segunda-feira, 26 de outubro de 2020

UM CRUZEIRO DE SONHO





 

PARTE 2
 
 
 
       


    Eram 11.00h e foi dada a partida de autocarro para um passeio, aliás facultativo ao programa, a Tunes onde visitamos os Souks, pequenos labirintos de lojas onde encontramos todo o típico artesanato do país. Segui-se uma leve visita ao Museu do Bardo, onde podemos apreciar a maior colecção de azulejos do mundo. Paramos depois em Cartago a 12 Km de Tunes. A antiga capital púnica é hoje um bairro de Tunes e um sítio arqueológico e turístico importante, tendo sido classificado Património Mundial pela UNESCO em 1979. Outrora, disputava com Roma o controle do Mar Mediterrâneo. Essa disputa deu origem ás três guerras Púnicas, após as quais, Cartago foi destruída.
      Paramos para o almoço (pois passavam já das 13.00h.), visitamos as suas célebres ruínas. Passamos ainda pela vila piscatória de Sidi Bousaid, onde apreciamos, como é de tradição, o famoso chã de pinhões numa das típicas casas de chã árabes. Regressamos a Hammamet para jantar e pernoitar.
      À noite demos um belo passeio pela paia. Vestimo-nos à vontade, eu de ganga, camisa de meia manga e pulóver pelas costas. Ela de saia branca rodada e cinta alta, blusa azul cabeada ás pintas brancas e um pequeno casaco de malha pelas costas. Um lenço estampado com motivos do mar cobria-lhe o cabelo que esvoaçava com a brisa. Uma pequena aragem fresca mas agradável junto à praia onde as ondas rebentavam na areia a nossos pés, tornava aquele passeio ainda mais belo. Íamos descalços, de mãos dadas apreciando aquele momento que nunca tínhamos tido o prazer de saborear na vida. Haviam muitos casais deitados pela praia, indiferentes uns outros, distraídos, absorvidos pelos gestos, pelos beijos. Demos aquela praia o nome de “Praia dos beijos”. Chegamo-nos também a sentar, deitar, beijar e... claro a namorar.              
       Dormimos bem e estávamos frescos e prontos para embarcar, depois do pequeno almoço admirável que o  Aziza nos proporcionou, e um adeus à (nossa) Praia dos beijos, retornamos ao nosso camarote a bordo do “Malhoa”, este fez-se de novo ao mar, quase à hora do almoço. Pequenas embarcações rodeavam o navio tentando vender artigos locais aos turistas. Depois de algumas fotos, dissemos adeus à Tunísia e prometemos voltar em breve. Era com efeito, uma terra linda e era pena ter-mos tão pouco tempo de visita.
        Passamos através do Canal da Tunísia no mar da Cecília, enquanto almoçávamos. Víamos a paisagem através das amplas janelas da sala  e apesar do dia límpido não conseguimos ver essa ilha da ponta de Itália, terras de Siracusa, Palermo Catânia, etc., pois íamos muito junto à costa da Líbia.
        Descansávamos um pouco ao Sol, nas cadeiras do convés, quando avistamos ao longe e do nosso lado esquerdo, a ilha de Malta, cuja capital é La Valletta, com 316 Km2 e 370.000 habitantes. Navegávamos rumo à nossa próxima paragem o Egipto.       
     
        Eram 09.30h do quarto dia da nossa viagem quando o “Malhoa” aportou ao cais da Cidade de Rashid, depois de termos passado ao largo da famosa cidade de Alexandria. Ali tinha sido construído em 270 a C. o maior farol do mundo (na época) com 120 Metros de altura, destruído em  1375 durante um terramoto e apesar das “novas” maravilhas do mundo, e ainda faz parte, em 7º lugar, das Sete Maravilhas do nosso planeta.
       Maravilhosos autocarros panorâmicos fizeram o trajecto do cais de Rashid até ao hotel “Ramses Hilton” no extremo norte da cidade do Cairo  
       Com uma assistência cuidada e uma grande capacidade de organização, por parte da agência de viagens, sem dúvida digna de louvor, ainda não eram treze horas, (hora portuguesa) e já estávamos instalados e preparados para o almoço. Da ementa constava mariscos diversos como entrada. Seguindo-se garoupa do Nilo assada no forno e acompanha de arroz de caril. A sopa de agriões e à sobremesa, queijo de cabra, especialidade de Tebas. (Claro que tive de pedir outro arroz, caril não é com a Olga!). A sala onde almoçamos era moderna, com arcos em pedra envidraçados, onde a luz entrava a rodos. Ambiente magnífico para um primeiro almoço em terras de Faraós.
       A tarde estava livre para conhecer o Cairo. A cidade capital do Egipto, é chamada de al-Qahira em árabe. Está situada nas margens do rio Nilo e tem cerca de 16 milhões de habitantes. Foi fundada em 969, conquistada pelos turcos em 1517. Ocupada pelos franceses entre 1798 e 1801. É sede da Liga Árabe. O Cairo é uma cidade que é um museu aberto, composto por uma mistura de antigo e moderno que convivem nos seus bairros, ruas, ruelas e becos. O Cairo religioso é cheio de contrastes, cidade cosmopolita em culturas e gentes, que revela diferentes civilizações. 
       Começamos por visitar as famosas mesquitas de Al-Azhar e de Mehemet Ali do  (séc. X). Passamos junto à portagem do famoso Canal Suez. Por um folheto ilustrado, soubemos que tem 161 km de comprido e foi nacionalizado por Nasser em 1956, o que provocou a invasão do Egipto por tropas anglo-franco-israelitas.
Apanhamos o moderno metro do Cairo para nos dirigirmos ao Museu Egípcio de Antiguidade, onde se encontra a mais bela colecção arqueológica de todo o mundo. O fabuloso tesouro de Tutankhamon reúne as mais interessantes peças e de maior destaque no museu.  
       Tivemos ainda tempo para visitar a Cidadela de Saladino e a sua linda mesquita.  Compramos e enviamos postais ilustrados para os filhos, netos e pessoas amigas. Escrevi uma carta mais longa ao Passos, sobre a decoração da nova moradia que compramos, embora seja o encarregado (competente) da obra em geral, penso que em matéria de decoração, eu e a Olga temos importantes sugestões a dar, em como queremos a nossa nova casa decorada. Para os reposteiros, carpetes e cortinados, recomendamos-lhe a “Criabel” como empresa experta na matéria, desde de que respeite as amostras de cores e texturas que escolhemos.
         
        Regressamos ao Ramsés Hilton para jantar. Depois de um banho reconfortante, descemos ao salão.
        O embaixador de Portugal no Cairo fez questão de estar presente, numa recepção de boas vindas aos seus conterrâneos como era usual (viemos a saber depois),
        O comandante do navio, e alguns oficiais da tripulação, espalharam-se simpaticamente pelas mesas dos passageiros, num gesto de cortesia.
        O Senhor embaixador e esposa, saudaram-nos com um drink de boas-vindas, desejando-nos boa estadia. Na mesa da embaixada, dois galhardetes sobressaíam dum lindo arranjo de flores, o de Portugal e o do Egipto. Era um gesto que fazia lembrar a presença de Eça de Queiroz como jornalista convidado na inauguração do Canal Suez, aquando da sua inauguração oficial em 17 de Novembro de 1869. O Jornal português Diário de Noticias, publicou a reportagem escrita pelo grande escritor.
       O Jantar constava de: Carneiro à Sheik, assado com beringelas e acompanhado de batata escaldada em azeite, azeitonas descaroçadas e tiras de limas e ainda alperces a enfeitar. Á sobremesa foi servida uma salada de abacaxi com rum. O café era forte com sabor tradicional árabe.
       Jantou na nossa mesa um casal de Aveiro, donos duma pequena frota de pesca, muito simpáticos e conversadores, falamos do celebre bacalhau à São Bernardo tão apreciado pelas gentes do norte, falamos da Ria, da nova ponte de S. Jacinto, obra notável da engenharia portuguesa, e por fim falamos da pesca e dos ovos moles. As conversas são como as cerejas...
       Foi servido numa sala ao lado whisky, e por amabilidade do Sr. Embaixador, um bom charuto da Líbia. As senhoras tinham à disposição cigarrilhas e licor de tâmara. Foi um jantar muito agradável.
        No Salão de baile, pomposamente chamado de “Cleópatra” já se ouviam os acordes do “Danúbio Azul”, o Embaixador abriu o baile, a noite prometia...
        A bonita arquitectura árabe do salão, (dizia ao meu companheiro de Aveiro, amante de cinema como eu) faz-me recordar o quartel britânico, onde o oficial T. E. Lawrence entraria a qualquer momento, depois de estacionar a sua “Norton” à porta de armas, no grande filme Lawrence da Arábia. Filme que faz inevitavelmente parte, dos vinte melhores filmes do mundo, na minha lista de preferências.
        O meu companheiro falava todo entusiasmado noutros títulos do seu agrado. Mas... A hora passava e eu ainda queria dançar um pouco, sentia-me em forma, esta viagem estava-nos a fazer bem. De resto não nos tínhamos que preocupar, graças a muitos anos de trabalho e ás “Selecções” claro!
       Fui buscar a Olga, pois já tinha reparado de longe no seu ar de (estar a ser simpática sem querer), que me dizia: Vem-me buscar depressa que já não aguento mais!...   Dançamos, sorrindo aos nossos amigos aveirenses, enquanto me contava ao ouvido, que a aveirense era uma pedante, diz que tem barcos de pesca e uma fábrica de conservas, enfim! (Armadora diz ela... É mas é armante que rima com petulante).
       Depois de dois boleros, uma rumba e dois tangos, demos por finda a nossa noite de dança, principalmente quando os ritmos começaram a ser mais fortes, era divertido, mas não tínhamos propriamente vinte anos. Subimos para os nossos aposentos, estávamos maçados o dia tinha sido cansativo, andamos muito a pé. Adormecemos nos braços um do outro, ao som da Barbra Streisand cantando “Memory” muito baixinho, no aparelho de rádio do quarto do hotel. 
             
        Para o segundo dia da nossa estadia no Egipto, temos um programa maravilhoso, vamos visitar as pirâmides e outros monumentos de interesse. A partida no ”Nile Emerald” está marcada para as 09.00h em ponto, no cais sul do rio Nilo. Iremos subi-lo e apreciar a paisagem.
       Do programa faz parte a visita ás célebres e milenárias pirâmides de Gizé e à simbólica e enigmática Esfinge. Após o almoço iremos visitar Sakkara, Mastaba de Ti e pirâmide escalonada de Djoser, considerada a mais antiga do Egipto. Faz ainda parte do itinerário, a visita ás pirâmides de Dahsour, descobertas no início do século e abertas ao mundo em Setembro de 96. O regresso ao hotel está marcado para as 20.00h.
             
 

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