sexta-feira, 16 de outubro de 2020

FADOCANTO E OUTROS FADOS




PARTE 8 (171 A 180)


171

SOU ASSIM 

Meu amor eu reconheço
Por vezes não te mereço
Pelo meu modo de ser
Os meus caprichos aturas
E nunca amor te saturas
Da maneira de eu viver
 
Sei que mereço castigo
De não ser tão teu amigo
Como tu és minha querida
Tu tens-me acompanhado
De mãos dadas lado a lado
Nas amarguras da vida
 
Os nossos filhos que amamos
E a muito custo criamos
São o orgulho sentido
Testemunhas de verdade
Das horas de felicidade
Que na vida temos tido
 
Fiz este fado p’ra ti
E as palavras que escrevi
Foi o meu peito a ditar
Eu sei que gostas de mim
Perdoa mas sou assim
É meu jeito de te amar 
 
 
 
Fado Três Bairros de: Casimiro Ramos 
 
 
 
Gravado em K7 por José Ferreira em 1989
Gravado em K7 por Albano Simões em 1993



172

SOU FELIZ ASSIM 

O meu Porto é um poema
Digo alto e sem acanhos
Eu sou tripeiro de gema
E meu berço foi Paranhos
 
Hoje passeio a memória
Dessa vida que se esvai
Pelas ruas da Vitória
Da infância que já lá vai
 
Depois conheci um dia
O amor e uma cabana
Com minha Rosa Maria
Uma linda alentejana
 
Cantando meu dia-a-dia
Eu vivo feliz assim
Divido minha alegria
Com o povo de onde vim
 
Eu sou tripeiro de gema
E amo a minha cidade
Meu amor é um poema
Que eu canto com vaidade 
 
 
 
Música de: Marante
 
 
 
Gravado em CD por Manuel Morais e Lurdes de Sousa em 2003


173

SOU FELIZ PORQUE MINTO 

Escondido vou chorando
As mágoas que vou guardando
Sufocadas em meu peito
Eu sou feliz porque minto
Em não dizer o que sinto
Deste meu amor desfeito
 
Assim não conto a ninguém
A minha angustia, porem
Desabafar eu pudesse
De felicidade aparente
Vive também muita gente
Quando o amor esmorece
 
Se ela me compreendesse
E a esp’rança renascesse
Meu amor ia voltar
Vou vivendo esta loucura
Resistindo n’amargura
De cantar p’ra não chorar 
 
 
 
Fado Porto de José Joaquim Cavalheiro Júnior 
 
 
 
 
Criação de Fernando Teixeira  em 1995




174

O TAL VENTO 

Na vida há sempre um momento
Que partimos com o vento
Para nunca mais voltar
Muitas vezes nem há tempo
Para um adeus um lamento
Quem fica, fica a chorar
 
De vida minh’alma arde
Mas antes que seja tarde
Com o sentir mais profundo
Vou dizer a quem quiser
Que tu foste a mulher
Que mais amei neste mundo
 
De tudo que tenho escrito
O poema mais bonito
Foste tu que o fizeste
Quando teus olhos disseram
Que me amavam e me deram
O corpo que tu me deste
 
Tanta coisa por fazer
Fica tanto por dizer
Quando vem esse tal vento
Eu fui feliz por te amar
Agora posso esperar
Por ele a qualquer momento 
 
 
 
Fado Três Bairros de: Casimiro Ramos 
 
 
 
Criação de Manuel Barbosa em 2000  



175

TANTO P’RA TE DIZER 

Tenho tanta coisa p’ra te dizer
Contar-te os sonhos que tenho tido
E quanta amargura ando a sofrer
De nunca meu amor estar contigo
 
Dizer-te como dói esta tortura
De amar-te tanto e não te ter
Saber que tudo é uma loucura
Mas não desistir de a viver
 
Dizer-te como adoro o teu olhar
Que por ti eu morro de desejo
Teu sorriso tua boca teu beijar
Que minha sede mata num só beijo
 
Dizer-te como és linda e me fascinas
E não me importar nada quem tu sejas
Que para ser feliz nem imaginas
Bastava eu saber que me desejas 
 
 
 
Fado Latino de: Miguel Ramos
 
 
 
Criação de José Ferreira em 2001


176

TANTO TEMPO QUE GASTEI 

Gastei meu tempo á procura
Dum modo de ser feliz
Mas p’ra minha desventura
O meu destino não quis
 
Desgostos, tive que chegue
Pelo tanto amor que dei
Dou até por mal empregue
Todo o tempo que gastei
 
Perdoei tantas maldades
E tantos sonhos desfiz
Que hoje tenho saudades
De sonhar qu’era feliz
 
Ainda o melhor tormento
Que a mim mais me revolta
É saber que esse tempo
Perdido nunca mais volta 
 
 
 
Fado Menor do Porto de: José Joaquim Cavalheiro Júnior 
 
 
 
Gravado em CD por Laura Santos em 2006


177

TANTOS NÃOS

 

Cravei as unhas nas mãos
E de raiva me contive
Farto de ouvir tantos nãos
Por um sim que nunca tive
 
De tantas coisas perdidas
E d’ilusões já desfeitas
Só me restam as feridas
De tantas batalhas feitas
 
Trataram-me por lacaio
Como se fosse indigente
E olharam-me de soslaio
Como s’eu não fosse gente
 
Amizades não ganhei
Não por amigos não ter
Eu desses desconfiei
P’la a amizade nunca ver
 
Retirei-me então discreto
Para um cantinho isolado
E vivo assim por decreto
Neste pais adiado 
 
Fado Menor de: Popular  
 
Criação de Manuel Russo em 2008



178

TEUS OLHOS DE AVELÃ

 

Nessa viela sombria
Que a Lua vai espreitar
Ando eu de noite e dia
Perdido p’ra te encontrar
 
Ando mesmo enfeitiçado
Por teus olhos de avelã
Nesse castanho dourado
Vive o Sol da manhã
 
Pedi a Lua que ela
Te guardasse noite fora
Pois sei que nessa viela
Há fado a toda a hora
 
Teu xaile bordado a prata
Nessa viela reluz
A tua sombra me mata
O teu fado me seduz
 
Senhora guia meus passos
Minha Senhora da Guia
Quero tê-la nos meus braços
Nessa viela sombria 
 
 
 
Fado Lopes de: José Lopes  
 
 
Criação de Lima Querido em 1989



179

TRAGO PALAVRAS COMIGO

 

Trago palavras guardadas
Á muito para te dizer
No meu peito sufocadas
Algumas delas tiradas
De poemas por fazer
Palavras que traz o vento
Doem muito e tanto assim
Que vivo agora o momento
De pensar q’houve um momento
Que te esqueceste de mim
 
Trago palavras também
Enfeitadas de alecrim
Para dar a minha mãe
Esse amor e doce bem
Nunca se esquece de mim
 
E das palavras que trago
Algumas andam comigo
Neste coração de vago
A procura de um afago
À procura dum abrigo
 
 
 
Fado Maria Vitória de: Alves Coelho 
 
 
 
Criação de Joaquim Brandão em 2004


 

180

TRAZEMOS 

 

Eu trago no meu cantar
O sentir mais profundo
Poemas e doçura
Das palavras que me diz
Ele traz para me dar
Seus braços o meu mundo
Nos olhos a ternura
A razão d’eu ser feliz
 
Eu trago no meu olhar
Um monte de desejos
E guardo estes segredos
Para ele desvendar
Ele traz para me dar
Os afagos e seus beijos
E na ponta dos dedos
Prazeres de arrepiar
 
Eu trago no meu peito
O fado que vos canto
E faço rimar depois
Este amor como tema
Ele traz o seu jeito
D’amar que eu gosto tanto
E Deus traz-nos aos dois
A vida num poema 
 
 
 
Fado Noquinhas de: Fernando Freitas 
 
 
 
Gravado em CD por Filomena Sousa em 2004

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