3º CAPITULO
A Constança, tal como a minha mulher e muitas outras, foram heroínas duma geração, como muitas que ficaram viúvas com a guerra ou sem os pais e irmãos. Pertenceram como nós à mesma condição, também andaram descalças ou de “chinelas”, inventando as suas bonecas de trapos com pouco tempo para brincar, porque eram obrigadas a serem adultas muito cedo. As crianças naquele tempo, mal acabavam o ensino primário, tinham que trabalhar para contribuir para o seu sustento. A vida era difícil e o regime fazia da pobreza uma coisa “linda”, como se (ser pobre) viver na miséria fosse bom. Até nas letras das canções se fazia a apologia da pobreza como por exemplo: “Uma Casa Portuguesa” onde se lê em algumas estrofes escritas pelo jornalista e poeta Reinaldo Ferreira:
A alegria da pobreza
Está nesta grande riqueza
De dar, e ficar contente
E um caldo verde, verdinho
A fumegar na tigela
Na década de 60, eu e minha mulher vivíamos pobres. Eram outros tempos, em que se ia preso por “enganar”, ou seja, desflorar uma rapariga. Pedimos dinheiro emprestado para casar, numa tarde de sábado de Março e chegamos a dormir numa casa emprestada, debaixo dumas escadas sem dinheiro para um colchão. Houve até um certo Natal, no princípio de vida, em que choramos e bebemos juntos, uma garrafa de vinho do porto antes de adormecer. Foram tempos difíceis, mas estivemos casados mais de 50 anos. Fomos muito felizes juntos, vivemos grandes noites de fado, demos grandes passeios, rimo-nos e saboreamos o prazer em muitas noites de amor.
Pertencemos aos chamados “Amigos de Alex”. Dançamos ao som das músicas do Roberto Carlos e dos tangos do Reinaldo Calheiros em bailes improvisados, de gira-discos em punho pelas garagens dos amigos. Andamos juntos num rancho folclórico e nas marchas da cidade no S. João. Não faltamos no Cinema do Terço à estreia da “Noiva” nem no Júlio Diniz para ver os filmes do Gianni Morandi. Nesse tempo, corríamos os cinemas do Porto e arredores que já não existem, como o Odeon, o Cine Vitória ou o Cine Ermesinde. As sessões eram baratas, mas claro, tinham muitos “cortes” feitos pela censura, por isso foi um escândalo, quando vimos a Romy Schneider nua no filme “A Piscina”. Outro escândalo, foi não nos deixarem entrar no Teatro S. João para ver o filme “Helga, o segredo da maternidade”, porque não tínhamos 21 anos, apesar de sermos casados e já com um filho. Mais tarde no filme de 1988 “Cinema Paraíso”, do realizador Giuseppe Tornatore, pude ver o estrago que a censura fazia nos países fascistas, cortando os “beijos” e outras cenas da fita para não vermos.
— Por favor, não leves a mal, eu faço muito gosto em pagar. Nádia, que adorava o jeitinho dele, semicerrava seus olhos lindos cor de avelã e dizia:
— Ok, só desta vez. Quando receber a bolsa pago-te.
Foi num destes encontros, que o Joel apresentou à Nádia a Clarinha, quando esta ia a caminho da instituição de crédito onde fazia estágio. Nesta empresa, fazia prospecção de mercado para um banco do Porto, onde seu pai o Leandro Guedes, tinha um cargo de destaque e que prometia empregar o Joel, mal este acabasse o curso. A Clarinha tinha acabado de se formar em direito. Era muito simples e doce. O Joel e Clarinha conheceram-se numa festa de casamento de uma amiga comum e já namoravam há dois anos. Pensavam em casar para o ano, mal tivessem a vida estável. Eu conhecia bem o seu pai de outros “carnavais”, mas isso agora não interessa para nada (como diz a outra).
Para comemorar o final de curso, a Nádia e o Joel escolheram, junto com outros condiscípulos finalistas, um passeio no Douro. E foi em 2014, depois da festa da queima e bênção das pastas, a que eu assisti a convite de meu neto, que embarcaram no “Douro Azul” rumo à cidade da Régua. Segundo ele me contou, foi uma viagem deliciosa. Ficou impressionado com a descida dos
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