celebração pagã, intimamente ligada ao culto da fecundidade, do fogo e do sol. Apesar de muitos desconhecerem as verdadeiras origens do festejo, a felicidade estampada nos rostos de quem percorre o coração da cidade naquela noite é já uma marca da Invicta. O conceito “é o mesmo”, sublinhou Germano Silva, notando que as pessoas se entregam “à folia sem constrangimentos”.
“Claro que o S. João vai evoluindo conforme a cidade evolui”, afirmou o historiador, recordando que “as ruas dos Caldeireiros, do Almada – onde as varandas ficavam todas iluminadas – e a Praça da Liberdade – com o fogo preso – já foram os epicentros” da festividade. O auge do arraial chegou também a ser junto ao Bolhão e no Mercado do Anjo que, entretanto, encerrou. Nos anos 50, o fogo de artifício era lançado na Serra do Pilar “para que as pessoas o vissem das Fontainhas”.
“O S. João continua a ser a rua”
Apesar das diferenças, Germano Silva ainda vive a celebração da mesma forma. “Para mim, o S. João continua a ser a rua”, revelou à Viva, acrescentando que, todos os anos, se desloca à rua de S. Victor, na qual a festa “mantém as características antigas, como a cascata”. O historiador recorda também o arraial das Fontainhas que, não sendo o mais antigo da cidade, se transformou na verdadeira  “meca” do S. João do Porto. Em meados do século XIX, “um senhor decidiu construir uma cascata monumental e oferecia café quente e pão com manteiga a quem a fosse ver”, explicou, esclarecendo que, com o tempo, se tornou “quase obrigatório” a passagem pelas Fontainhas nesta época.
Mas a festa popular não é apreciada apenas pelos portuenses. “É preciso não esquecer que a revista Newsweek fez, há uns anos, grandes reportagens sobre festas cíclicas do mundo e o S. João do Porto vinha lá”, relembrou Germano Silva, explicando que ao contrário do que acontece, por exemplo, em Braga, onde o S. João “tem uma programação”, no Porto, não existe um plano definido, “o que é muito aliciante para os turistas”. “Recordo-me que, num ano, Mitterrand estava na cidade e ficou espantado com o S. João. Os seguranças ficaram atormentados por causa da confusão, mas ele andou na rua a ver a festa”, contou o historiador do Porto.

Sem comentários:

Enviar um comentário

ENQUANTO ME LEMBRO...