segunda-feira, 19 de outubro de 2020

FADOCANTO E OUTROS FADOS




PARTE 3 (21 A 30)


21

ARRUMADO NO SOTÃO 

 
Eras sonho adormecido
Que há muito tempo guardava
No sótão das ilusões
Um fado quase esquecido
Qu’eu há muito não cantava
Nas minhas recordações
 
Mas quando ontem te vi
Eu pude rever também
Quanto o amor pode durar
Foi então que compreendi
Que há f’ridas que um homem tem
Que levam tempo a curar
 
Tu és sonho do passado
Que vou de vez qualquer dia
No meu sótão arrumar
Poema lindo dum fado
Em soberba melodia
Mas que outro anda a cantar 
 
 
 
Fado João Mª. Dos Anjos de: João M. Anjos
Depois, Música de: Samuel Cabral 
 
 
 
Gravado em K7 por António Passos em 1998
(Para a o Fado João Maria dos Anjos)
Regravado em CD em 2001
(Com música de Samuel Cabral)


22

AS MENINAS DOS TEUS OLHOS

 
Dentro desses olhos tão bonitos
Andam duas meninas a bailar
Foram duas janelas com escritos
Que muitos alugavam p’ra brincar
 
Logo que teus olhos encontrei
Na rua d’amargura, do pecado
Não os quis alugar nem os comprei
Mas fiz deles na vida o meu fado
 
Agora as meninas dos teus olhos
Brilham de felicidade e tanto assim
Qu’esqueceram na vida os escolhos
Só abrem as janelas para mim
 
Passam todo o tempo a conversar
Essas quatro meninas ò meu Deus
Adoro tanto vê-las a bailar
Nesses olhos bonitos que são meus 
 
 
 
Fado Licas de: Armando Machado 
 
 
 
Gravado em k7 por Manuel Soares em 1992
Cantado em 2002 por Tito Nunes
Regravado em CD por Manuel Soares em 2007


23

AS POMBAS DOS TEU OLHOS 

Quando pombas dos teus olhos
Vieram nos meus pousar
Trouxeram ternura aos molhos
E sonhos para desvendar
 
Depois vi em teu sorriso
Um Sol como nunca vi
E nada mais foi preciso
P’ra ficar louco por ti
 
Quando o teu corpo ondulou
No teu fado, em teu cantar
Senti que o meu se afogou
Com desejos desse mar
 
Em teus gestos vi bailados
Que traduzem sentimentos
São carícias nos teus fados
Mas para mim são tormentos 
 
 
 
Fado Franklim de Franklim Godinho
 
 
 
           
Criação de Ricardo Mesquita em 2007


24

ASSIM É MEU FADO 

 
Mal tive a noção de ser gente
Nasceu p’ra mim o fado nesse dia
Agora deixem que m’apresente
Sou para todos vós, Cátia Sofia
 
Trago junto à garganta o coração
Na minha voz o grito de criança
Que o fado seja sempre esta razão
Tão verde como um hino de esp’rança
 
Trago também o peito a transbordar
De sentimentos feitos de pureza
E ponho alegria em meu cantar
Porque o fado não é sempre tristeza
 
Trago neste meu cantar plebeu
A mensagem de paz o meu recado
Agradecendo a voz que Deus me deu
E fazer-me gostar tanto de fado
 
Quero abrir as portas mais secretas
Que o fado ás vezes fecha a quem é novo
Cantar pelas palavras dos poetas
O sentir mais profundo do meu povo 
 
 
 
Fado Cuf de: Alfredo Marceneiro 
 
 
 
Gravado em CD por Cátia Sofia (Oliveira) em 2005


25

BAIRRO DA SÉ - Rusga da Sé/2006 

Anda dai, dá-me o braço e vem comigo
Vem ver como são bonitos
Cantinhos como o Barredo
Anda dai, traz outro amigo contigo
Não vás nos contos e ditos
Porque a Sé não mete medo
Anda dai, qu’este povo é de verdade
Só diz aquilo que sente
Papas na língua não tem
Anda dai, ver a mãe desta cidade
És do Porto, és portuense
Também ela é tua mãe
 
Ca’stamos nós / É compromisso que temos
Trazer a festa p’ra rua / P’ra manter a tradição
Ca’stamos nós / Somos da Sé e queremos
Qu’esta rusga seja tua / P’ra reinar ao S. João
 
Venham dai, com manjerico e cidreira
Vamos subir os Guindais
E dançar nas Fontainhas
Venham dai, não saíam da nossa beira
Destes Bairros não há mais
Com vielas estreitinhas
Venham dai, destruir o preconceito
Deste bairro de má fama
De gente boa e decente
Venham dai, e tragam cravos ao peito
Este bairro que vos chama
É tripeiro e boa gente  
 
 
 
Música e gravação em CD de: Marco Alves
 

 
1º Classificada nas Rusgas de S. João do Porto                                                                  


26

BAILIO DE LEÇA 

Não é romance banal
Nem história dessas reles
Foi um dilema real
Quando o Rei de Portugal
Desposou Leonor Telles
 
Não era o trono que amava
Dizia ela chorando
Enquanto o povo jurava
“A fidalga não casava
Com nosso Rei D. Fernando”
 
Sempre altivo o nosso rei
Que de “Formoso” chamaram
Das Sesmarias fez lei
Por amor traiu a grei
Quando em Leça se casaram
 
O povo não concordava
Com esse enlace fatal
Com certeza adivinhava
A independência acabava
Em terras de Portugal
 
E em Leça do Bailio
O seu mosteiro é memória
Nas margens do seu rio
Andou ali o idílio
Que ficou na nossa história 
 
 
 
Fado Tamanquinhas de: Carlos Neves                              
 
 
 
Criação de Lima Querido em 1992


27

BASTA NUNCA MAIS 

É verdade não o nego
Que foste o meu encanto
Mas eu devia andar cego
Para te amar assim tanto
 
Dei-te tudo quanto tinha
Fiquei sem nada e por fim
Fiz de ti uma rainha
E hoje ris-te de mim
 
Nunca, nunca mais te quero ver
Basta de tanto sofrer
Confesso, estou cansado
Nunca, um homem nunca devia
D’amar quem não merecia
E depois ter este fado
 
Arrisquei tudo por ti
Por encanto ou feitiços
Mil anos envelheci
Por aturar teus caprichos
 
Agora vou ajudar
Meu coração a esquecer
E ensiná-lo a gostar
Só de quem amor lhe der 
 
 
Fado (Noite) de: Max
 
 
 
Criação de António Tavares em 1994
Gravado em CD por Alberto Alves em 2007


28

BRINCAR D’ANTIGAMENTE  

Passei a tarde a olhar
Vendo os miúdos brincar
Numa tarde de verão
Que brincar tão diferente
Do brincar d’antigamente
Dos da minha geração
 
Não os vi jogar peão
D’arco e gancheta na mão
Nem sequer escondidinhas
Não vi a corda queimada
“Bom- barqueiro” não vi nada
E já ninguém faz rodinhas
 
Não vi o Manel “tim-tim”
Nem vi jogar no jardim
O carolo e a sameira
Nem ao eixo vi saltar
Aos cow-bois não vi brincar
Com pistolas de Madeira
 
Não ouvi contar histórias
Nem ninguém juntar vitórias
De rebuçado na boca
Brincando ao faz-de-conta
Com sonhos de pouca monta
Daquela idade tão louca
 
Eles não andam de chancas
Nem as meninas de tranças
Os putos hoje são gente
Era um brincar sem maldade
Agora resta a saudade 
Do brincar d’antigamente 
 
 
 
Fado Pedro Rodrigues de: Pedro Rodrigues 
 
 
 
Criação de Manuel Soares 1993


29

CAMARADAS DE GUERRA 

 
Nós partimos com o vento
Numa guerra sem verdade
Se demorava mais tempo
Morríamos de saudade
 
O Destino nos juntou
Num ponto para lá do mar
Foi ele quem nos roubou
Tanto tempo sem sonhar
 
Nos olhos levamos medos
E o peito a transbordar
De juventude e segredos
Ainda por desvendar
 
Desses dias que perdemos
Dessas noites que choramos
Ficam lembranças que temos
Amizades que ganhamos
 
Somos da tal geração
Que sofreu mas foi capaz
De andar de armas na mão
Mas fazer também a paz           
 
 
 
Música de Francisco Seabra 
 
 
 
Gravado em CD por Augusto Fernandes em 2006 



30

CANÇÃO AO VENTO 

 

Cantei poemas ao vento
Voei nas asas do tempo
À procura da verdade
Recuso ter que aceitar
Que a vida só tem p’ra dar
Amargura infelicidade
 
Ainda existe pureza
Nas coisas da natureza
E é tão bom, ser amada
No olhar duma criança
Também vi acesa a esp’rança
Que anda de nós arredada
 
Passei a noite acordada
Nos braços da madrugada
À procura do amor
Eu não quero acreditar
Que se viva sem amar
Que a vida seja só dor
 
Olha o Sol que ainda existe
E em cada dia persiste
Em voltar com sua luz
Apesar de tudo a vida
Vale a pena ser vivida
Bendito seja Jesus
 
 
 
Fado Franklim de Franklim Godinho 
 
 
 
Gravado em K7 por Rosina Andrade em 1993

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