terça-feira, 27 de outubro de 2020

CHÁVENA COM HISTÓRIA




 


CAPÍTULO 13






Corria o ano de 2008 e a crise económica tinha-se globalizado.
 
“Tal com em 1929, vinham dos EUA os ventos do desaire. Tudo começou em 2001 com o furo da "bolha da Internet”. Para proteger os investidores, o presidente da Reserva Federal Americana, decidiu orientar os investimentos para o sector imobiliário. Adoptando uma política de taxas de juros muito baixas e de redução das despesas financeiras, induziu os intermediários financeiros e imobiliários a incitar uma clientela cada vez maior a investir em imóveis. Foi assim criado um sistema de hipotecas, empréstimos hipotecários de alto risco e de taxa variável concedidos às famílias "frágeis", ou seja, para os clientes (sem renda, sem emprego e sem património). Na realidade, eram financiamentos de casas, muitas vezes conjugados com a emissão de cartões de crédito, concedidos a famílias que os bancos sabiam de antemão não ter renda familiar suficiente para poder arcar com suas prestações.
       Quando a Reserva Federal, em 2005, aumentou a taxa de juros para tentar reduzir a inflação, desregulou-se a máquina; o preço dos imóveis caiu, tornando impossível um novo financiamento para os clientes, que se tornaram impotentes para liquidarem as dívidas e esses títulos derivativos tornaram-se impossíveis de ser negociados a qualquer preço, o que desencadeou um efeito dominó.
       A globalização permitiu aos Estados Unidos sugar a poupança mundial, e consumir muito mais do que produzia, tendo seu défice em conta-corrente atingido 6,2% do PIB em 2006. Os mercados financeiros empurravam os consumidores a pedir emprestado, criando cada vez mais instrumentos e condições favoráveis ao endividamento”.
 
A crise instalou-se em Portugal. O governo de maioria socialista de José Sócrates, iludido com a política de novas tecnologias, deixou-se adormecer criando a pobreza e o desalento nas famílias. Como escreveu Honório Novo no JN, em 16 de Março de 2009:
      
“Ao contrário do que por aí anda a repetir o primeiro-ministro, a crise já cá estava há muito, bem antes de se fazerem sentir os piores efeitos da crise mundial.../ /...das politicas económicas e sociais centradas nos baixos salários, na precarização crescente e cortes de investimento público... /  /...o governo de Sócrates é responsável por taxas recorde de desemprego, pela falência total dos bombásticos objectivos de criação de emprego”
       
Também em 1 de Julho de 2008, António Barreto escrevia no jornal “O Publico”:
    
A crise económica e social está instalada em Portugal. E bem instalada. Não há sinais de qualquer alívio a curto prazo. Ninguém espera uma melhoria efectiva antes de dois ou três anos. Algumas das causas desta situação vieram de fora. A começar pelos custos dos petróleos e da energia em geral, contra cujos aumentos nem sequer a Europa soube tomar providências a tempo. Mas Portugal já estava mal, muito mal, antes deste terceiro choque do petróleo. Há praticamente oito anos que Portugal vem perdendo, em termos absolutos e relativos. A verdade é que a “nossa” crise é em geral muito superior à dos parceiros europeus. Quer isto dizer que somos os principais culpados. Desperdiçámos anos, recursos e oportunidades. Perdemos com a ditadura e a guerra. Perdemos com a revolução e a contra-revolução. Perdemos também com três décadas de facilidade e demagogia. Assim chegámos ao ponto de perceber que ninguém virá em nosso socorro, que não há mais soluções fáceis e que, de fora, não virá mão redentora. Só de nós próprios virá qualquer remédio. E isto não significa orgulho, nem raça. Muito menos talento ou história. Significa tão simplesmente estudo, persistência e organização. E, sobretudo, trabalho”.
      
Marcelo com 60 anos em 2008, ainda conseguiu sobreviver com o subsídio de desemprego dado pelo estado. Quando terminou o prazo de três anos, como não tem direito a reforma, uma vez que na nova legislação só o permitia aos 65 anos, entra numa crise quase fatal, não fora a filha Célia que com o pouco que ganhava vai conseguindo ajudar nas despesas. 
Marcelo tira algumas fotos digitais às poucas peças de porcelana de valor que possui. Procura nas páginas amarelas a morada de alguns antiquários da cidade e no dia seguinte pela manhã, vai à procura de quem saiba avaliar tais peças, leva as fotos com ele e no bolso bem embrulhada, leva a chávena de porcela da avó Clara.
 
 
 

Sem comentários:

Enviar um comentário

ENQUANTO ME LEMBRO...