PARTE15 (141 A 150)
141
OS GANAPOS
Onde estão esses
ganapos
Ases da bola
de trapos
E campeões da
sameira
Onde estão
esses heróis
Que brincavam
aos cow-bois
Com pistolas
de madeira
Onde pára a
miudagem
Esses putos
de coragem
Com quem
cresci minha mãe
Descalços
pisaram terra
Mais tarde
foram à guerra
Mas fizeram
paz também
Que é feito
dessa malta
Que às vezes
faz tanta falta
P’ra recordar
o passado
Deus os
guarde com saúde
Não lhes
falte a juventude
Seja qual for
o seu fado
Fado Marcha do Marceneiro de: Alfredo Marceneiro
Criação de Manuel Bessa em 1992
142
O OUTONO DA VIDA
Quando é
Primavera é ser menino
Depois vem o
Verão da mocidade
Os anos
passam bem devagarinho
São duas
estações sem ter idade
Mas quando
vem Outubro a folha cai
O Outono da
vida vai chegar
É o vigor e a
vida que se esvai
Os netos são
rebentos para amar
Vestido com
seu frio e alvo manto
Lá chega o
Inverno para findar
A saudade põe
cabelos brancos
E há sempre
uma história p’ra contar
São as
quatros estações que a vida tem
Para
passarmos todos neste mundo
O que importa
vivê-las mal ou bem
O sentido da
vida e mais profundo
Fado Licas de: Armando
Machado
Criação de Fernando Cunha em 1992
143
PALAVRAS DO MEU FADO
Vem nas
palavras que canto
O jeito de
m’exprimir
No fado que
gosto tanto
Vai meu modo
de cantar
Ouvindo vão
compreender
A’legria ou o
lamento
Que o poeta
ao escrever
Lançou nas
asas do vento
São palavras
mais sentidas
De quem sabe
o mundo amar
Levam rimas
prometidas
P’ra eu
cantar
Palavras
lindas as vezes setas
Louvando a
paz negando a guerra
Mas cantarei
sempre os poetas
Da minha
terra
São palavras
com beleza
As que nos
falam d’amor
Quantas vezes
são tristeza
Feitas de
saudade e dor
Todas
juntinhas num tema
Pintura bela
dum quadro
Que formam
este poema
Que cabe
neste meu fado
Fado “Sinas Trocadas”
de: João Alberto
Criação de António Tavares em 1991
144
PALAVRAS PARA TI
Há
palavras por nascer
No
meio do labirinto
Dos
poemas que te fiz
Saudades,
eu sei dizer
Mas
não define o que sinto
Quando
me sinto infeliz
Em sonhos
vejo palavras
Carregadas
de emoção
Que gostava
de cantar
Vejo-as
redondas, quadradas
E em forma de
coração
Mas que não
sei soletrar
Com
palavras doutras castas
Ando
a tentar inventar
Algumas para
te dizer
Muitas delas
estão gastas
Já rompi o
verbo amar
Por tanto
amor te querer
Fado Cravo de: Alfredo
Marceneiro
Criação de Jorge Miguel no Youtube em
2017
145
PARA MIM O FADO É FIXE
Na escola a
malta é danada
Diz que fado
é pirosice
Eu posso
estar enganada
Mas acho que
o fado é fixe
Ajuda-me a
extravasar
O meu sentir
e me acalma
Só quando
estou a cantar
Digo o que me
vai na alma
A Malta não
se comporta
Diz que o
fado é uma chatice
Eu não ligo
não m’ímporta
Para mim o
fado é fixe
Não me sai cá
da carola
As influências
que tive
Um pai que
toca viola
Neste fado
qu’em mim vive
E por destino
ou feitiço
Eu canto com
garridice
Ninguém tem
nada com isso
Para mim o
fado é fixe
Fado Lopes de: José
Lopes
Criação de Mafalda Rocha em 2006
146
PASSEIAS NOS MEUS SONHOS
Passas as
noites comigo
A passear nos
meus sonhos
Sozinho p’ra
meu castigo
Eu passo os
dias medonhos
Ai quem me
dera poder
Nas horas que
o dia tem
Dormir sonhar
p’ra te ter
Presa a meus
sonhos também
Tudo isto é a
saudade
Do teu corpo dos
teus beijos
E creio nessa
verdade
Sonhos
traduzem desejos
O dia é meu
inimigo
Só te tenho
noite fora
De noite
sonho contigo
Vem a manhã,
vais-te embora
Fado Rosita de: Joaquim
Campos (Eduardo Alípio)
Fado Pajem de: Alfredo
Marceneiro (Fernanda Moreira
Criação de Eduardo Alípio em 1989
Gravado por Fernanda Moreira em 2019
147
POEMA AMARROTADO
Não quero que
ninguém veja
Se eu tiver
que chorar
Por aí em
qualquer lado
E proíbo quem
quer que seja
Que me vá
considerar
Um poema amarrotado
Claro que ás
vezes sinto
A saudade do
passado
Que não sai
da minha frente
Mas como ao
fado não minto
Quero cantar
este fado
E ser feliz
no presente
Vou guardar
dentro do peito
O amor qu’eu
mais queria
Para rimar a
meu lado
Perdoem este
meu jeito
Mas é qu’eu
já não podia
Guardar p’ra
mim este fado
Fado Carlos da Maia de: Carlos da Maia
Gravado
em CD por Julieta Ribeiro em 2006
148
P’RA QUEM CANTA DE QUEM SENTE
Pôr na boca
de quem canta
As palavras
de quem sente
É pôr um nó
na garganta
Na alma da
nossa gente
É pôr saudade
no peito
Desse tempo
já passado
É pôr no
corpo este jeito
Que tenho
cantando o fado
É dizer,
cantar palavras
Vestidas de
sentimento
Sem algemas
nem amarras
Com a ternura
por dentro
É soltar a
voz ao vento
Numa noite já
cansado
É chorar
d’amor por dentro
E confessá-lo
num fado
Fado Carriche de: Raul
Ferrão
Criação de Manuel Bessa em
1992
149
PRAGAS QUE ROGARAM
Perguntei a
madrugada
S’alguma alma
danada
A minha porta
rondou
Minha vida
anda sem norte
Por feitiço
ou ma sorte
Alguém sal me
atirou
Perguntei
também a Lua
Se viu andar
lá na rua
Coisa ruim ou
ma olhado
Há gentinha
malfazeja
Que por
cobiça ou inveja
Anda a tolher
o meu fado
Vou pôr
amuleto ao peito
O agoiro será
desfeito
E o quebranto
quebrado
E quem pragas
me rogou
Vai ver então
que falhou
E vou
encontrar o meu fado
Fado Porto de: José
Joaquim Cavalheiro Júnior
Criação de Carlos Reis em 1995
150
QUANDO A SÉ DESCE A
AVENIDA
RUSGA DA SÉ / 2011
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