7º CAPITULO
No
dia combinado, lá subiram os três para a “A Caverna do Saber”, não interferi na
“arrumação” mas ouvia tudo que diziam, com o alçapão aberto e a ajuda da placa
da casa por ser antiga e fina.
— É maravilhoso penetrar neste mundo. — Dizia o Joel — A biblioteca era muito maior, mas o meu avô desiludido com a falta de interesse do meu pai, ofereceu à Junta de Freguesia quase um milhar de livros para a biblioteca. Dos que ainda ficaram, já os li quase todos, mundos idealizados por grandes escritores, só quem não experimentou não sabe o que é esta sensação boa de sair do mundo por uns instantes; Estar num café de Londres a desenhar a Sally ao lado de Philip, na “Servidão Humana” de Somerset Maugham; Ou aprender com a Tehura a arte das caricias, nas belas ilhas do pacífico, nas “Três Sereias” de Irving Wallace; Que bom ter estado ao lado do tenente Krafft, na “Fábrica de Oficiais” do Kirst; Ou ter conhecido a Adriana na “Romana” de Moravia; Fazer parte de “Uma Família Inglesa” de Júlio Dinis e conhecer a Amélia do “Crime do Padre Amaro” do Eça; Ser o Homem do leme no “Mostrengo” de Fernando Pessoa, e o marinheiro no “Fado” de José Régio. Que bom é poder viver estas personagens com o prazer da leitura.
— Tem aqui contos escritos pelo avô? Vou ter que lê-los…
— Sim Nádia, eu dos que li, gostei muito de um dedicado a uma tal Alma Rosa, fadista da época, pela qual meus avós deviam ter um carinho muito especial. Gostei também da descrição que faz sobre a Exposição Mundial de Lisboa, a Expo/98, que deve ter sido fabulosa. Gostei também da descrição minuciosa sobre um cruzeiro (que nunca fizeram) ao Mediterrâneo. Há um conto que gosto em particular que tem o título de “Quando o ano fez anos”. Gostei muito de ler: “Á Janela do Fado”; “O Anjo Encarnado” e muitos, muitos poemas e letras de fado no “Fados & Silêncios”. Sabes que o avô escreveu mais de 350 letras de fado e mais de uma centena foram gravadas por diversos fadistas. Tens aí em K7’s, CD’s e até em vinil, quando quiseres ouvir…
— Tem aqui uma boa colecção de literatura erótica — Disse a Clarinha — Quero ler isto… O Joel brincou com ela:
— És muito tola… Mas sei que vais gostar. Tens aí livros da célebre escritora brasileira Cassandra Rios, que cá eram proibidos, assim como tudo que fosse pornográfico. Havia uma livraria na rua de Cedofeita (o Sérgio) que os mandava vir clandestinamente. O Avô guardou, alguns que ainda eram do nosso bisavô Daniel, o tal que teve uma marcenaria e faliu seis anos depois da revolução de Abril. Dividiu pelos dois filhos o que lhe restou, algumas louças, roupa de cama e muitos livros, depois partiu para um lar de idosos, onde a segunda esposa morreu dois anos depois, cansada e envergonhada da falência, “nunca soube pegar a vida pelos cornos” como diz o avô.
A Nádia estava encantada:
— Adoro cinema e tem aqui filmes que já ouvi falar mas que nunca vi.
— Tens aqui, Claro que com o DVD, estas cassetes tornaram-se obsoletas. Ainda assim podes ver e rever, filmes há muito esquecidos, outros ultrapassados como dizem, mas eu não acredito, o cinema é intemporal, é uma questão de adaptarmos a história ao nosso tempo. Que fez Coppola e o argumentista Jonh Milius, ao escreveram o argumento para o “Apocalypse Now”? Foram buscar a celebre subida do Patna no rio Menam do” Lord Jim” de Conrad e contaram outra história. Depois, como podem estar ultrapassados filmes maravilhosos como: O Doutor Jivago; Laurence da Arábia; Uma Ponte Longe de mais; Era uma vez na América; Rio Bravo; Ladrões de bicicletas; Ben-Hur; Clube dos Poetas Mortos; West Side Story; Cinema Paraíso e Perfume de Mulher? Só para citar os onze melhores filmes de sempre, que o avô me mostrou (a eleição é dele, que nunca consegui tirar um para fazer o “Top 10”). Seja o género de filme que for, quem gosta de cinema como eu também gosto (deve ser de família) sabe apreciar um bom filme, numa boa sala de cinema, um ecrã gigante no escuro e com um bom som. Mas... também é bom, ao lado de uma boa companhia, num sofá confortável, com um bom copo ao lado, sabe bem!
— És muito tolo, estás a querer dizer alguma coisa? — Disse a Clarinha. Sabes Nádia, este menino é capaz de passar tardes a ver filmes, bem… às vezes não os vimos até ao fim…
— Sois muito malandros… Também, formam um par muito bonito e atenção, quero vir ao vosso casamento. — Ainda vais vir com teu namorado… Não digas, que com um palminho de rara dessas, não tens lá alguém à tua espera…
— Talvez, não digo que não. Mas mude-mos de assunto. Quanto ao cinema, onde é que a gente ia?
— Diz o meu pai que lá em Luanda, no célebre cinema ao ar livre “Miramar” era maravilhoso assistir a um filme de cerveja e cigarro na mão...
— É verdade, poucos cinemas cobertos há em Luanda. Num deles, no “Restauração”, minha avó Nini chegou a ver grandes espectáculos com cantores como: Nelson Ned, Percy Slide, Nilton César e tantos outros. Havia ainda o Teatro Avenida, onde ela trabalhou como arrumadora.
Depois de quase tudo visto e arrumado, desceram à sala onde eu fazia (que fazia) as palavras cruzadas.
— Então meninos gostaram do que viram?
— Parabéns avô. Tratasse de um belo espólio. Sempre que cá voltar quero dar mais uma “voltinha”.
— Sempre que quiseres, tens que tirar todo o tempo perdido… E tu Clarinha gostas-te?
— Muito Sr. Marcelo, esta parte da casa o seu neto nunca me tinha mostrado e há uns livros que quero muito ler.
— Podes levar e ler quando quiseres, os livros foram feitos para isso, seres desfolhados e lidos, nas estantes ficam tristes.
Fechei o jornal quando o Joel disse:
— Este cheirinho que vem da cozinha diz-me que está quase pronto o nosso almoço. Avó quer ajuda?
A Lara de avental e mangas arregaçadas surgiu à porta da cozinha:
— Vamos lá gente, hoje há “Frango com cerveja à minha moda”. O Almoço correu lindamente e ficou tudo combinado para domingo. A Lara leu o prospecto da Liga:
«A Caminhada Solidária com as Mulheres vítimas de Cancro da mama. Decorre no dia 16 de Junho, domingo, às 09h30, numa iniciativa promovida pelo Grupo de Voluntariado do Porto da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC), visando sensibilizar as mulheres para a prevenção da doença através do exercício físico.
As actividades iniciam-se com o levantamento do kit da caminhada, com o custo de 5€ que reverterá em favor da Liga, seguido de aquecimento físico. A partida será junto à Casa da Música, e a chegada ao Castelo do Queijo, está prevista para as 13h00». A Nádia e a Clarinha levam um saco com roupa e deixam no carro do Joel, para depois tomarem banho cá em casa e mudarem de roupa antes do almoço.
— A vossa avó pensa em tudo! Organização é o que é…
— É maravilhoso penetrar neste mundo. — Dizia o Joel — A biblioteca era muito maior, mas o meu avô desiludido com a falta de interesse do meu pai, ofereceu à Junta de Freguesia quase um milhar de livros para a biblioteca. Dos que ainda ficaram, já os li quase todos, mundos idealizados por grandes escritores, só quem não experimentou não sabe o que é esta sensação boa de sair do mundo por uns instantes; Estar num café de Londres a desenhar a Sally ao lado de Philip, na “Servidão Humana” de Somerset Maugham; Ou aprender com a Tehura a arte das caricias, nas belas ilhas do pacífico, nas “Três Sereias” de Irving Wallace; Que bom ter estado ao lado do tenente Krafft, na “Fábrica de Oficiais” do Kirst; Ou ter conhecido a Adriana na “Romana” de Moravia; Fazer parte de “Uma Família Inglesa” de Júlio Dinis e conhecer a Amélia do “Crime do Padre Amaro” do Eça; Ser o Homem do leme no “Mostrengo” de Fernando Pessoa, e o marinheiro no “Fado” de José Régio. Que bom é poder viver estas personagens com o prazer da leitura.
— Tem aqui contos escritos pelo avô? Vou ter que lê-los…
— Sim Nádia, eu dos que li, gostei muito de um dedicado a uma tal Alma Rosa, fadista da época, pela qual meus avós deviam ter um carinho muito especial. Gostei também da descrição que faz sobre a Exposição Mundial de Lisboa, a Expo/98, que deve ter sido fabulosa. Gostei também da descrição minuciosa sobre um cruzeiro (que nunca fizeram) ao Mediterrâneo. Há um conto que gosto em particular que tem o título de “Quando o ano fez anos”. Gostei muito de ler: “Á Janela do Fado”; “O Anjo Encarnado” e muitos, muitos poemas e letras de fado no “Fados & Silêncios”. Sabes que o avô escreveu mais de 350 letras de fado e mais de uma centena foram gravadas por diversos fadistas. Tens aí em K7’s, CD’s e até em vinil, quando quiseres ouvir…
— Tem aqui uma boa colecção de literatura erótica — Disse a Clarinha — Quero ler isto… O Joel brincou com ela:
— És muito tola… Mas sei que vais gostar. Tens aí livros da célebre escritora brasileira Cassandra Rios, que cá eram proibidos, assim como tudo que fosse pornográfico. Havia uma livraria na rua de Cedofeita (o Sérgio) que os mandava vir clandestinamente. O Avô guardou, alguns que ainda eram do nosso bisavô Daniel, o tal que teve uma marcenaria e faliu seis anos depois da revolução de Abril. Dividiu pelos dois filhos o que lhe restou, algumas louças, roupa de cama e muitos livros, depois partiu para um lar de idosos, onde a segunda esposa morreu dois anos depois, cansada e envergonhada da falência, “nunca soube pegar a vida pelos cornos” como diz o avô.
A Nádia estava encantada:
— Adoro cinema e tem aqui filmes que já ouvi falar mas que nunca vi.
— Tens aqui, Claro que com o DVD, estas cassetes tornaram-se obsoletas. Ainda assim podes ver e rever, filmes há muito esquecidos, outros ultrapassados como dizem, mas eu não acredito, o cinema é intemporal, é uma questão de adaptarmos a história ao nosso tempo. Que fez Coppola e o argumentista Jonh Milius, ao escreveram o argumento para o “Apocalypse Now”? Foram buscar a celebre subida do Patna no rio Menam do” Lord Jim” de Conrad e contaram outra história. Depois, como podem estar ultrapassados filmes maravilhosos como: O Doutor Jivago; Laurence da Arábia; Uma Ponte Longe de mais; Era uma vez na América; Rio Bravo; Ladrões de bicicletas; Ben-Hur; Clube dos Poetas Mortos; West Side Story; Cinema Paraíso e Perfume de Mulher? Só para citar os onze melhores filmes de sempre, que o avô me mostrou (a eleição é dele, que nunca consegui tirar um para fazer o “Top 10”). Seja o género de filme que for, quem gosta de cinema como eu também gosto (deve ser de família) sabe apreciar um bom filme, numa boa sala de cinema, um ecrã gigante no escuro e com um bom som. Mas... também é bom, ao lado de uma boa companhia, num sofá confortável, com um bom copo ao lado, sabe bem!
— És muito tolo, estás a querer dizer alguma coisa? — Disse a Clarinha. Sabes Nádia, este menino é capaz de passar tardes a ver filmes, bem… às vezes não os vimos até ao fim…
— Sois muito malandros… Também, formam um par muito bonito e atenção, quero vir ao vosso casamento. — Ainda vais vir com teu namorado… Não digas, que com um palminho de rara dessas, não tens lá alguém à tua espera…
— Talvez, não digo que não. Mas mude-mos de assunto. Quanto ao cinema, onde é que a gente ia?
— Diz o meu pai que lá em Luanda, no célebre cinema ao ar livre “Miramar” era maravilhoso assistir a um filme de cerveja e cigarro na mão...
— É verdade, poucos cinemas cobertos há em Luanda. Num deles, no “Restauração”, minha avó Nini chegou a ver grandes espectáculos com cantores como: Nelson Ned, Percy Slide, Nilton César e tantos outros. Havia ainda o Teatro Avenida, onde ela trabalhou como arrumadora.
Depois de quase tudo visto e arrumado, desceram à sala onde eu fazia (que fazia) as palavras cruzadas.
— Então meninos gostaram do que viram?
— Parabéns avô. Tratasse de um belo espólio. Sempre que cá voltar quero dar mais uma “voltinha”.
— Sempre que quiseres, tens que tirar todo o tempo perdido… E tu Clarinha gostas-te?
— Muito Sr. Marcelo, esta parte da casa o seu neto nunca me tinha mostrado e há uns livros que quero muito ler.
— Podes levar e ler quando quiseres, os livros foram feitos para isso, seres desfolhados e lidos, nas estantes ficam tristes.
Fechei o jornal quando o Joel disse:
— Este cheirinho que vem da cozinha diz-me que está quase pronto o nosso almoço. Avó quer ajuda?
A Lara de avental e mangas arregaçadas surgiu à porta da cozinha:
— Vamos lá gente, hoje há “Frango com cerveja à minha moda”. O Almoço correu lindamente e ficou tudo combinado para domingo. A Lara leu o prospecto da Liga:
«A Caminhada Solidária com as Mulheres vítimas de Cancro da mama. Decorre no dia 16 de Junho, domingo, às 09h30, numa iniciativa promovida pelo Grupo de Voluntariado do Porto da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC), visando sensibilizar as mulheres para a prevenção da doença através do exercício físico.
As actividades iniciam-se com o levantamento do kit da caminhada, com o custo de 5€ que reverterá em favor da Liga, seguido de aquecimento físico. A partida será junto à Casa da Música, e a chegada ao Castelo do Queijo, está prevista para as 13h00». A Nádia e a Clarinha levam um saco com roupa e deixam no carro do Joel, para depois tomarem banho cá em casa e mudarem de roupa antes do almoço.
— A vossa avó pensa em tudo! Organização é o que é…
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