terça-feira, 27 de outubro de 2020

CHÁVENA COM HISTÓRIA




 

CAPÍTULO 6




GUIMARÃES
 
“Em 1929, instalou-se a crise económica mundial, deu-se um desastre súbito do capitalismo, os preços das acções na Bolsa americanas, estavam muito acima do efectivo valor das empresas. O dinheiro então era desviado da produção para reforçar mais negócios com títulos de acções, ou seja para reforçar a especulação. Alguns economistas mundiais afirmavam que a economia americana estava super valorizada, pois os empréstimos dos bancos haviam saltado de 2 biliões de dólares (em 1926) para quase 7 biliões em Outubro de 1929. A depressão alastrou dos Estados Unidos para outros países no mundo e aqueles cujas economias dependiam muito da exportação das matérias-primas, viram a sua situação agravar-se, quando estes reduziram drasticamente as suas importações devido às dificuldades económicas e financeiras. Daí a acumulação de stocks ou a sua destruição para tentar evitar a contínua descida de preços. Estes países fornecedores de matérias-primas deixaram de ter por seu lado, capacidade financeira para adquirir produtos da Europa e dos EUA. O comércio mundial entrou deste modo, numa fase de grande depressão. O colapso deu-se no dia 24 de Outubro, quando a Bolsa de Valores de Nova York, caiu de maneira drástica, fazendo perder no mundo inteiro, milhões e milhões de dólares”. 
 
Em Portugal a crise foi notada de tal maneira, que abalou com a economia de centenas de empresas, que faliram e despejaram no desemprego milhares de trabalhadores. Alguns bancos que faliram e arrastando consigo muitas empresas. Um deles, foi o Banco de Braga que durou apenas 17 anos e arrastou consigo para o abismo muitas empresas do Minho, empresas que tinham apostado nos banco para o seu desenvolvimento, que tinham agora grandes responsabilidades em investimentos que fizeram a contar com os empréstimos, entre elas estava a Fábrica de Lanifícios de S. Tiago de Gesta. José de Medeiros não aguentou o desaire, era o caos, a desonrara e o fim de um sonho. Na Sexta-feira, 3 de Janeiro de 1930, o semanário “O Vimaranense”, trazia em primeira página esta notícia:
    
“Mais um empresário, destacado e muito querido desta terra, faleceu ontem às primeiras horas do dia. Trata-se do conceituado Industrial vimaranense, José Madeiros dos Santos, de 58 anos, que deixa três filhas. As autoridades suspeitam de um suicídio, causado pela crise económica que atravessamos e que tem levado centenas de empresas á falência. O funeral realiza-se amanhã, sábado dia 4, pelas 15h00, depois de exéquias na capela de Santa Barbara, onde se encontra depositado em câmara ardente, para ir a exumar em jazigo de família no cemitério de s. Tiagos. À família enlutada, os nossos sentidos pêsames”.
      
Acabava assim a vida de um homem, dum pai, dum empresário, dum honrado cidadão, da qual muitas vidas dependiam. O Dr. Orlando, advogado e amigo da família, tratou de informou a Cecília, que ela e as irmãs estavam salvaguardas com a pequena propriedade que o pai lhes deixara, uma vez que estava em nome dela como mais velha (a Cecília tinha agora 20 anos), de resto, o passivo da fábrica entre máquinas e propriedade, eram suficientes para saldar as dívidas à banca e a fornecedores. Leonor tinha 16 e a Noémia apenas 9 anos. A velha Joaquina já com quase 64, vivia com as meninas que tinha visto nascer, assim como tinha assistido, há 46 anos atrás, ao parto de Dona Cecília de Albuquerque, quando Dona Adelaide (mãe das meninas) veio à luz. 
Durante muito tempo ninguém entrou no escritório, até ao dia em que Joaquina resolveu dar uma arrumação à dependência. Escondeu bem o revólver que a polícia devolveu depois do incidente e tratou de limpar tudo, abriu as janelas para a divisão apanhar ar, mas as portas ainda continuaram por muito tempo encerradas. Noémia foi a que mais sentiu, por não compreender muito bem como tudo aconteceu, pois tinham-lhe poupado muitos dos pormenores daquele dia fatídico.
 

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