sexta-feira, 16 de outubro de 2020

FADOCANTO E OUTROS FADOS




PARTE15 (141 A 150)


141

OS GANAPOS 

Onde estão esses ganapos
Ases da bola de trapos
E campeões da sameira
Onde estão esses heróis
Que brincavam aos cow-bois
Com pistolas de madeira
 
Onde pára a miudagem
Esses putos de coragem
Com quem cresci minha mãe
Descalços pisaram terra
Mais tarde foram à guerra
Mas fizeram paz também
 
Que é feito dessa malta
Que às vezes faz tanta falta
P’ra recordar o passado
Deus os guarde com saúde
Não lhes falte a juventude
Seja qual for o seu fado 
 
 
 
Fado Marcha do Marceneiro de: Alfredo Marceneiro 
 
 
 
Criação de Manuel Bessa em 1992


142

O OUTONO DA VIDA 

Quando é Primavera é ser menino
Depois vem o Verão da mocidade
Os anos passam bem devagarinho
São duas estações sem ter idade
 
Mas quando vem Outubro a folha cai
O Outono da vida vai chegar
É o vigor e a vida que se esvai
Os netos são rebentos para amar
 
Vestido com seu frio e alvo manto
Lá chega o Inverno para findar
A saudade põe cabelos brancos
E há sempre uma história p’ra contar
 
São as quatros estações que a vida tem
Para passarmos todos neste mundo
O que importa vivê-las mal ou bem
O sentido da vida e mais profundo 
 
 
 
Fado Licas de: Armando Machado 
 
 
 
Criação de Fernando Cunha em 1992


143

PALAVRAS DO MEU FADO 

Vem nas palavras que canto
O jeito de m’exprimir
No fado que gosto tanto
Vai meu modo de cantar
Ouvindo vão compreender
A’legria ou o lamento
Que o poeta ao escrever
Lançou nas asas do vento
            
São palavras mais sentidas
De quem sabe o mundo amar
Levam rimas prometidas
P’ra eu cantar
Palavras lindas as vezes setas
Louvando a paz negando a guerra
Mas cantarei sempre os poetas
Da minha terra
 
São palavras com beleza
As que nos falam d’amor
Quantas vezes são tristeza
Feitas de saudade e dor
Todas juntinhas num tema
Pintura bela dum quadro
Que formam este poema
Que cabe neste meu fado 
 
 
 
Fado “Sinas Trocadas” de: João Alberto 
 
 
 
Criação de António Tavares em 1991


144

PALAVRAS PARA TI 

Há palavras por nascer
No meio do labirinto
Dos poemas que te fiz
Saudades, eu sei dizer
Mas não define o que sinto
Quando me sinto infeliz
 
Em sonhos vejo palavras
Carregadas de emoção
Que gostava de cantar
Vejo-as redondas, quadradas
E em forma de coração
Mas que não sei soletrar
 
Com palavras doutras castas
Ando a tentar inventar
Algumas para te dizer
Muitas delas estão gastas
Já rompi o verbo amar
Por tanto amor te querer 
 
 
 
Fado Cravo de: Alfredo Marceneiro 
 
 
 
Criação de Jorge Miguel no Youtube em 2017


145

PARA MIM O FADO É FIXE 

Na escola a malta é danada
Diz que fado é pirosice 
Eu posso estar enganada
Mas acho que o fado é fixe
 
Ajuda-me a extravasar
O meu sentir e me acalma
Só quando estou a cantar
Digo o que me vai na alma
 
A Malta não se comporta
Diz que o fado é uma chatice
Eu não ligo não m’ímporta
Para mim o fado é fixe
 
Não me sai cá da carola
As influências que tive
Um pai que toca viola
Neste fado qu’em mim vive
 
E por destino ou feitiço
Eu canto com garridice
Ninguém tem nada com isso
Para mim o fado é fixe 
 
 
 
Fado Lopes de: José Lopes 
 
 
 
Criação de Mafalda Rocha em 2006


146

PASSEIAS NOS MEUS SONHOS 

Passas as noites comigo
A passear nos meus sonhos
Sozinho p’ra meu castigo
Eu passo os dias medonhos
 
Ai quem me dera poder
Nas horas que o dia tem
Dormir sonhar p’ra te ter
Presa a meus sonhos também
 
Tudo isto é a saudade
Do teu corpo dos teus beijos
E creio nessa verdade
Sonhos traduzem desejos
 
O dia é meu inimigo
Só te tenho noite fora
De noite sonho contigo
Vem a manhã, vais-te embora 
 
 
 
Fado Rosita de: Joaquim Campos (Eduardo Alípio)
Fado Pajem de: Alfredo Marceneiro (Fernanda Moreira 
 
 
 
Criação de Eduardo Alípio em 1989
Gravado por Fernanda Moreira em 2019


147

POEMA AMARROTADO 

Não quero que ninguém veja
Se eu tiver que chorar
Por aí em qualquer lado
E proíbo quem quer que seja
Que me vá considerar
Um poema amarrotado
 
Claro que ás vezes sinto
A saudade do passado
Que não sai da minha frente
Mas como ao fado não minto
Quero cantar este fado
E ser feliz no presente
 
Vou guardar dentro do peito
O amor qu’eu mais queria
Para rimar a meu lado
Perdoem este meu jeito
Mas é qu’eu já não podia
Guardar p’ra mim este fado
 
 
 
Fado Carlos da Maia de: Carlos da Maia 
 
 
 
Gravado em CD por Julieta Ribeiro em 2006


148

P’RA QUEM CANTA DE QUEM SENTE 

Pôr na boca de quem canta
As palavras de quem sente
É pôr um nó na garganta
Na alma da nossa gente
 
É pôr saudade no peito
Desse tempo já passado
É pôr no corpo este jeito
Que tenho cantando o fado
 
É dizer, cantar palavras
Vestidas de sentimento
Sem algemas nem amarras
Com a ternura por dentro
 
É soltar a voz ao vento
Numa noite já cansado
É chorar d’amor por dentro
E confessá-lo num fado
 
 
 
Fado Carriche de: Raul Ferrão 
 
 
 
Criação de Manuel Bessa em 1992


149

PRAGAS QUE ROGARAM 

 

Perguntei a madrugada
S’alguma alma danada
A minha porta rondou
Minha vida anda sem norte
Por feitiço ou ma sorte
Alguém sal me atirou
 
Perguntei também a Lua
Se viu andar lá na rua
Coisa ruim ou ma olhado
Há gentinha malfazeja
Que por cobiça ou inveja
Anda a tolher o meu fado
 
Vou pôr amuleto ao peito
O agoiro será desfeito
E o quebranto quebrado
E quem pragas me rogou
Vai ver então que falhou
E vou encontrar o meu fado 
 
 
 
Fado Porto de: José Joaquim Cavalheiro Júnior 
 
 
 
Criação de Carlos Reis em 1995 



150

QUANDO A SÉ DESCE A AVENIDA

RUSGA DA SÉ / 2011

 

Quando a Sé desce a avenida
É sempre a mesma atrevida
Com sua graça brejeira
Traz consigo o S. João
Vem de ramalho e balão
P’ra reinar a noite inteira
 
Quando a Sé desce a avenida
Traz mais festa, traz mais vida
A este burgo tripeiro
Traz o cheiro de camélias
Traz o orvalho com elas
E faz do Porto um canteiro
 
Temos joias de feição
E trazemos com vaidade
O Teatro S. João
E o Arco das Verdades
A Muralha, a catedral
São outras preciosidades
Deste bairro sem igual
 
 
 
Música e gravação em CD de: Marco Alves 
 
 
 
1º Classificada nas Rusgas de S. João do Porto                                                                 

Sem comentários:

Enviar um comentário

ENQUANTO ME LEMBRO...