PARTE 3 (21 A 30)
21
ARRUMADO NO SOTÃO
Eras sonho adormecido
Que há muito tempo guardava
No sótão das ilusões
Um fado quase esquecido
Qu’eu há muito não cantava
Nas minhas recordações
Mas quando ontem te vi
Eu pude rever também
Quanto o amor pode durar
Foi então que compreendi
Que há f’ridas que um homem tem
Que levam tempo a curar
Tu és sonho do passado
Que vou de vez qualquer dia
No meu sótão arrumar
Poema lindo dum fado
Em soberba melodia
Mas que outro anda a cantar
Fado João Mª. Dos Anjos de: João M. Anjos
Depois, Música de: Samuel Cabral
Gravado
em K7 por António Passos em 1998
(Para
a o Fado João Maria dos Anjos)
Regravado
em CD em 2001
(Com
música de Samuel Cabral)
22
AS MENINAS DOS TEUS OLHOS
Dentro desses
olhos tão bonitos
Andam duas
meninas a bailar
Foram duas
janelas com escritos
Que muitos
alugavam p’ra brincar
Logo que teus
olhos encontrei
Na rua d’amargura,
do pecado
Não os quis
alugar nem os comprei
Mas fiz deles
na vida o meu fado
Agora as
meninas dos teus olhos
Brilham de
felicidade e tanto assim
Qu’esqueceram
na vida os escolhos
Só abrem as
janelas para mim
Passam todo o
tempo a conversar
Essas quatro
meninas ò meu Deus
Adoro tanto
vê-las a bailar
Nesses olhos
bonitos que são meus
Fado Licas de: Armando Machado
Gravado em k7 por Manuel Soares em
1992
Cantado em 2002 por Tito Nunes
Regravado em CD por Manuel Soares em
2007
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AS POMBAS DOS TEU OLHOS
Quando pombas
dos teus olhos
Vieram nos
meus pousar
Trouxeram
ternura aos molhos
E sonhos para
desvendar
Depois vi em
teu sorriso
Um Sol como
nunca vi
E nada mais
foi preciso
P’ra ficar
louco por ti
Quando o teu
corpo ondulou
No teu fado,
em teu cantar
Senti que o
meu se afogou
Com desejos
desse mar
Em teus
gestos vi bailados
Que traduzem
sentimentos
São carícias
nos teus fados
Mas para mim
são tormentos
Fado Franklim de
Franklim Godinho
Criação de Ricardo Mesquita em 2007
24
ASSIM É MEU FADO
Mal tive a
noção de ser gente
Nasceu p’ra
mim o fado nesse dia
Agora deixem
que m’apresente
Sou para
todos vós, Cátia Sofia
Trago junto à
garganta o coração
Na minha voz
o grito de criança
Que o fado seja
sempre esta razão
Tão verde
como um hino de esp’rança
Trago também
o peito a transbordar
De
sentimentos feitos de pureza
E ponho
alegria em meu cantar
Porque o fado
não é sempre tristeza
Trago neste
meu cantar plebeu
A mensagem de
paz o meu recado
Agradecendo a
voz que Deus me deu
E fazer-me
gostar tanto de fado
Quero abrir
as portas mais secretas
Que o fado ás
vezes fecha a quem é novo
Cantar pelas
palavras dos poetas
O sentir mais
profundo do meu povo
Fado Cuf de: Alfredo Marceneiro
Gravado
em CD por Cátia Sofia (Oliveira) em 2005
25
BAIRRO DA SÉ - Rusga da Sé/2006
Anda dai,
dá-me o braço e vem comigo
Vem ver como
são bonitos
Cantinhos
como o Barredo
Anda dai,
traz outro amigo contigo
Não vás nos
contos e ditos
Porque a Sé
não mete medo
Anda dai,
qu’este povo é de verdade
Só diz aquilo
que sente
Papas na
língua não tem
Anda dai, ver
a mãe desta cidade
És do Porto,
és portuense
Também ela é
tua mãe
Ca’stamos nós
/ É compromisso que temos
Trazer a festa p’ra rua / P’ra manter a
tradição
Ca’stamos nós
/ Somos da Sé e queremos
Qu’esta rusga
seja tua / P’ra reinar ao S. João
Venham dai,
com manjerico e cidreira
Vamos subir
os Guindais
E dançar nas
Fontainhas
Venham dai,
não saíam da nossa beira
Destes
Bairros não há mais
Com vielas
estreitinhas
Venham dai,
destruir o preconceito
Deste bairro
de má fama
De gente boa
e decente
Venham dai, e
tragam cravos ao peito
Este bairro
que vos chama
É tripeiro e
boa gente
Música e gravação em CD de: Marco
Alves
1º Classificada nas Rusgas de S. João
do Porto
26
BAILIO DE LEÇA
Não é romance
banal
Nem história
dessas reles
Foi um dilema
real
Quando o Rei
de Portugal
Desposou
Leonor Telles
Não era o
trono que amava
Dizia ela
chorando
Enquanto o
povo jurava
“A fidalga
não casava
Com nosso Rei
D. Fernando”
Sempre altivo
o nosso rei
Que de
“Formoso” chamaram
Das Sesmarias
fez lei
Por amor
traiu a grei
Quando em
Leça se casaram
O povo não
concordava
Com esse
enlace fatal
Com certeza
adivinhava
A
independência acabava
Em terras de
Portugal
E em Leça do
Bailio
O seu
mosteiro é memória
Nas margens
do seu rio
Andou ali o
idílio
Que ficou na
nossa história
Fado Tamanquinhas de:
Carlos Neves
Criação de Lima Querido em 1992
27
BASTA NUNCA MAIS
É
verdade não o nego
Que foste o
meu encanto
Mas eu devia
andar cego
Para te amar
assim tanto
Dei-te tudo
quanto tinha
Fiquei sem
nada e por fim
Fiz de ti uma
rainha
E hoje ris-te
de mim
Nunca, nunca
mais te quero ver
Basta de
tanto sofrer
Confesso,
estou cansado
Nunca, um
homem nunca devia
D’amar quem
não merecia
E depois ter
este fado
Arrisquei
tudo por ti
Por encanto
ou feitiços
Mil anos
envelheci
Por aturar
teus caprichos
Agora vou
ajudar
Meu coração a
esquecer
E ensiná-lo a
gostar
Só de quem
amor lhe der
Fado
(Noite) de: Max
Criação
de António Tavares em 1994
Gravado
em CD por Alberto Alves em 2007
28
BRINCAR D’ANTIGAMENTE
Passei a
tarde a olhar
Vendo os
miúdos brincar
Numa tarde de
verão
Que brincar
tão diferente
Do brincar
d’antigamente
Dos da minha
geração
Não os vi
jogar peão
D’arco e
gancheta na mão
Nem sequer
escondidinhas
Não vi a
corda queimada
“Bom-
barqueiro” não vi nada
E já ninguém faz
rodinhas
Não vi o
Manel “tim-tim”
Nem vi jogar
no jardim
O carolo e a
sameira
Nem ao eixo
vi saltar
Aos cow-bois
não vi brincar
Com pistolas
de Madeira
Não ouvi
contar histórias
Nem ninguém
juntar vitórias
De rebuçado
na boca
Brincando ao
faz-de-conta
Com sonhos de
pouca monta
Daquela idade
tão louca
Eles não
andam de chancas
Nem as
meninas de tranças
Os putos hoje
são gente
Era um
brincar sem maldade
Agora resta a
saudade
Do brincar
d’antigamente
Fado Pedro
Rodrigues de: Pedro Rodrigues
Criação de Manuel Soares 1993
29
CAMARADAS DE GUERRA
Nós
partimos com o vento
Numa
guerra sem verdade
Se
demorava mais tempo
Morríamos
de saudade
O
Destino nos juntou
Num
ponto para lá do mar
Foi
ele quem nos roubou
Tanto
tempo sem sonhar
Nos
olhos levamos medos
E
o peito a transbordar
De
juventude e segredos
Ainda
por desvendar
Desses
dias que perdemos
Dessas
noites que choramos
Ficam
lembranças que temos
Amizades
que ganhamos
Somos
da tal geração
Que
sofreu mas foi capaz
De andar de
armas na mão
Mas fazer
também a paz
Música de Francisco Seabra
Gravado
em CD por Augusto Fernandes em 2006
30
CANÇÃO AO VENTO
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