sexta-feira, 16 de outubro de 2020

FADOCANTO E OUTROS FADOS





PARTE 6 (151 a160)


151

QUEM FOI? 

 
Quem mandou a abelha fazer mel?
Quem ensinou a aranha a tecer?
Quem disse à Maria qu’era o Manel
Que seu coração ia escolher?
 
Quem disse à planta p’ra crescer?
Quem ensinou a ave a fazer ninho?
Quem ás águas do rio foi dizer
Que era por ali o seu caminho?
 
Quem deu à flor o seu perfume?
Quem ensinou os pombos a arrulhar?
Quem disse à mulher p’ra ter ciúme
E ensinou à gente o verbo amar?
 
Quem é que à noite manda vir a Lua?
Quem manda o Sol embora ao fim da tarde?
Quem é que diz que a vida continua
Mesmo depois da morte ser verdade?
 
Quem fez o Céu a Terra o Mar imenso?
Quem fez a fome a dor o riso o pranto?
Quem fez todo este povo a que pertenço
E deu-me a mim o fado que vos canto? 
 
 
 
Fado Fininho ou Juras de: Alfredo Mendes 
 
 
 
Gravado em K7 por José Ferreira em 1989


152

QUEM ME DIZ? 

 
Quero dizer ao que venho
Quem me deve anunciar?
Dúvidas? Trago as que tenho
Quem me quer elucidar?
 
Pergunto humildemente
A quem manda cá na terra
Porque morre tanta gente
E mais crianças na guerra
 
Desse pão que ninguém come
Deitam fora toneladas
E deixam morrer à fome
Pessoas tão precisadas
 
Tanta gente sem-abrigo
Sem conforto, sem afago
Para quê morrer de frio
Com tantas casas de vago
 
Há tanta, tanta injustiça
E não há respostas prontas
O Mundo arde em cobiça
Alguém fez mal estas contas
 
 
 
Fado Louco de: Alfredo Marceneiro
 
 
 
Criação de Olga Duarte em 2013



153

QUERO SER FELIZ DEPRESSA 

 

Vamos parar de fingir
Sinto a vida a fugir
Por entre os dedos da mão
Quero ser feliz depressa
Não há nada que t’impeça
Ò meu pobre coração
 
Já sentiste emoções
E muitas desilusões
De sonhos de fantasias
Anda, pára de sofrer
Vamos os dois fazer crer
Que a vida é só alegrias
 
Anda viver nosso fado
Esquece lá o passado
Num copo, numa emoção
Se por saudade ou sequela
Ainda te lembras dela
Não chores meu coração 
 
 
 
Fado Porto de. José Joaquim Cavalheiro Júnior 
 
 
 
Criação de Nicolau Rocha em 2002


154

QUIMERAS Á SOLTA

 

Senti hoje a tal revolta
Ao ver ilusões a solta
Pelas ruas da cidade
É revolta que se sente
Quando no peito da gente
Já não cabe mais saudade
 
Vivo cansado a sonhar
Já não tenho dor p’ra dar
Ao desejo que m’enleia
Morro nesta ansiedade
Á procura da verdade
Com sonhos feitos d’areia
 
Esta angustia que me mata
Vai vencendo quando ataca
O que penso de mim mesmo
Pois só encontro a verdade
Pelas ruas da cidade
A matar sonhos a esmo
 
Assim vai a vida embora
Os sonhos ficam lá fora
Á espera do fado norte
Viver a vida a preceito
Toda a gente tem direito
Mas e preciso ter sorte 

 
 
 Fado Laranjeira de: Alfredo Marceneiro 
 

 
 
Criação de Joaquim Brandão em  2004


155

REI  D. JOÃO - RUSGA DA SÉ / 2016 

Cá nesta Sé de contraste
Casou nosso Rei João
Com Filipa de Lencastre
A mãe da tal Geração
 
Aqui nasceu nosso Infante
Fruto desse amor profundo
E começou triunfante
A dar mais mundos ao mundo
              
Rusga da Sé
Com tradição
É mais vaidosa quando canta ao S. João
Rusga da Sé
Traz com vaidade
Mais alegria para a baixa da cidade
Rusga da Sé
Bem tripeirinha
Mostra bairrista que do Porto é a rainha
Rusga da Sé
Guarda memória
E mostra ao povo como é rica a sua história
 
Traz a festa e bailarico
Das escadas dos Guindais
Traz cidreira e manjerico
E alho-porro dos quintais
 
Traz rimas lindas dos fados
Que se cantam nas vielas
E traz pares de namorados
E craveiros das janelas

 

Música e gravação em CD de: Bruno Brás


5º Classificada nas Rusgas de S. João do Porto


156

RESISTIR Á SAUDADE
 
 
Depois de tanto sofrer
Habituei-me a viver
Na vida com a saudade
O tempo que tudo cura
Mata o silêncio e a jura
E faz-nos ver a verdade
 
Sou um verso sem reverso
Uma ida sem regresso
Poema que nunca li
Sou rio que não tem foz
Trago no fado e na voz
Estas saudades de ti
 
Com teus olhos já não sonho
Eram castanhos suponho
Quase teu rosto esqueci
E o sabor dos teus beijos
Já não m’acendem desejos
Já não me lembro de ti
 
E é nesta resistência
Ao sofrimento, á demência
Que eu morro lentamente
Mas eu já me habituei
Á saudade que nem sei
Se esta dor me alimenta 
 
 
 
Fado Primavera de: Pedro Rodrigues 
 
 
 
Criação de Fernanda Barbosa em 2003


157

ROSA DO RIO 

Num sombrio rés-do-chão
Da rua dos Canastreiros
Viveu a Rosa Maria
Mesmo defronte ao Reimão
Onde rufias barqueiros
Iam ao fado vadio

 
Nesse rés-do-chão sombrio
Só tinha por companhia
A sua velha redoma
Havia sempre um pavio
Aceso de noite e dia
Á senhora da Vandoma
 
Amou fidalgos artistas
Assumiu de corpo inteiro
Seus pecados com vaidade
Riu-se das suas conquistas
Apenas um marinheiro
A fez chorar de saudade
 
Lavava roupa no Douro
Passava o tempo a brunir
P’ra seu sustento danado
Sua voz era um tesouro
Ao destino quis fugir
Mas morreu cantando o fado 
 
 
 
Fado Raul Pinto de: Raul Pinto 
 
 
 
Criação de Manuel Soares em 1991
Gravado para Youtube por Jorge Miguel em 2016


158

ROSÁRIO DO MEU FADO

 

Depois da luz se apagar
E as velas serem acesas
O Fado vai começar
Andam sombras a bailar
Paira o silêncio nas mesas
 
Quem se benze p’ra cantar
Com o seu xaile traçado
Traz tristeza no olhar
Traz contas p’ra desfiar
No seu rosário de fado
 
Quem canta seu mal espanta
Diz o povo e com razão
No fado que nos encanta
Nem sempre sai da garganta
O que manda o coração
 
Chora a guitarra dolente
Com seu suave trinado
Eu estou com minha gente
É assim neste ambiente
Que adoro cantar o fado
 
 
 
 
Fado Tamanquinhas de: Carlos Neves 
 
 
 
Gravado em CD por Laura Santos em 2006
Gravado para Youtube por Jorge Miguel em 2014


159

ROSINHA DO COVÊLO 

 

Era a mulher mais linda do Covêlo
Lá não havia outra como ela
Usava fita verde no cabelo
A contrastar a cor dos olhos dela
 
Chamavam-lhe a Rosinha vendedeira
Tinha a fruta mais fresca do lugar
Sentia orgulho em ser mãe solteira
Só soube uma vez na vida amar
 
Ria p’ra toda a gente era feliz
Seu pregão ecoava no mercado
Eu soube que para ai já se diz
Que anda sempre só e canta o fado
 
Havia quem falasse até mal dela
Por ser cantadeira ser artista
Nunca deu confiança nem deu trela
Tinha fado nas veias, era fadista
 
Um dia a Rosinha do Covêlo
Deixou de vender lá no mercado
Hoje traz fita negra no cabelo
E chora agora quando canta o fado 
 
Fado Pena de: Fernando Freitas  
 
Gravado em K7 e CD por António Passos em 1994


 

160

SEI QUEM É
 
 
Eu sei quem me satisfaz
Os caprichos, os desejos
É quem na vida me traz
Sempre colados a seus beijos
 
Também sei quem realiza
Meu louco fantasiar
É alguém que não precisa
D’aprender o verbo amar
 
Eu sei quem tem a magia
De saber tudo que penso
É quem a mim me sacia
E me dá prazer imenso
 
Sei bem, mas quem diria!
Não passa duma ilusão
Dum fado que eu cantaria
Se não fosse a solidão 
 
 
 
Fado  Vianinha de: Francisco Viana 
 
 
Criação de Eduardo Alípio em 1993

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