O ANJO VERMELHO
ANTES DO SEXTO
Depois
da viagem que fizemos a Paris, Maciel atirou-se à escrita com afinco e em
quatro meses, tinha no editor o seu segundo romance. Tratava-se de uma história
de amor, sobre um encontro casual num cruzeiro ao Mediterrâneo e vivida intensamente
durante a estada do casal no Cairo. Ela era galega e professora de história
universal, uma mulher recém divorciada em busca de equilíbrio emocional e de
material para o livro que queria publicar sobre a arte Egípcia. Ele um
antiquário e profundo conhecedor de arte sacra, solteirão e conhecido
comerciante abastado de Madrid. O romance foi um sucesso e a primeira edição
quase esgotou em seis meses. “O Cruzeiro”, título do livro, serviu também para
catapultar Osmar Wilson para a ribalta, pois a partir daí, foi grande a procura
dos seus livros de poesia e do seu primeiro romance, que tiveram novas edições.
Estávamos
em 1984, o Diogo tinha onze anos, estava no secundário. Meu marido, consegui
finalmente ser reconhecido e subir na carreira de técnico de seguros. Nossa
vida estava finalmente estabilizada economicamente e eu conseguia equilibrar
com êxito a minha vida de adúltera, sem qualquer suspeita.
Era
raro, mas quando tinha um congresso fora do país que não me interessava, tinha
sempre um colega a quem pedia que me trouxesse literatura e informações de
interesse, sempre com uma recomendação: Caso houvesse alguma alteração ligar-me
para o telemóvel. Então durante esse dois ou três dias, passava com Maciel
maravilhosas horas de amor.
Tentava
ter o controlo de tudo, para nunca por em causa a minha dupla vida
amorosa.
Tinha
laqueado as trompas alguns anos atrás, não tinha preocupações desse tipo. Mas
havia outras preocupações que eram de ter em conta, por exemplo: Tinha sempre
numa casa como noutra, lingerie que podia mudar e nunca dar a entender algo de
anormal. Para isso, comprava sempre aos pares, pois as cores eram importantes,
não ia sair de manhã com umas calcinhas vermelhas e voltar com umas pretas!
Nestas preocupações quotidianas, tinha a ajuda do Maciel em muitos aspectos,
ele não usava colónia e mesmo o after shave era igual ao do Dário, para que
nunca houvesse cheiros que me pudessem denunciar.
Com
meu marido, teria que nunca demonstrar desinteresse nas nossas relações na
cama, embora uma vez por outra, houvesse “uma dor de cabeça”.
Muitas
vezes sentia um misto de remorso e pena, mas o amor que sentia por Maciel era
mais forte que qualquer sentimento de arrependimento. Claro que às vezes,
haviam muitos momentos constrangedores. Por exemplo: Houve uma ocasião, em que Dário lia “O
Cruzeiro” recomendado por um colega, chegando mesmo a comentar comigo aquela
viagem maravilhosa ao Mediterrâneo. Claro que ele nem desconfiava, que eu
conhecia bem o livro de Osmar Wilson. Tive que dar um “ar” de admiração e
prometer que havia de o ler qualquer dia.
Toda
esta adrenalina, este viver na corda bamba, durou até ao fim.
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