domingo, 18 de outubro de 2020

FADOCANTO E OUTROS FADOS





PARTE 5 (41 A 50)




41

CORRE EM MINHAS VEIAS
 
 
Nas ruas das minhas veias
Corre vida, corre o fado
Corre o amor ás mãos cheias
Neste poema cantado
 
Corre o destino em seus trilhos
Desde a hora em que nasci
Corre o sangue dos meus filhos
E este grande amor por ti
 
Nos rios das minhas veias
Corre o meu sentir veloz
Correm cantares de sereias
Que atravessam minha voz
 
Corre o mar dos fados meus
Desde à’legria à saudade
E correm graças a Deus
Por tanta felicidade
 
 
 
 
Fado Carriche de: Raul Ferrão
 
 
 
Criação de: Gina Santos em 2004


42

DE NOITE TUDO É DIFERENTE  

De noite tudo é diferente
Na escuridão toda a gente
Fala melhor a verdade
Do amor nasce a ternura
Nos dedos nasce a loucura
Que faz lembrar a saudade
 
Também nasce à noite a Lua
As sombras descem à rua
Num curioso bailado
Num sonho feito ilusão
Eu afago a solidão
Que nunca sai do meu lado
 
A noite traz as estrelas
E canta-se á luz das velas
Fados do nosso destino
A noite é filha das trevas
E até param as guerras
Na noite do Deus menino
 
Eu não tenho quem m’acoite
E sendo um filho da noite
Ando do amor ausente
Bebo um copo oiço um fado
Uma mulher a meu lado
E até a noite é diferente
 
 
 
Fado Três Bairros de: Casimiro Ramos 
 
 
 
Criação de Lima Querido em 1993


43

DEIXA-ME TER A ILUSÃO 

Deixa-me ter a ilusão
Que ainda não te perdi
Quero ter a sensação
Que sou amado por ti
            
E quando me vou deitar
Boa noite, sempre digo
E adormeço a pensar
Que ainda durmo contigo
 
Mas de manhã é que vejo
Que não estás a meu lado
Para acordar sem teu beijo
Não quero estar acordado
            
Vou iludindo meus passos
Pr’a noite quando voltar
Ver abertos os teus braços
Com um beijo p’ra me dar
 
Neste fado sem canção
Canto as saudades de ti
Deixa-me ter a ilusão
Que ainda não te perdi 
 
 
 
Fado Rosita de: Joaquim Campos 
 
 
 
Criação de Eduardo Alípio 1992 


44

DEPOIS, MUITO DEPOIS 

Foi da mais bela mãe qu’eu nasci
Como quem faz um fado por amor
Depois, muito depois eu aprendi
Que o mundo também é feito de dor
 
Remei contra a maré e então comi
O tal pão que o diabo amassou
Depois, muito depois quanto sofri
Por essa teimosia em que me dou
 
O tempo foi passando e eu vivi
A vida sempre em busca da verdade
Depois, muito depois eu percebi
Qu’está dentro de nós a felicidade
 
Certa noite d’Agosto eu encontrei
Uma estrela pensando ser meu norte
Depois, muito depois eu compreendi
Na vida não se vence sem ter sorte 
 
 
 
Fado Licas de: Armando Machado 
 
 
 
Criação de Eduardo Alípio em 1990


45

DESEJOS SUFOCADOS 

Só o destino é culpado
De pôr os dois neste fado
De mãos dadas a sofrer
Por um amor que é segredo
Que só não vinga por medo
Morrendo assim ao nascer
 
Sufocamos os desejos
Numa promessa de beijos
Que não chegamos a dar
P’ra ninguém ser magoado
Foi cada um p’ra seu lado
Fiquei sozinha a chorar
 
Dizer adeus faz doer
E as palavras por dizer
Foram teu rosto molhado
Era tão grande a ternura
Mas só ficou amargura
Neste poema sem fado 
 
 
 
Fado Proença  de: Júlio Proença 
 
 
 
Gravado em CD por Patrícia Fernandes em 2007

46

DILEMA 

Ando a tentar esquecer-te
Mas já vi que não consigo
Pois o medo de perder-te
Ainda vive comigo
 
Eu não quero mais lembrar
Os teus olhos o teu rosto
Mas volto sempre a sonhar
Com as coisas que mais gosto
 
Nunca sais da minha mente
P´ra viver de ti preciso
Não posso por mais que tente
Esquecer o teu sorriso
 
Tento a boca amordaçar
P’ra não falar no teu nome
Mas não consigo calar
A mágoa que me consome
 
Só Deus sabe este castigo
Que na vida ando a viver
Esquecer-te não consigo
Por mais que tente esquecer
 
 
 
Fado Louco de: Alfredo Marceneiro     
 
 
 
Gravado em CD por Nelson Duarte em 2008


47

DOMINGO DE MANHÃ
 

Acabou a madrugada / Novo dia vai chegar                 
Levo a garganta cansada / De tantos fados cantar             
Subo a rua do Souto / Vou direito a Campanhã          
Inda vou dormir um pouco / É domingo de manhã               
 
O Zé Mau e outros mais / Não foram à banca rota           
Nas escadas dos Guindais / Inda se joga a batota
Lá no Arco de Vandoma / Passa a Rosa vendedeira       
Leva a giga d’azeitona / P’ra vender lá na Ribeira         
          
É este o fado qu’eu canto
Num estilo sempre novo
Com versos feitos d’encanto
Nesta canção do meu povo
Passo as noites a cantar
É vida do meu agrado
Não me canso de mostrar
Que aqui também há fado 
 
O Chico vende jornais / Na esquina da rua Chã
Bate o Sol nos quintais / É domingo de manhã
Alguém chega à estação / Carregando de saudade
A S. Bento uma oração / Por ter voltado à cidade
 
Mulheres de socos nos pés / E mantilha na cabeça
Vão à missinha das dez / Antes que a fé arrefeça
Subo a rua do Cativo / E uns olhos cor de avelã
Chamam por mim dum postigo / É domingo de manhã


Fado “Sol da Ribeira” de: Carlos Alberto França 

 
 
 
Criação de Lourenço Carvalho em 1992


48

É DO PORTO, SÓ PODE SER
 
 
Acorda pela manhã numa cantiga
E dá os bons dias ao rio Douro
O Porto tem este ar de rapariga
Alegre mas que guarda o seu tesouro
 
De Campanhã ao bairro de Aldoar
Da Cantareira ás ruas do Bonfim
A alma deste povo não tem par
Não há nada a fazer o Porto é assim
 
Quando alguém te abraçar com verdade
É do Porto, só pode ser
Se gostar de ti sem falsidade
É do Porto só, pode ser
Este povo qu’é franco a valer
Troca os vês com orgulho é tripeiro
O que sente não sabe esconder
Por isso é que o Porto é tão verdadeiro
 
Quando chega a hora do Sol-pôr
Ao fechar o mercado do Bolhão
O Porto essa cascata com amor
Acende a sua luz como um balão
 
Então na Sé velinha nasce o fado
Pela voz do seu povo numa prece
Que percorre a Ribeira num afago
Até que o Porto inteiro adormece
 
 
 
 
Marcha “Cheira bem, cheira a Lisboa” de: Carlos Dias 
 
 
 
Criação de Filomena Sousa em 2010 


49

EM BUSCA DO PÃO 

Parte na dor n’amargura
Deixando a terra e o lar
Vai pelo mundo à procura
De seu destino mudar
 
Leva saudades no peito
Que dia-a-dia o devoram
À noite choram em seu leito
Porque os homens também choram
 
Vende o suor de seu rosto
Em troca pouco amealha
Só p’ra voltar em Agosto
Qu’é prémio de quem trabalha
 
Os anos vão-se passando
E o emigrante português
Vai o sonho alimentando
De um dia voltar de vez 
 
 
 
Fado Vianinha de: Francisco Viana 
 
 
 
Criação de Joaquim Brandão em 2010


50

ENCONTREI-ME EM TI 

 

Perdida andei na vida sem ter norte
Por mim até ao vento perguntei
Maldisse a triste sina a minha sorte
Abraçada ao meu fado eu só chorei
 
Fui noite mas não vi a madrugada
Encontrei-me segura em tua mão
Seguimos só os dois naquela estrada
Na desventura amor és meu irmão
 
E juntos nesta sina neste fado
Por muito meu amor que nos queremos
Vamos viver a vida lado a lado
E nunca um do outro nos perdermos
 
Amamo-nos com raiva com loucura
O destino ao juntar-nos quis assim
Já não ando mais à minha procura
Agora olho em teus olhos e sei de mim 
 
 
 
Fado Cuf de : Alfredo Marceneiro 
 
 
 
Criação de Eduardo Teixeira em  1994
Gravado em CD por Julieta Ribeiro 2006

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