FADO
É tão bom este pasmo
Este prazer
este orgasmo
De ouvir um
fado, mas um fado!
Bem sentido,
bem cantado
Que deixa a
alma voar
Que deixa o
corpo a vibrar
Pelas
palavras levado
Em guitarras
pendurado
Depois vem o
arrepio
Dum calor
cheio de frio
Dos pelos que
se levantam
Do sangue que
as veias cantam
Porque o fado
quando é fado
Faz-nos olhar
para dentro
E ver de novo
outra vez
Como é bom
ser português.
FADOCANTO
Trago fado no peito como alento
Junto ás
minhas coisas mais secretas
Dou-lhe a
minha voz cantando ao vento
Palavras mais
sentidas dos poetas
Foi fado meu
nascer ó minha mãe
Foi fado
amores que tive e vi morrer
É fado o meu
viver sem ter ninguém
Será fado o
meu fim quando vier
Meu modo de
cantar este meu jeito
Nasceu comigo
numa tarde calma
Por isso
trago fado no meu peito
E canto
quando a dor m’invade a alma
É fado a
minha voz que por encanto
Te leva esta
mensagem plangente
É fado este
sentir que t’amo tanto
E dizê-lo
cantando a toda a gente.
GESTOS DE FADO
É a vela que se acende
É o silêncio
qu’é chamado
É a Gina que
se benze
Quando vai
cantar o fado
E as
guitarras encantam
Neste fado
que é feitiço
As mãos da
Lídia cantam
E ninguém
repara nisso
Vem a noite,
vem a ceia
E vem o fado
dos loucos
E o corpo da
Aida ondeia
Mas reparam
muito poucos
Depois o fado
comanda
Nossa dor,
nossa emoção
Mas no rosto
da Fernanda
Ninguém vê
sua expressão
São gestos
que o fado tem
Devem vê-los
com atenção
Fechar os
olhos, está bem
Mas… Abram o
coração.
MEU FADO, MEU AMOR
Hás-de ir
comigo ao fado
Hás-de sentir
seu bailado
Seu encanto e
esplendor
Quero que
saibas amor
Que digam o
que disserem
Quando as
velas se acenderem
E ouvires o
fado em silêncio
Vais saber
que te pertenço.
Quero que
ouças trinados
Das guitarras
nos meus fados
Dos poemas
que te fiz
Quero
fazer-te feliz
E pegar na
tua mão
Pousar nela o
coração
E dizer-te
que meu fado
Vive em ti
quando te beijo
Cantá-lo é
meu pecado
Amar-te é meu
desejo.
TEU FADO
Quando as pombas dos teus olhos
Vieram nos
meus pousar
Trouxeram
ternura aos molhos
E desejos por
desvendar.
Depois vi no
teu sorriso
Um Sol como
nunca vi
E nada mais
foi preciso
Para ficar
louco por ti.
Quando teu
corpo ondulou
Em melodias
de mar
Senti que o
meu se afogou
Em sonhos por
inventar.
Em teus
gestos vi bailados
Que traduzem
sentimentos
São carícias
nos teus fados
Mas para mim
são tormentos.
MARIA DO DOURO
Bonita de cor trigueira
Tem nos
braços a canseira
Duma vindima
do Douro
Tem no corpo
o movimento
De danças
feitas ao vento
Num campo de
milho louro
Maria do
Douro
Tu és o
tesouro que ainda me resta
É doce teu
vinho
Que alegra o
povinho em dias de festa
Na terra que
amanhas
Na luta que
ganhas o pão do teu dia
É teu esse
chão
E queiras ou
não és D’ouro Maria
Nascida em
terras de lendas
Na arca que
guarda as rendas
Vive uma
moira encantada
E nos
cantaréus que canta
Anda uma
alegria santa
A ponto de
cruz bordada.
VERSO À MINHA MÃE
Se pudesses
cá voltar
Tenho tanta
coisa, tanta
Minha mãe
p’ra te contar
Por troca de
ti, conheci
N ávida o
amor d’
Não me
compensa de ti
Mas sou feliz
minha mãe
Dos filhos
tenho meiguices
P’ra
compensar teus afectos
Ò minha mãe
se tu visses
Que lindos
são os teus netos
E se vires
meu pai também
Num canto
desse jardim
Diz-lhe que
vai tudo bem
E dá-lhe um
beijo por mim.
ESTE MEU AMOR SECRETO
Este meu amor secreto
Vive tão
longe e tão perto
Faz minha
vida em pedaços
Mas de tão
lindo e profundo
Eu sinto que
tenho o mundo
Quando estou
nos seus braços
Um dia se não
a vejo
A saudade e o
desejo
Vão crescendo
no meu peito
Eu vivo nesta
ansiedade
E esta cumplicidade
Traz minha
vida em pedaços
Seu beijo é a
bebida
Que sacia a
minha vida
Na sede do
meu afecto
É tão doce e
sublime
Que de tão
puro redime
Este meu amor
secreto.
PALAVRAS PARA TI
Há palavras por nascer
No meio do
labirinto
Dos poemas
que te fiz
Saudade? Eu
sei dizer
Mas não
define o que sinto
Quando me
sinto infeliz
Em sonhos
veio palavras
Carregadas de
emoção
Que gostava
de cantar
Vejo
redondas, quadradas
E em forma de
coração
Mas que não
sei soletrar
Com palavras
de outras castas
Ando a tentar
inventar
Algumas p’ra
te dizer
Muitas delas
estão gastas
Já rompi o
verbo amar
Por tanto,
tanto te querer.
UM CESTO DE FRUTA
Só ela lê em minh’alma e tanto assim
Que sou dela
e mesmo que não fosse
Sabe do que
eu mais gosto e é p’ra mim
Um cesto de
fruta fresca e doce
Seus lábios
vermelhos são morangos
A boca sabe a
chá de framboesa
Foi buscar
seu andar a belos tangos
E as maçãs no
rosto são beleza
Seus olhos
são amoras dessas negras
Calmos e
brilhantes como lagos
Que na hora
d’amar não têm regras
Deleitam-se
em ternuras e afagos
Corpo de
canela e mãos sedentas
Sinto mel na
boca se me beija
Nos seios tem
cerejas suculentas
Que minha
boca adora e mais deseja.
MUITOS MEDOS, OUTROS PASSOS
Há muito que meu anseio
Era ter-te
nos meus braços
Mas sempre
havia pelo meio
Muitos medos,
outros passos.
Até que um
dia vieste
Como quem vem
p’ra se dar
E lembro que
até trouxeste
Olhos tristes
de chorar.
Amei-te como
quem tem
Um desejo
acumulado
Beijei-te
como quem vem
Das galeras
degredado.
Nos teus
olhos vi o brilho
De quem é
feliz agora
Mesmo saindo
do trilho
Quem é feliz
já não chora.
MEU AMOR E O VENTO
Nada nem ninguém pode entender
O que me vai
na alma no momento
Só eu a
conheço e ando a viver
Este amor
inconstante como o vento
Trouxe à
minha vida a tempestade
E a chuva a
meus olhos tanta vez
Mas sem ela
na vida sou metade
E na minha
loucura é lucidez
Quando vier o
frio e me gelar
Os lábios da
boca que a beijou
Em gavetas
vão decerto encontrar
Poemas seus
que o vento não levou
MEU AMOR MEU POEMA
Quero dormir em teus braços
És colo dos
meus cansaços
Poema que eu
concebi
Aproveitar
este ensejo
E
confessar-te num beijo
Que gosto,
que gosto muito de ti
Ninguém me
conte a verdade
Dizendo que a
felicidade
Não passa
duma expressão
Antes viver
na utopia
Num mundo de
poesia
Que perder
essa ilusão
Quero que
sejas meu fado
Todo a rimas
bordado
Com linhas feitas
de luz
Que tenha
alma e me diga
Muito mais que
uma cantiga
Na tua voz
que o traduz
Quando a
tristeza vier
Chamo-te
minha mulher
Para fazeres
amor comigo
Num incesto
mais que louco
Vou fazendo pouco a pouco
Este poema
contigo
SE EU PUDESSE
Se eu pudesse, ah se eu pudesse!
Levava-te comigo
pela mão
Quisesse o
mundo ou não quisesse
Eu fazia a
vontade ao coração
Partia porque
o povo não entende
Deixava tudo
e todos para trás
Aqui nunca
ninguém nos compreende
E assim,
nunca mais teremos paz
Juntos em
cada gesto, em cada beijo
O mundo
inteiro era todo nosso
Saciava esta
sede de desejo
Pudesse meu
amor, mas eu não posso!
SE EU VIER
Se o vento me levar para teus braços
Deixa pousar meu rosto no teu peito
Porque a todas as horas os meus passos
Te levam este amor mais que presente
Se a noite à minha porta for bater
Abre meu amor que eu quero entrar
O frio da saudade faz doer
Viver longe de ti faz-me chorar
Se sentires no corpo a Lua amada
Despertar em desejos de ternura
Manda-me chamar pela madrugada
Convida-me a viver essa loucura
Se ao romper d’aurora o Sol vier
E encontrar unidas nossas bocas
Ele que se esconda se quiser
Ou faça do que ouvir orelhas moucas
MEU SONHO DESFEITO
Eu já te
tinha encontrado
Muito antes
do destino
Já vivias a
meu lado
No meu sonho
de menino
O teu modo de
beijar
É tal qual o
que pensei
O brilho do
teu olhar
Foi assim que
imaginei
O teu corpo
meu amor
Desenhei-o a
finos traços
Senti-lhe a
alma o calor
Ao moldá-lo
nos meus braços
Eras meu
sonho perfeito
A mulher que eu
sempre quis
Hoje és um
sonho desfeito
E eu? não
consigo ser feliz
VIVES NO MEU PENSAMENTO
Não me sais do pensamento
Tu andas
sempre comigo
A cada hora e
momento
Meu amor,
falo contigo
Para te ver a
fingir
Basta meus
olhos fechar
E tu lá vens
a sorrir
À minha mente
a brincar
À noite sonho
contigo
E adormeço
num beijo
Mas durmo
p’ra meu castigo
Num sono
feito desejo
E quando me
ponho a pé
Lá começa o
meu tormento
Um beijo sabe
a café
Não me sais
do pensamento
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