sexta-feira, 16 de outubro de 2020

FADOCANTO E OUTROS FADOS



PARTE 7  (161 A 170)



161 

SEI QUEM SOU 

Permitam que m’apresente
P’ra quem não sabe quem sou
Sou igual a toda a gente
E com todos eu me dou
 
Sei meu caminho de cor
Deram-me logo ao nascer
Pode não ser o melhor
Mas não fui o pude escolher
 
Separei joio do trigo
Porque a’amizade compensa
Sei o que vale um amigo
Quando a vida traz descrença
 
Não tive as mulheres que quis
Mas conquistei as mais belas
Fui tantas vezes feliz
Que guardo saudades delas
 
Homem de bem sempre cabe
Neste mundo em qualquer lado
Já me conhece quem sabe
Como sinto e canto o fado
 
                                                
 
Fado Carriche de: Raul Ferrão 
 
 
 
Criação de António Gonçalves  em  2014


162

SENHORA DO CAMPOLINDO 

Nunca vi assim um rosto
Tão perfeitinho tão lindo
Que vi em tarde d’ Agosto
Na festa do Campolindo
 
Mãos postas em comunhão
Irradiando virtude
Passava na procissão
Da Senhora da saúde
 
A senhora de Paranhos
Hei-de pedir p’ra me dar
Aqueles olhos tamanhos
Tão verdes da cor do mar
 
Hei-de tê-la nos meus braços
A mulher do rosto lindo
E vou seguir os seus passos
P’la festa do Campolindo
 
 
 
Fado Carriche de: Raul Ferrão
 
 
 
Criação de Joaquim Duarte em 1990
Canta João Silva em 2016


163

SENHORA DOS CAMINHOS 

Fui acender uma vela
Lá na velhinha capela
Da senhora dos caminhos
P’ra que guiasse teus passos
Para juntos dos meus braços
E me desse os teus carinhos
 
Fui também pedir a virgem
P’ra ser mentira o que dizem
Que tu tens outra mulher
Eu não posso suportar
Andares a desperdiçar
Beijos com outra qualquer
 
Por isso fui a capela
Par acender uma vela
Chorei, rezei mas porem
Fui também pedir a Deus
Que teus beijos fossem meus
Só meus de mais ninguém 
 
 
 
Fado Georgino de: Georgino de sousa 
 
 
 
Criação de Albina Teixeira em 1989



164

SENTIR DO FADO 

O fado não se aprende, não se ensina
É algo que já vem dentro de nós
É nosso destino, é a sina
Trazer o coração perto da voz
 
Mal a guitarra trina o peito sente
Uma leve sensação que faz vibrar
E cresce o fado então dentro da gente
Qu’alguém que tanto amamos faz lembrar
 
Depois vem na voz com que se canta
A raça do meu povo em qualquer lado
Surge a alma inteira na garganta
E o sangue nas veias vira fado
 
Canta-se o amor e a saudade
Que magoa a gente tanta vez
Quando a nostalgia nos invade
Sentimos qu’o fado é bem português
 
 
 
Fado Licas de: Armando Machado 
 
 
 
Gravado em CD por António Passos em 1994
Regravado em 2001



165

SÓ PORQUE ÉS IMPORTANTE 

 

Por verdade que pareça
Talvez eu não te mereça
Por seres pessoa importante
Só não sei porque pudeste
Sugerir como fizeste
P’ra que eu fosse tua amante
 
Se ao fim de tanto tempo
Dizes apenas lamento
Porque agora vais casar
Julgas ser impunemente
Que se ama loucamente
P’ra de repente acabar
 
E tudo porque encontraste
Alguém que nunca gostaste
Mas da tua condição
E assim sem consciência
Casas por conveniência
Enganando o coração
 
E verdade e tanto assim
Que ainda gostas de mim
Só não gostas como eu
Essa mulher d’alta roda
E rica veste na moda
Mas não vale um dedo meu 
 
 
 
Fado Perseguição de: Carlos da Maia 
                                 
 
 
Criação de América Rosa em 1993


166

SONHAR O MUNDO 

Ai quem me dera poder
Fazer um mundo melhor
Onde a paz e o amor
Fossem lema da humanidade
Onde a palavra verdade
Não causa-se tanta dor
 
Ai se eu pudesse fazer
Um mundo sem haver fome
Sem a guerra que o consome
Sem crianças a chorar
Com jardins para brincar
Sem ninguém que os transforme
 
Ai quem me dera poder
Construir um mundo assim
Depois pinta-lo por fim
Com cores ainda mais belas
E pendurava mil estrelas
Num céu feito de cetim
 
Ai s’eu pudesse fazer
Um mundo só para mim 
 
 
 
Fado “Há tanta coisa no mundo” de: Paco Gonzalez 
 
 
 
Criação de António Tavares em 1993



167

SONHEI UM MALMEQUER 

 

Pus o meu vestido mais bonito
Prendi no cabelo um malmequer
Alindei-me p’ra ti porque acredito
Que sou o teu amor, tua mulher
 
Depois pus na mesa essa toalha
Que minha mãe bordou para me dar
Enquanto o assado na fornalha
Gratinava o amor para o jantar
 
Colhi rosas vermelhas no jardim
Que pus na nossa jarra de cristal
Perfumei nosso quarto de alecrim
Sonhava a noite linda sem igual
 
Esperei depois por ti, tu não vieste
O assado esfriou e adormeci
As rosas murcharam e tu nem deste
Valor ao malmequer que pus por ti. 
 
 
 
Fado Licas de: Armando Machado 
 
 
 
Criação de Sílvia Raquel em2018 



168

SONHO DE MIL CORES 

 
Existe um mundo lindo um mundo novo
Onde para todos o Sol brilha
A paz é a conquista do seu povo
E nenhuma criança é uma ilha
 
Foram até dos livros abolidas
Palavras que causassem dano ou dor
Agora são apenas escolhidas
As palavras que rimam com amor
 
Da guerra só há peças nos museus
Não há mais violência ou desacato
A droga acabou graças a Deus
E o ouro é vendido ao desbarato
 
Nos versos que vos canto agora aqui
Um sonho de mil cores eu desenhei
Com lápis e poemas consegui
Fazer o mundo novo que sonhei 
                                                
 
 
Fado Varela de Renato Varela 
 
 
 
Criação de Andreia Ribeiro em 2000


169

SONHO VIDA 

Acreditem meus amigos
A vida não sabe a nada
Sem um sonho, um ideal
Saltar abismos e perigos
E perder um grande amor
Num sonho quase real
 
Há quem sofra por sonhar
Eu sofri porque sonhei
Amar em partes iguais
Tenho o peito a transbordar
D’amizades que ganhei
Mas amor dei muito mais
 
E se um dia eu tiver
Mesmo deixar que sonhar
Por já não crer em ninguém
Então não quero viver
E vou meus olhos fechar
Morrendo em sonhos também
                                             
 
 
 
Fado Marcha do Marceneiro de: Alfredo Marceneiro 
 
 
 
Criação de Joaquim Brandão em 2013


170

SOU AQUILO QUE SOU

 

Por onde querem não vou
Meu caminho escolho eu
Sei muito bem por onde vou
Sei bem aquilo que sou
E o que a vida não me deu
 
Nenhum anjo me guardou
E não há quem me proteja
Só Deus sabe quem eu sou
Eu sou aquilo que sou
Não o que querem que seja
 
Pode não ser o melhor
Meu caminho por aqui
Talvez de cardos e dor
Seja o caminho que for
Mas fui eu quem escolhi
 
Quem na vida m’apontou
Por despeito ou por derriço
Não sabe para onde vou
Não sabe aquilo que eu sou
E nem tem nada com isso
 
As decisões não me afectam
Ninguém as toma por mim
Como eu já poucos restam
E muitos que me contestam
Gostavam de ser assim 
 
 
Música de: Francisco Seabra 
 
 
Gravado em CD por Augusto Fernandes em 2005

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