PARTE 6 (151 a160)
151
QUEM FOI?
Quem mandou a abelha fazer mel?
Quem ensinou a aranha a tecer?
Quem disse à Maria qu’era o Manel
Que seu coração ia escolher?
Quem disse à planta p’ra crescer?
Quem ensinou a ave a fazer ninho?
Quem ás águas do rio foi dizer
Que era por ali o seu caminho?
Quem deu à flor o seu perfume?
Quem ensinou os pombos a arrulhar?
Quem disse à mulher p’ra ter ciúme
E ensinou à gente o verbo amar?
Quem é que à noite manda vir a Lua?
Quem manda o Sol embora ao fim da tarde?
Quem é que diz que a vida continua
Mesmo depois da morte ser verdade?
Quem fez o Céu a Terra o Mar imenso?
Quem fez a fome a dor o riso o pranto?
Quem fez todo este povo a que pertenço
E deu-me a mim o fado que vos canto?
Fado Fininho ou Juras de: Alfredo Mendes
Gravado
em K7 por José Ferreira em 1989
152
QUEM ME DIZ?
Quero dizer
ao que venho
Quem me deve
anunciar?
Dúvidas?
Trago as que tenho
Quem me quer
elucidar?
Pergunto
humildemente
A quem manda
cá na terra
Porque morre
tanta gente
E mais
crianças na guerra
Desse pão que
ninguém come
Deitam fora
toneladas
E deixam
morrer à fome
Pessoas tão
precisadas
Tanta gente
sem-abrigo
Sem conforto,
sem afago
Para quê
morrer de frio
Com tantas
casas de vago
Há tanta,
tanta injustiça
E não há
respostas prontas
O Mundo arde
em cobiça
Alguém fez
mal estas contas
Fado Louco de: Alfredo
Marceneiro
Criação de Olga Duarte em 2013
153
QUERO SER FELIZ DEPRESSA
Vamos parar
de fingir
Sinto a vida
a fugir
Por entre os
dedos da mão
Quero ser
feliz depressa
Não há nada
que t’impeça
Ò meu pobre
coração
Já sentiste
emoções
E muitas
desilusões
De sonhos de
fantasias
Anda, pára de
sofrer
Vamos os dois
fazer crer
Que a vida é
só alegrias
Anda viver
nosso fado
Esquece lá o
passado
Num copo,
numa emoção
Se por
saudade ou sequela
Ainda te
lembras dela
Não chores
meu coração
Fado Porto de. José Joaquim Cavalheiro Júnior
Criação de Nicolau Rocha em 2002
154
QUIMERAS Á SOLTA
Senti hoje a
tal revolta
Ao ver
ilusões a solta
Pelas ruas da
cidade
É revolta que
se sente
Quando no
peito da gente
Já não cabe
mais saudade
Vivo cansado
a sonhar
Já não tenho
dor p’ra dar
Ao desejo que
m’enleia
Morro nesta
ansiedade
Á procura da
verdade
Com sonhos
feitos d’areia
Esta angustia
que me mata
Vai vencendo
quando ataca
O que penso
de mim mesmo
Pois só
encontro a verdade
Pelas ruas da
cidade
A matar
sonhos a esmo
Assim vai a
vida embora
Os sonhos
ficam lá fora
Á espera do
fado norte
Viver a vida
a preceito
Toda a gente
tem direito
Mas e preciso
ter sorte
Fado Laranjeira
de: Alfredo Marceneiro
Criação de Joaquim Brandão em 2004
155
REI D. JOÃO - RUSGA DA SÉ / 2016
Cá nesta Sé
de contraste
Casou nosso
Rei João
Com Filipa de
Lencastre
A mãe da tal
Geração
Aqui nasceu
nosso Infante
Fruto desse
amor profundo
E começou
triunfante
A dar mais
mundos ao mundo
Rusga da Sé
Com tradição
É mais
vaidosa quando canta ao S. João
Rusga da Sé
Traz com
vaidade
Mais alegria
para a baixa da cidade
Rusga da Sé
Bem
tripeirinha
Mostra
bairrista que do Porto é a rainha
Rusga da Sé
Guarda
memória
E mostra ao
povo como é rica a sua história
Traz a festa
e bailarico
Das escadas
dos Guindais
Traz cidreira
e manjerico
E alho-porro
dos quintais
Traz rimas
lindas dos fados
Que se cantam
nas vielas
E traz pares
de namorados
E craveiros
das janelas
Música e gravação em CD de: Bruno Brás
5º Classificada nas Rusgas de S. João do Porto
156
RESISTIR Á SAUDADE
Depois de
tanto sofrer
Habituei-me a
viver
Na vida com a
saudade
O tempo que
tudo cura
Mata o
silêncio e a jura
E faz-nos ver
a verdade
Sou um verso
sem reverso
Uma ida sem
regresso
Poema que
nunca li
Sou rio que
não tem foz
Trago no fado
e na voz
Estas
saudades de ti
Com teus
olhos já não sonho
Eram
castanhos suponho
Quase teu
rosto esqueci
E o sabor dos
teus beijos
Já não
m’acendem desejos
Já não me
lembro de ti
E é nesta
resistência
Ao
sofrimento, á demência
Que eu morro
lentamente
Mas eu já me
habituei
Á saudade que
nem sei
Se esta dor
me alimenta
Fado Primavera de: Pedro
Rodrigues
Criação de Fernanda Barbosa em 2003
157
ROSA DO RIO
Num sombrio
rés-do-chão
Da rua dos
Canastreiros
Viveu a Rosa
Maria
Mesmo
defronte ao Reimão
Onde rufias
barqueiros
Iam ao fado
vadio
Nesse
rés-do-chão sombrio
Só tinha por
companhia
A sua velha
redoma
Havia sempre
um pavio
Aceso de
noite e dia
Á senhora da
Vandoma
Amou fidalgos
artistas
Assumiu de
corpo inteiro
Seus pecados
com vaidade
Riu-se das
suas conquistas
Apenas um
marinheiro
A fez chorar
de saudade
Lavava roupa
no Douro
Passava o
tempo a brunir
P’ra seu
sustento danado
Sua voz era
um tesouro
Ao destino
quis fugir
Mas morreu
cantando o fado
Fado Raul Pinto de: Raul
Pinto
Criação
de Manuel Soares em 1991
Gravado
para Youtube por Jorge Miguel em 2016
158
ROSÁRIO DO MEU FADO
Depois da luz se apagar
E as velas serem acesas
O Fado vai
começar
Andam sombras
a bailar
Paira o
silêncio nas mesas
Quem se benze
p’ra cantar
Com o seu
xaile traçado
Traz tristeza
no olhar
Traz contas
p’ra desfiar
No seu
rosário de fado
Quem canta
seu mal espanta
Diz o povo e
com razão
No fado que
nos encanta
Nem sempre
sai da garganta
O que manda o
coração
Chora a guitarra
dolente
Com seu suave
trinado
Eu estou com
minha gente
É assim neste
ambiente
Que adoro
cantar o fado
Fado Tamanquinhas de: Carlos Neves
Gravado
em CD por Laura Santos em 2006
Gravado
para Youtube por Jorge Miguel em 2014
159
ROSINHA DO COVÊLO
Era a mulher
mais linda do Covêlo
Lá não havia
outra como ela
Usava fita
verde no cabelo
A contrastar
a cor dos olhos dela
Chamavam-lhe
a Rosinha vendedeira
Tinha a fruta
mais fresca do lugar
Sentia
orgulho em ser mãe solteira
Só soube uma
vez na vida amar
Ria p’ra toda
a gente era feliz
Seu pregão
ecoava no mercado
Eu soube que
para ai já se diz
Que anda
sempre só e canta o fado
Havia quem
falasse até mal dela
Por ser
cantadeira ser artista
Nunca deu
confiança nem deu trela
Tinha fado
nas veias, era fadista
Um dia a
Rosinha do Covêlo
Deixou de
vender lá no mercado
Hoje traz
fita negra no cabelo
E chora agora
quando canta o fado
Fado Pena de: Fernando Freitas
Gravado
em K7 e CD por António Passos em 1994
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