O ANJO VERMELHO
SEGUNDO
A
Revista Classe, suplemento literário de domingo, do jornal Gazeta do Porto,
trazia uma pequena notícia sobre o falecimento de Omar Wilson, fazendo
referência a uma pequena cerimónia feita no Ateneu, numa homenagem póstuma ao
escritor.
Dário,
o marido da Helga, só tomou conhecimento da morte de Maciel passado alguns
dias. Além de se encontrar num congresso sobre o tema: “As Seguradoras e a
Europa, face ao Terrorismo” que se prolongava há vários dias em Roma, só teve
acesso ao jornal na segunda-feira. A notícia falava do escritor e sua obra,
revelando o seu pseudónimo ao público e terminava com o desejo do artista, em
ser cremado e as suas cinzas lançadas ao mar junto ao paredão do Molhe no
Porto. A Foz do Porto que foi a sua terra natal...
Dário
pelo telefone irritou-se com a Helga, por não o ter avisado do sucedido. Ela
desculpou-se contando-lhe que ele tinha voltado de repente e do hotel, fora
directamente para o hospital onde morrera de um AVC (acidente vascular cerebral).
Ainda que não quis preocupar o filho, nem interromper o trabalho dele, uma vez
que não se viam há muitos anos e a sua relação com Maciel não era nenhuma. Foi
a melhor maneira como Helga se consegui desculpar.
Ela
teve conhecimento antecipado do evento no Ateneu, com um telefonema de Tomé
Ferrão (único confidente da ligação do escritor com ela), mas claro que não
quis estar presente, até para evitar perguntas de índole privada. Mesmo assim,
soube que Tomé Ferrão foi assediado pelos jornalistas presentes, sobre a
eventual presença na sala de uma filha de Omar Wilson. A fonte jornalística não
tinha sido divulgada. O editor mais uma vez contornou a situação, declarando:
–
Só pode ter havido confusão com uma secretária em part-time, que ajudava o
autor na compilação de seus textos, pois Omar Wilson não tinha família chegada
e ao que consta, é essa mesma secretária que ficou de providenciar as últimas
vontades do escritor, como a doação do seu espólio literário, mas isso é já do
conhecimento dos senhores jornalistas.
Helga
quando voltou ao apartamento conversou amistosamente com o porteiro do prédio,
pois desconfiava que a confusa informação de ser filha de Omar Wilson teria
saído dali mesmo Disse então ao Pascoal que para evitar jornalistas
intrometidos, tinha constado que ela era uma simples secretária e não filha do
locatário, por tal, pedia a sua compreensão na corroboração desta pequena
mentira, mas essencial para a salvaguarda da privacidade e concretização dos
desejos finais de seu pai. Disse-lhe ainda, que ia subir para empacotar os
montes de livros que enchiam as estantes e gostava de não ser incomodada, com a
promessa (que muito alegrou o porteiro), que o artista tinha mostrado vontade,
em ofertar ao casal Pascoal um quadro da sua colecção. Agradeceu ao porteiro e
subiu no elevador com um lote de caixas desmanchadas, pronta a iniciar a tarefa
que se tinha proposto, tinha muito tempo para o fazer...
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