10º CAPITULO
Estávamos quase no
S. João. A Nádia embarca dia 29 e o resultado do ADN que esperávamos ainda não
chegou.
A Lara com
perspicácia tinha arranjado um estratagema certo dia, depois de mais um almoço,
disse à Nádia:
— Comprei um copo e uma escova de dentes para teres cá sempre que precisares.
— Obrigado avó, de facto faz-me falta, vou já estreá-la…
Depois foi só juntar a escova de dentes do Dário que ainda tinha lá em casa, do tempo em lá viveu.
Resolvemos não dizer nada a ninguém, sem termos a absoluta certeza do que aconteceu. Aproveitei no entanto, para falar com o Dário sobre Angola (assim como não quer a coisa) e chegar ao ponto de lhe perguntar se teve alguma relação durante a sua estada. Contou-me que conheceu alguém numa exposição de pintura em Luanda. Foi uma relação passageira, embora ainda andassem durante o período em que esteve em Luanda. Ela era muito bonita, chamava-se Dália. Foi com um baque que ouvi aquele nome e meu coração em arritmia, quase me saltou do peito. Mas…Consegui disfarçar. Agora tinha a certeza, nem o ADN já poderia mentir. Não contei as minhas suspeitas à Lara para não a afligir.
Chegou o S. João e
fomos mostrar à Nádia a festa mais democrática do mundo, onde toda a gente,
sejam ricos e pobres ou novos e velhos, confraternizam numa festa sem igual,
cheia de ervas santas, foguetes e bailaricos.
Estacionamos nos Poveiros e fomos a pé até às Fontainhas onde comemos “farturas”. Vimos o fogo debruçados no muro da alameda. Descemos a Rampa da Corticeira até à Ribeira e subimos a rua de S. João e Mouzinho de Albuquerque. Sempre de mãos dadas para que ninguém se perdesse no meio daquele mar de gente, onde as “marteladas” sucessivas eram constantes. A Nádia estava extasiada, nunca tinha visto nada igual. Nos três últimos anos, tinha conhecido a festa pelo braço da dona Constança, apenas no jardim da Rotunda na Boavista e sempre se deitava cedo, nunca tinha vivido o S. João tão intensamente. Chegamos à Praça da Liberdade onde havia bailarico, já de madrugada com orvalhadas que refrescavam o manjerico. Subimos Passos Manuel, metemos a Santa Catarina e fomos comer uma sardinha e um caldo-verde, no átrio nas traseiras da igreja de Santo Ildefonso. ´
Andávamos devagar, pois a minha idade e da Lara, já não estava para correrias…
Já sentados com o caldo-verde a fumegar nas tigelas, contei à Nádia como eram as Rusgas, que iriam desfilar nas ruas daí a uma semana. Era pena não poder assistir. Foi uma noite memorável e cheia de alegria, não fosse a trágica notícia que a Nádia recebeu por email do padrasto, que sua mãe tinha dado entrada no hospital de S. Paulo em Luanda, com um edema pulmonar.
A Nádia tinha que partir mais cedo que o dia programado. Assim, no dia 26, despedimo-nos da Nádia no aeroporto Sá Carneiro, num voo directo a Luanda com escala em Lisboa e… infelizmente, nunca mais a voltamos a ver.
Quando o exame de ADN chegou, a Lara ficou
constrangida com o resultado, eu fiz de conta que me admirava, mas já há muito
tinha a certeza do resultado. A Lara perguntou-me:
— Que vamos fazer Marcelo? Afinal ela também é minha neta, filha do nosso filho e irmã do Joel. Tenho pena do Dário, mas tenho a certeza que não sabia que a Dália era sua irmã. Foi o destino que lhe pregou uma partida… A vida tem destas coisas.
— Para já não vamos dizer nada a nenhum deles. Vamos esperar pelo que possa acontecer e este segredo para já, fica guardado connosco.
A Dália faleceu em Novembro de 2015.
Soubemos que a Nádia entrou para o elenco governativo de Angola em Janeiro de
2016. O Joel e a Clarinha casaram em Março do mesmo ano, e foram morar na Maia
numa casa que compraram com o crédito bancário, feito no banco onde ele
trabalha e o sogro é gerente.
A Constança foi para o Canadá viver com o filho.
Nunca mais vimos a Nádia, embora nos mandasse fotos do seu casamento e emails com frequência, até ao dia em vi a notícia da queda do avião em que viajava.
Deus escreve direito por linhas tortas?
Não… Penso que escreve torto por linhas direitas. O segredo morreria comigo e
com a Lara que andava tão feliz com a chegada do nosso bisneto lá para Agosto,
Talvez no dia 13, dia de anos da Lara, quem sabe?
Sobre a notícia que vi na televisão, li no JN do dia seguinte, mais em detalhe e houve mesmo uma frase que me deixou mais consternado:
«…a subsecretária das finanças Nádia Santos estava grávida de 2 meses e meio, deixa marido e uma carreira curta mas que se adivinhava de grande êxito, olhando à obra deixada no ministério das finanças do país...
E foi assim que aconteceu, uma história que começou à muitos anos atrás em Luanda, no bairro da MAIANGA.
— Comprei um copo e uma escova de dentes para teres cá sempre que precisares.
— Obrigado avó, de facto faz-me falta, vou já estreá-la…
Depois foi só juntar a escova de dentes do Dário que ainda tinha lá em casa, do tempo em lá viveu.
Resolvemos não dizer nada a ninguém, sem termos a absoluta certeza do que aconteceu. Aproveitei no entanto, para falar com o Dário sobre Angola (assim como não quer a coisa) e chegar ao ponto de lhe perguntar se teve alguma relação durante a sua estada. Contou-me que conheceu alguém numa exposição de pintura em Luanda. Foi uma relação passageira, embora ainda andassem durante o período em que esteve em Luanda. Ela era muito bonita, chamava-se Dália. Foi com um baque que ouvi aquele nome e meu coração em arritmia, quase me saltou do peito. Mas…Consegui disfarçar. Agora tinha a certeza, nem o ADN já poderia mentir. Não contei as minhas suspeitas à Lara para não a afligir.
Estacionamos nos Poveiros e fomos a pé até às Fontainhas onde comemos “farturas”. Vimos o fogo debruçados no muro da alameda. Descemos a Rampa da Corticeira até à Ribeira e subimos a rua de S. João e Mouzinho de Albuquerque. Sempre de mãos dadas para que ninguém se perdesse no meio daquele mar de gente, onde as “marteladas” sucessivas eram constantes. A Nádia estava extasiada, nunca tinha visto nada igual. Nos três últimos anos, tinha conhecido a festa pelo braço da dona Constança, apenas no jardim da Rotunda na Boavista e sempre se deitava cedo, nunca tinha vivido o S. João tão intensamente. Chegamos à Praça da Liberdade onde havia bailarico, já de madrugada com orvalhadas que refrescavam o manjerico. Subimos Passos Manuel, metemos a Santa Catarina e fomos comer uma sardinha e um caldo-verde, no átrio nas traseiras da igreja de Santo Ildefonso. ´
Andávamos devagar, pois a minha idade e da Lara, já não estava para correrias…
Já sentados com o caldo-verde a fumegar nas tigelas, contei à Nádia como eram as Rusgas, que iriam desfilar nas ruas daí a uma semana. Era pena não poder assistir. Foi uma noite memorável e cheia de alegria, não fosse a trágica notícia que a Nádia recebeu por email do padrasto, que sua mãe tinha dado entrada no hospital de S. Paulo em Luanda, com um edema pulmonar.
A Nádia tinha que partir mais cedo que o dia programado. Assim, no dia 26, despedimo-nos da Nádia no aeroporto Sá Carneiro, num voo directo a Luanda com escala em Lisboa e… infelizmente, nunca mais a voltamos a ver.
— Que vamos fazer Marcelo? Afinal ela também é minha neta, filha do nosso filho e irmã do Joel. Tenho pena do Dário, mas tenho a certeza que não sabia que a Dália era sua irmã. Foi o destino que lhe pregou uma partida… A vida tem destas coisas.
— Para já não vamos dizer nada a nenhum deles. Vamos esperar pelo que possa acontecer e este segredo para já, fica guardado connosco.
A Constança foi para o Canadá viver com o filho.
Nunca mais vimos a Nádia, embora nos mandasse fotos do seu casamento e emails com frequência, até ao dia em vi a notícia da queda do avião em que viajava.
Sobre a notícia que vi na televisão, li no JN do dia seguinte, mais em detalhe e houve mesmo uma frase que me deixou mais consternado:
«…a subsecretária das finanças Nádia Santos estava grávida de 2 meses e meio, deixa marido e uma carreira curta mas que se adivinhava de grande êxito, olhando à obra deixada no ministério das finanças do país...
E foi assim que aconteceu, uma história que começou à muitos anos atrás em Luanda, no bairro da MAIANGA.
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