segunda-feira, 19 de outubro de 2020

FADOCANTO E OUTROS FADOS





PARTE 1 (1 A 10)


1

FADOCANTO 

 
Trago fado no peito como alento
Junto às minhas coisas mais secretas
Dou-lhe a minha voz cantando ao avento
Palavras mais sentidas dos poetas
 
Foi fado o meu nascer ó minha mãe
Foi fado amores que tive e vi morrer
É fado o meu viver sem ter ninguém
Será fado o meu fim quando vier
 
Meu modo de cantar este meu jeito
Nasceu comigo numa tarde calma
Por isso trago fado no meu peito
E canto quando a dor m’invade a alma
 
É fado a minha voz que por encanto
Te leva esta mensagem plangente
É fado este sentir que te amo tanto
E dize-lo cantando a toda a gente 
 
 
 
Música própria de: Nel Garcia
 
 
 
 

Gravado em LP e K7 por Eduardo Alípio em 1991
Gravado em CD por Rosita em 2003
Gravado em CD por Fernando João em 2004
Gravado em CD por Filomeno Silva e Filomena Sousa em 2004
Gravado em CD por Maria Maia (Laura Vilela e Cátia Sofia) em 2004
Gravado em CD por Rosita e Nelson Duarte em 2006
Gravado em CD por Helena Matos em 2008
Regravado em CD por Filomeno Silva e Filomena Sousa em 2015
Cantado ainda por: Ana Santos, Conceição Brito, Conceição Gonçalves, 
Cristina Gonçalves, Humberto Capelo, Jorge César, Laura Vilela, 
Lúcia Ferreira, Mafalda Rocha, Mª. Adélia Moreira, Mariana Oliveira, 
Miguel Bandeirinha, Ricardo Barbosa, Rosa Ramos e Rute Gonçalves.



2

Á DISTÂNCIA DE UM BEIJO

 

Já foste à distância uma miragem
Que meu olhar cegava d’ansiedade
Quando enchi meu peito de coragem
Toquei-te levemente eras verdade
 
Depois aproximei-me mais de ti
Admirei teus olhos cor do mar
Se falaste confesso não ouvi
Palavras valem menos que um olhar
 
Agora a distância era já pouca
Ia crescendo em mim louco desejo
Estava ali tão perto a tua boca
Entre nós a distância era dum beijo
 
Sem poder resistir naquela hora
No amor no querer fomos iguais
A partir desse dia p’la vida fora
A distância entre nós não houve mais 
 
 
 
Fado Balada do Nel  de: Nel Garcia 
 
 
 
Criação de Lima Querido em1992
Cantado por Aida Arménia em 2001


3

Á MEDIDA CERTA 

Na palma da minha mão
Cabe o teu seio certinho
É tão grande a precisão
Que penso que a minha mão
Nasceu nele coladinho
 
Na medida do meu braço
Cabe teu corpo ao redor
E no calor desse abraço
Nasce em nós a cada passo
A ternura deste amor
 
A tua boca contém
Um imã que a minha atrai
E em cada beijo ela tem
Um gosto que sabe bem
E dos lábios não me sai
 
Quando se encaixa no teu
Meu corpo ganha tal jeito
Que deixa de ser o meu
Fica moldado no teu
Num amor mais que perfeito
 
 
 
Fado Marcha  Maria Vitória de: Raul Ferrão 
 
 
 
Criação de Filomeno Silva em 1998


4

A MINHA RAIVA  

Se hoje eu fosse Deus eu proibia
O Sol de vir dar a luz ao mundo
A Lua, essa nunca mais nascia
E o dia ia ser de breu profundo
 
As árvores morreriam pela raiz
As fontes haveriam de secar
E apesar de ser feio como se diz
Os homens tinham todos que chorar
 
Toda a raiva que trago em meu peito
Nasceu quando a vi com outro ao lado
Se hoje eu fosse Deus eu dava um jeito
De esquecê-la nos versos deste fado 
 
 
 
Fado Varela de: Renato Varela 
 
 
 
Criação de Manuel Barbosa em 1998



5

A MINHA SÉ - Rusga da Sé/2008

 

 
Junho chega de repente / Lá venho com minha gente
Cantar na Rusga do povo / Trago ramalho e balão
Ponho ao peito a tradição / Deste Porto sempre novo
 
Trago um cheirinho a viela / Com bambolins na janela
E vasos de manjerico / Com alho-porro e cidreira
Vou reinar a noite inteira / Com ela no bailarico
 
A minha Sé / Qu’é vaidosa quando quer
É menina, é mulher
É a mãe desta cidade 
A minha Sé / Qu’é um poema dum fado
A ponto de cruz bordado                        
Pela alma da saudade
A minha Sé / Qu’é o bairro mais castiço
Tem o Douro por feitiço                        
A beijar-lhe os pés no cais
A minha Sé / Qu’é cascata orgulhosa
Nasceu em Pena Ventosa                        
Mas vive lá nos Guindais
 
Não há noite como esta / Onde alegria é a festa
Deste povo portuense / Este bairro com vaidade
Traz alegria à cidade / Pela mão do “Guindalense”
 
Trago lá das Fontaínhas / Este cheirinho a sardinhas
Com a Sé no coração / Trago um cravo na lapela
E vou p’ra rusga com ela / Para cantar ao S. João 
 
 
 
Música e gravação em CD de: Marco Alves 
 
 
 
 
1º Classificada nas Rusgas de S. João do Porto                                                                  


6

A NOSSA CANTIGA 

 

Cantas tu ou canto eu
Diz lá, como é ficamos
Se cantamos tu e eu
Sei que nós desafinamos
 
Desafinamos ás vezes
Cantar tem que se lhe diga
Tantas vezes me persegues
Não vou na tua cantiga
 
Mas olha que quando canto
É boa a minha intenção
Levado por teu encanto
Sai mais bonita a canção
 
A intenção pode ser boa
Mas a mim não me convence
A tua cantiga soa
A “malandro” portuense
 
Sou portuense de gema
E ponho em minhas cantigas
A malandrice no tema
O olhar nas raparigas
 
Há raparigas aos montes
Eu só serei tua amiga
E comigo tu não contes
P’ra cantar tua cantiga 
 
 
 
Musica de Marante 
 
 
 
Gravado em CD por Manuel Morais e Lurdes de Sousa em 2008


7

A PROCURAR ME PERDI                       

Eu juro que procurei
E a procurar me perdi
Na hora que t’encontrei
Fiquei perdido por ti
 
Para não mais me perder
Segui na vida teus passos
Acabei por me prender
Na cadeia dos teus braços
 
E quando a sede chegava
Em tua boca eu bebia
Quantos mais beijos te dava
Mais a ti, eu me prendia
 
E se um dia mesmo assim
Eu me perder p’ra castigo
Vai à procura de mim
E fica de vez comigo 
 
 
 
Com música de Nel Garcia 
 
 
 
Gravado em LP e K7 por Eduardo Alípio em 1991
Gravado em CD por Manuel Barbosa em 2004
Gravado em CD por Fernanda Moreira em 2015


8

A RAIVA DE SER ASSIM 

 
Pela taça da vida já bebi
Horas d’angustia, d’amargura
Tanto de saudade já sofri
E quase d’amor fui a loucura
 
A raiva qu’em meu peito mais me dói
E tentar ser feliz e não o ser
Ter sempre esta tristeza que me mói
A alma tão dorida de sofrer
 
Tentar compreender seu semelhante
Semear a virtude e tanto assim
Que ouvindo os outros num instante
Fico a sofrer por eles e por mim
 
O fado cantando, vou mantendo
Esta chama d’amor acesa em mim
Gritando que a maldade não me vendo
Sou aquilo que sou, nasci assim 
 
 
 
Fado Súplica de: Armando Machado 
 
 
 
Gravado em k7 por Augusto Lopes em 1992
Regravado em CD por Augusto Lopes em 1995


9

ALMA ROSA 

 
A alma que a Alma tinha
Na sua voz donairosa
Era a raça que lhe vinha
De ser mais Alma que Rosa
 
Cantou o fado dos fados
O ”Menor” como ninguém
Cantou de olhos fechados
No ventre de sua mãe
 
Depois a vida enganou-a
Ao dar-lhe destino errado
Deu-lhe a glória e a coroa
E destino desgraçado
 
E como o luar de d’Agosto
Qu’encerra tanta beleza
Se o fado tivesse um rosto
Era o dela com certeza 
 
 
 
Fado Menor do Porto de: José Joaquim Cavalheiro Júnior
 
 
 
 
Criação de Manuel Barbosa em 1997


10

AMÉLINHA DO BOLHÃO 

 

No mercado do Bolhão
Houve chinfrim certo dia
Porque o pacato João
Lembrou-se de por a mão
Num sítio que não devia
 
Amélinha não gostou
Que a filha fosse lesada
Mas dizem qu’esta corou
Porque no fundo gostou
Daquela mão descarada
 
De rogada não se faz
E ali com a mãe presente 
Prega um beijo no rapaz
Que a tremer só foi capaz
De fazer rir toda a gente
 
Amélinha revoltada
Com tanta descaração
Prega à filha uma estalada
E logo numa assentada
Prega outra no João
 
Casaram, têm de seu
No bolhão uma tendinha
O povo à muito esqueceu
Quando o mercado tremeu
Com os berros d’Amélinha 
 
 
 
Fado Seixal de: José Duarte 
 
 
 
Gravado em k7 e CD por António Passos em 1994
Regravado em CD por António Passos em 2001

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