NÃO
GOSTO
Não gosto:
De falar alto
Da má educação
Da exibição
Do pedantismo
Detesto:
A indiscrição
A deselegância
A incompreensão
A simulação
Abomino:
A injustiça
A arrogância
A traição
A ingratidão
VIRALATAS
Hoje
São os homens
Que disputam
Restos de
Alimento
Nas latas do
lixo
Hoje
Já não há
cães
Pelas ruas
Vivem
aconchegados
Nos sofás das
donas
Com tantas crianças para adoptar…
CONFESSO
Todos os dias dou graças a Deus
(àquele que me ensinaram em menino...)
Pelo tecto
que me abriga
Pela cama em
que durmo
Pela mesa
onde como
Pela saúde
que tenho
Depois ainda
lhe peço:
(àquele que me ensinaram em menino...)
Felicidade
para meu filhos,
Pr’a meu
netos, p’ró meu amor
Felicidade p’ra mim? Nem me lembro!
Só sei que
nasci em Setembro
E seja o que
for que na vida fiz
Sei que fui
poucas vezes feliz
OLHAR E NADA VER
Olha para
trás e vejo os sonhos que tive
e não realizei
Como vivi a
minha vida
e à tristeza que cheguei
As feridas
que tenho
e os poemas que rasguei
As angustias,
os desgostos
e p’ra quê? Se nada
deixei...
Marca-me vida
Com a mão do
destino
Roubando-me ilusões
que sonhei.
Fere-me vida
Com o punhal
da verdade
Mostrando-me
coisas difíceis de encarar.
Cega-me vida
Com o teu Sol
de sonhos
Desfocando
imagens que adorava ver.
Mata-me vida
Com a tua
lógica
Fazendo-me
crer que foi para isto que nasci.
Mas enquanto vivo
Dá-me algumas
primaveras
Para
alimentar a esperança que ainda tenho
De que vale a
pena seres vivida.
SOLIDÃO
Alguém na TV diz algo que não ouço
Ela no sofá,
cochila um pouco
E eu aqui
sentado feito mouco
Hoje o dia de trabalho foi estafante
Com muita
canseira, e é enervante
Aturar o meu
patrão tão petulante
Agora aqui sentado fumo e bebo
Ainda penso e
observo
Aquilo que no
papel escrevo
Depois penso e mais insisto
Será que a
vida é só isto
É tudo tão
esquisito...
Olho em volta e tenho a impressão
De novo
sentir aquela sensação
De abandono
De solidão.
PORQUÊ
Porque ando assim amuado
Porque estou
assim tão mudado
Porque ando
com este ar de cansado
Porque fazes tanta pergunta junta?
Procura dentro do peito
Talvez
encontres com jeito
Resposta à
tua pergunta
ESTE...
Este viver
como calha
na ponta da navalha
Este cumprir o ritual
desta vida sempre igual
Esta cansada tristeza
da esp’rança sempre acesa
Este inconformismo eterno
da vida ser sempre Inverno
Este passar do tempo
sem nunca se ter tempo
com a nossa consciência
Este cansaço no peito
do desalento sem jeito
Esta humilhação de pedir
constantemente desculpa
Apenas por existir.
A MINHA SALA
Gosto mais da minha sala
Ao fim da
tarde, no ocaso, no silêncio
Quando o Sol
entra pela janela
E ilumina as
lombadas dos meus livros
Dos meus
filmes, dos meus CD’s
Quando o Sol
se vai despedindo
Filtrado pela
cortina da janela
Lentamente
Suavemente
Calmamente
Em silêncio
Até tudo
escurecer
E só ficarem
as sombras
E o cheirinho
bom a maçãs e melão
Na fruteira
da sala.
SÓ ISTO?
Que bom chegar a casa
Cansado de
trabalhar
Com uma dor
nas costas
Saturado de
ouvir o patrão.
Tomar banho
Jantar
Deitar-me na
cama
De lençóis
lavados
E pensar…
Mas a vida é
só isto?
DE MIM
Eu não era nada assim
Um eremita introvertido,
insociável
Hoje sou distante até de mim
Quase um monge, triste, inconsolável
Eu não era nada assim
Ria,
conversava, tinha tanto amigo
Hoje, tenho saudades de mim
Ando cansado
de tudo que persigo.
TRISTEZA
Conheço-te há tanto tempo
Que ás vezes
chego a pensar
que és irmã do desalento
e me queres ver a chorar
Sinto que estás comigo
Quando um
suspiro me sai
do meu peito dolorido
e me pões na voz um ai
E quando me foge a paz
E o mundo
fica sem cor
tu sempre, sempre lá estás
animando a minha dor .
NÃO COMPREENDO
Vou por anúncio atípico no jornal
Preciso de
compreensão. Assina “mortal”
Penso que
desde a infância a este dia
Ninguém me
compreendeu, ninguém
Tenho quase a
certeza que só havia
Uma pessoa no
mundo, minha mãe
Serei muito
difícil ou presumido?
Será que os
outros não compreendo?
Mas porque
sou incompreendido
Quando os
outros tão bem entendo…
É castigo de
algo que fiz, aposto!
Porque não
gostam do que eu gosto?
Amor, sexo,
ternura e amizade
Mar, Sol,
noite, pêssegos e cerejas
Poesia,
cinema, humanidade
E teus olhos
quando me desejas….
É que eu já
não aguento
Viver assim
por mais tempo.
Já não tenho
esperança, ando perdido
Mas há tanta
gente que admiro e é feliz
Será que sou
mesmo incompreendido
Ou é esta a
vida que procuro e sempre quis!
SÁBADO À NOITE
Dou em doido com este silêncio
É noite de
sábado e estou só
Ouvindo a
solidão.
Porque não
estou a beber um copo
Com amigos
ouvindo um fado.
Porque não
tenho direito a rir
Se trabalhei
a semana inteira.
Ela dorme na cama
Indiferente
ao meu drama
Bastava um
pouco de alegria
Um pouco de
fantasia
Dou em doido com este silêncio
É noite de
sábado e estou só
Ouvindo a
solidão.
AOS MEUS FILHOS
Olá meus filhos!
Queria-vos
dizer que vos amo
Que tenho
feito tudo para vos ver felizes
Gostava de
vos ajudar mais, mas não posso
Também
vivemos do trabalho, eu e vossa mãe
E nossa idade
já vai avançando.
Não queria
ver-vos tristes
Sofro com os
vossos problemas
E não há nada
pior para um pai
Querer ajudar
os filhos e não poder.
Tento
manter-vos unidos
Pois penso
que família é o mais importante
E com vossos
filhos, meus netos vão crescendo
E a mesa da
sala cada vez é mais pequena.
Agora sobra
um lugar, a vossa irmã não volta mais
Partiu tão
cedo e deixou-nos um vazio enorme.
A dor que
sentimos e a sua recordação
Nunca mais
nos vai sair do coração…
Gosto muito
de vós e lembrem-se sempre:
“Cada
problema esconde uma solução”
Eu e vossa
mãe, passamos por muitas privações
Mas estamos
aqui, sempre que de nós precisem.
Sejam felizes
e tentem realizar vossos sonhos
Que o vosso
anjo da guarda vos proteja.
POEIRA
Os meus pés já cansados
Vão pisando a
ladeira íngreme da vida.
E o Sol que
projecta a minha sombra
Cheia de
ilusões perdidas
Já não
queima, arde.
Mas levo os
olhos molhados
Com a
esperança derradeira
Que virá um
dia uma tempestade
E serei feliz
na poeira
Da estrada
árida em que passo.
PEDES-ME UM POEMA
Como queres que te faça um poema!
Um verso
rimado
Se venho tão
cansado...
Ardem-me os
olhos do computador…
Como queres que te faça um poema!
Em ti
inspirando
Que sejas o
tema
Se venho tão
cansado...
Apenas consigo dois versos
Pelo muito que te amo meu amor…
Deixa-me
descansar, por favor...
É mentira!
Nunca me
pediste um poema.
SUSPIRO
Cada vez que uma gota
Me sai dos
olhos e rola
Rosto abaixo
inda morna
Sinto-lhe a
sal na boca
Quando aos
lábios se cola
E num suspiro
se torna
Sufoco então no peito
Este suspiro,
e minto
Digo estar
feliz e bem
Pois não me
sai este jeito
De não dizer
o que sinto
E não magoar
ninguém
Depois sozinho num canto
Meu desabafo
se torna
Num suspiro
que persiste
Desprendo
então meu pranto
E rosto
abaixo ainda morna
Rola uma
lágrima triste.
O MEU AMIGO ZÉ
Por seres meu amigo, converso contigo
Durante horas
falamos
Porque ambos
gostamos
Quase das
mesmas coisas.
Por seres meu amigo, desabafo contigo
Porque me
sabes entender
E ouves-me
sem ofender
Sabes da
minha razão.
Por seres meu amigo, troco ideias contigo
Porque
criticas sem destruir
E apoias sem
omitir
Sempre a tua
opinião.
Por seres meu amigo, conto sempre contigo
Porque sabes
o que dizer
Muito antes
de eu dizer
O que quero.
Por seres meu amigo, é que sempre te digo
Aquilo que a
ninguém
Nem mesmo à
minha mãe
Eu digo.
Um amigo não tem preço
Mas tu és meu
amigo
O amigo que
eu mereço
Por ser muito
teu amigo.
HUMILHADO E OFENDIDO
Aos que me humilharam
Que alguém lhes
perdoe
Eu não
consigo
Aos que me
ofenderam
Que a ofensa
lhe doe
Como um
castigo
Molhei o travesseiro tanta vez
Lavei o rosto
e segui em frente
Tropeçando de
quando em vez
Mas caminhei
de pé, sempre.
EU SEI
Eu sei!
Que ao leres
os meus poemas
vais pensar que são todos teus
Eu sei!
Não vais
sequer desconfiar
que houveram outros amores
Eu sei!
Que vais
consultar a consciência
e pensar que tenho razão
FAÇAM
Interpretem como quiserem
Os poemas que
fiz
Dai-lhe
sentidos diferentes
Pintai-os de
outras cores
Encurtem-lhes
as frases
Mudem as
palavras
Se os acharem
pobres
Não lhes deem nada
Mas não lhes tirem (nem podem)
Os
sentimentos que lhes dei
As verdades
que lhe pus
O prazer que
me deram
Só uma coisa podeis fazer
(Além de
criticá-los)
Rasga-los.
UMA MERDA
Há muito que morri, ou vou morrendo
No meio do
silêncio que não se cala
E nessa
solidão eu vou sobrevivendo
No meio dos
fantasmas desta sala
Rir, já nem sei ou não me deixam
Amigos? Não
tenho! não sei porquê!
Restam os
livros que não se queixam
Ou então
chorar, mas para quê!
Assim, neste não m’importa ou tanto-faz
Ouço música,
escrevo e vou guardando
Montes de
papeis que ninguém herda
Mesmo assim eu guardo-os, pois sou capaz
De vir um dia
a precisar quando cagando
Me lembrar
que minha vida, foi uma merda.
EXISTÊNCIA
Se me quiseres encontrar
Vê-me num filme por fazer
Lê-me num
livro por escrever
Num poema que
não fiz
Estou lá, eu
existo
Amargurado,
infeliz
No meio dos
sonhos triste
Neste amor
que ainda resiste
Estou lá, eu
existo
No meio da
dor que tu não curas
Porque tu meu
amor
Nem me
procuras…
DESISTO
Estou cansado, muito cansado
De tudo que
queria e sonhei
me passar ao lado
Olho para trás e não me reconheço
Não era esta
a minha vida
E agora não há recomeço
Chegaram-me às frontes as cãs
Não gosto do
que vejo
no espelho das manhãs
Desanimei, chega! Já não resisto
Desisto, peço
desculpa
Mas estou cansado. Desisto!
CTRL-Z
Se houvesse na vida as teclas “Controle-Z”
E fosse
possível o seu retrocesso
Faria
“Delete” em tudo que se não vê
Nesta vida
fracassada e sem sucesso
Então esta vontade que meu desejo tem
De tornar de
novo a ser criança, a ser petiz
Fazia-me
voltar ao ventre de minha mãe
Único lugar
onde na vida, eu fui feliz.
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