PARTE 5 (41 A 50)
41
CORRE EM MINHAS VEIAS
Nas ruas das minhas veias
Corre vida, corre o fado
Corre
o amor ás mãos cheias
Neste
poema cantado
Corre
o destino em seus trilhos
Desde
a hora em que nasci
Corre
o sangue dos meus filhos
E
este grande amor por ti
Nos
rios das minhas veias
Corre
o meu sentir veloz
Correm
cantares de sereias
Que
atravessam minha voz
Corre
o mar dos fados meus
Desde
à’legria à saudade
E
correm graças a Deus
Por
tanta felicidade
Fado Carriche de: Raul Ferrão
Criação
de: Gina
Santos em 2004
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DE NOITE TUDO É DIFERENTE
De noite tudo
é diferente
Na escuridão
toda a gente
Fala melhor a
verdade
Do amor nasce
a ternura
Nos dedos
nasce a loucura
Que faz
lembrar a saudade
Também nasce
à noite a Lua
As sombras
descem à rua
Num curioso
bailado
Num sonho
feito ilusão
Eu afago a
solidão
Que nunca sai
do meu lado
A noite traz
as estrelas
E canta-se á
luz das velas
Fados do
nosso destino
A noite é
filha das trevas
E até param
as guerras
Na noite do
Deus menino
Eu não tenho
quem m’acoite
E sendo um
filho da noite
Ando do amor
ausente
Bebo um copo
oiço um fado
Uma mulher a
meu lado
E até a noite
é diferente
Fado Três Bairros de:
Casimiro Ramos
Criação de Lima Querido em 1993
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DEIXA-ME TER A ILUSÃO
Deixa-me ter
a ilusão
Que ainda não
te perdi
Quero ter a
sensação
Que sou amado
por ti
E quando me
vou deitar
Boa noite,
sempre digo
E adormeço a pensar
Que ainda
durmo contigo
Mas de manhã
é que vejo
Que não estás
a meu lado
Para acordar
sem teu beijo
Não quero
estar acordado
Vou iludindo
meus passos
Pr’a noite
quando voltar
Ver abertos
os teus braços
Com um beijo
p’ra me dar
Neste fado
sem canção
Canto as
saudades de ti
Deixa-me ter
a ilusão
Que ainda não
te perdi
Fado Rosita de: Joaquim
Campos
Criação de Eduardo Alípio 1992
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DEPOIS, MUITO DEPOIS
Foi da mais
bela mãe qu’eu nasci
Como quem faz
um fado por amor
Depois, muito
depois eu aprendi
Que o mundo
também é feito de dor
Remei contra
a maré e então comi
O tal pão que
o diabo amassou
Depois, muito
depois quanto sofri
Por essa
teimosia em que me dou
O tempo foi
passando e eu vivi
A vida sempre
em busca da verdade
Depois, muito
depois eu percebi
Qu’está
dentro de nós a felicidade
Certa noite
d’Agosto eu encontrei
Uma estrela
pensando ser meu norte
Depois, muito
depois eu compreendi
Na vida não
se vence sem ter sorte
Fado Licas de: Armando
Machado
Criação de Eduardo Alípio em 1990
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DESEJOS SUFOCADOS
Só o destino
é culpado
De pôr os
dois neste fado
De mãos dadas
a sofrer
Por um amor
que é segredo
Que só não
vinga por medo
Morrendo
assim ao nascer
Sufocamos os
desejos
Numa promessa
de beijos
Que não
chegamos a dar
P’ra ninguém
ser magoado
Foi cada um
p’ra seu lado
Fiquei
sozinha a chorar
Dizer adeus
faz doer
E as palavras
por dizer
Foram teu
rosto molhado
Era tão
grande a ternura
Mas só ficou
amargura
Neste poema
sem fado
Fado Proença de:
Júlio Proença
Gravado
em CD por Patrícia Fernandes em 2007
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DILEMA
Ando a tentar
esquecer-te
Mas já vi que
não consigo
Pois o medo
de perder-te
Ainda vive
comigo
Eu não quero
mais lembrar
Os teus olhos
o teu rosto
Mas volto
sempre a sonhar
Com as coisas
que mais gosto
Nunca sais da
minha mente
P´ra viver de
ti preciso
Não posso por
mais que tente
Esquecer o
teu sorriso
Tento a boca
amordaçar
P’ra não
falar no teu nome
Mas não
consigo calar
A mágoa que
me consome
Só Deus sabe
este castigo
Que na vida
ando a viver
Esquecer-te
não consigo
Por mais que
tente esquecer
Fado Louco de: Alfredo
Marceneiro
Gravado em CD por Nelson
Duarte em 2008
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DOMINGO DE MANHÃ
Acabou a
madrugada / Novo dia vai chegar
Levo a
garganta cansada / De tantos fados cantar
Subo a rua do
Souto / Vou direito a Campanhã
Inda vou
dormir um pouco / É domingo de manhã
O Zé Mau e
outros mais / Não foram à banca rota
Nas escadas
dos Guindais / Inda se joga a batota
Lá no Arco de
Vandoma / Passa a Rosa vendedeira
Leva a giga
d’azeitona / P’ra vender lá na Ribeira
É este o fado
qu’eu canto
Num estilo
sempre novo
Com versos
feitos d’encanto
Nesta canção
do meu povo
Passo as
noites a cantar
É vida do meu
agrado
Não me canso
de mostrar
Que aqui
também há fado
O Chico vende
jornais / Na esquina da rua Chã
Bate o Sol
nos quintais / É domingo de manhã
Alguém chega
à estação / Carregando de saudade
A S. Bento
uma oração / Por ter voltado à cidade
Mulheres de
socos nos pés / E mantilha na cabeça
Vão à
missinha das dez / Antes que a fé arrefeça
Subo a rua do
Cativo / E uns olhos cor de avelã
Chamam por
mim dum postigo / É domingo de manhã
Fado “Sol da Ribeira” de: Carlos Alberto França
Criação de Lourenço Carvalho em 1992
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É DO PORTO, SÓ PODE
SER
Acorda pela
manhã numa cantiga
E dá os bons
dias ao rio Douro
O Porto tem
este ar de rapariga
Alegre mas
que guarda o seu tesouro
De Campanhã
ao bairro de Aldoar
Da Cantareira
ás ruas do Bonfim
A alma deste
povo não tem par
Não há nada a
fazer o Porto é assim
Quando alguém
te abraçar com verdade
É do Porto,
só pode ser
Se gostar de
ti sem falsidade
É do Porto
só, pode ser
Este povo
qu’é franco a valer
Troca os vês
com orgulho é tripeiro
O que sente
não sabe esconder
Por isso é
que o Porto é tão verdadeiro
Quando chega
a hora do Sol-pôr
Ao fechar o
mercado do Bolhão
O Porto essa
cascata com amor
Acende a sua
luz como um balão
Então na Sé
velinha nasce o fado
Pela voz do
seu povo numa prece
Que percorre
a Ribeira num afago
Até que o
Porto inteiro adormece
Marcha “Cheira bem, cheira a Lisboa” de: Carlos Dias
Criação de Filomena Sousa em 2010
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EM BUSCA DO PÃO
Parte na dor
n’amargura
Deixando a
terra e o lar
Vai pelo
mundo à procura
De seu
destino mudar
Leva saudades
no peito
Que dia-a-dia
o devoram
À noite
choram em seu leito
Porque os
homens também choram
Vende o suor
de seu rosto
Em troca
pouco amealha
Só p’ra
voltar em Agosto
Qu’é prémio
de quem trabalha
Os anos
vão-se passando
E o emigrante
português
Vai o sonho
alimentando
De um dia voltar
de vez
Fado Vianinha de:
Francisco Viana
Criação de Joaquim Brandão em 2010
50
ENCONTREI-ME EM TI
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