CHÁVENA COM HISTÓRIA
CAPÍTULO 13
Corria o ano de 2008 e a crise económica tinha-se globalizado.
“Tal
com em 1929, vinham dos EUA os ventos do desaire. Tudo começou em 2001 com o
furo da "bolha da Internet”. Para proteger os investidores, o presidente
da Reserva Federal Americana, decidiu orientar os investimentos para o sector
imobiliário. Adoptando uma política de taxas de juros muito baixas e de redução
das despesas financeiras, induziu os intermediários financeiros e imobiliários
a incitar uma clientela cada vez maior a investir em imóveis. Foi assim
criado um sistema de hipotecas, empréstimos hipotecários de alto risco e de
taxa variável concedidos às famílias "frágeis", ou seja, para os
clientes (sem renda, sem emprego e sem património). Na realidade, eram
financiamentos de casas, muitas vezes conjugados com a emissão de cartões de
crédito, concedidos a famílias que os bancos sabiam de antemão não ter renda
familiar suficiente para poder arcar com suas prestações.
Quando a
Reserva Federal, em 2005, aumentou a taxa de juros para tentar reduzir a
inflação, desregulou-se a máquina; o preço dos imóveis caiu, tornando
impossível um novo financiamento para os clientes, que se tornaram impotentes
para liquidarem as dívidas e esses títulos derivativos tornaram-se impossíveis
de ser negociados a qualquer preço, o que desencadeou um efeito dominó.
A globalização permitiu aos Estados Unidos
sugar a poupança mundial, e consumir muito mais do que produzia, tendo seu
défice em conta-corrente atingido 6,2% do PIB em 2006. Os mercados financeiros
empurravam os consumidores a pedir emprestado, criando cada vez mais
instrumentos e condições favoráveis ao endividamento”.
A crise instalou-se em Portugal. O governo de
maioria socialista de José Sócrates, iludido com a política de novas
tecnologias, deixou-se adormecer criando a pobreza e o desalento nas famílias.
Como escreveu Honório Novo no JN, em 16 de Março de 2009:
“Ao contrário do que por
aí anda a repetir o primeiro-ministro, a crise já cá estava há muito, bem antes
de se fazerem sentir os piores efeitos da crise mundial.../ /...das politicas
económicas e sociais centradas nos baixos salários, na precarização crescente e
cortes de investimento público... /
/...o governo de Sócrates é responsável por taxas recorde de desemprego,
pela falência total dos bombásticos objectivos de criação de emprego”
Também em 1 de Julho de
2008, António Barreto escrevia no jornal “O Publico”:
“A crise
económica e social está instalada em Portugal. E bem instalada. Não há sinais de
qualquer alívio a curto prazo. Ninguém espera uma melhoria efectiva antes de
dois ou três anos. Algumas das causas desta situação vieram de fora. A começar
pelos custos dos petróleos e da energia em geral, contra cujos aumentos nem
sequer a Europa soube tomar providências a tempo. Mas Portugal já estava mal,
muito mal, antes deste terceiro choque do petróleo. Há praticamente oito anos
que Portugal vem perdendo, em termos absolutos e relativos. A verdade é que a
“nossa” crise é em geral muito superior à dos parceiros europeus. Quer isto
dizer que somos os principais culpados. Desperdiçámos anos, recursos e
oportunidades. Perdemos com a ditadura e a guerra. Perdemos com a revolução e a
contra-revolução. Perdemos também com três décadas de facilidade e demagogia.
Assim chegámos ao ponto de perceber que ninguém virá em nosso socorro, que não
há mais soluções fáceis e que, de fora, não virá mão redentora. Só de nós
próprios virá qualquer remédio. E isto não significa orgulho, nem raça. Muito
menos talento ou história. Significa tão simplesmente estudo, persistência e
organização. E, sobretudo, trabalho”.
Marcelo com 60 anos em 2008, ainda conseguiu
sobreviver com o subsídio de desemprego dado pelo estado. Quando terminou o
prazo de três anos, como não tem direito a reforma, uma vez que na nova
legislação só o permitia aos 65 anos, entra numa crise quase fatal, não fora a
filha Célia que com o pouco que ganhava vai conseguindo ajudar nas
despesas.
Marcelo tira algumas fotos digitais às poucas peças
de porcelana de valor que possui. Procura nas páginas amarelas a morada de
alguns antiquários da cidade e no dia seguinte pela manhã, vai à procura de
quem saiba avaliar tais peças, leva as fotos com ele e no bolso bem embrulhada,
leva a chávena de porcela da avó Clara.
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