segunda-feira, 5 de outubro de 2020

PALAVRAS SENTIDAS "POEMAS" 8

8º FASE


NÃO GOSTO

Não gosto:

    De falar alto

    Da má educação

    Da exibição

    Do pedantismo

Detesto:

    A indiscrição

    A deselegância

    A incompreensão

    A simulação

Abomino:

    A injustiça

    A arrogância

    A traição

    A ingratidão

 

 

VIRALATAS

Hoje

São os homens

Que disputam

Restos de Alimento

Nas latas do lixo

Hoje

Já não há cães

Pelas ruas

Vivem aconchegados

Nos sofás das donas

Com tantas crianças para adoptar…

 

 

CONFESSO

Todos os dias dou graças a Deus

        (àquele que me ensinaram em menino...)

Pelo tecto que me abriga

Pela cama em que durmo

Pela mesa onde como

Pela saúde que tenho

Depois ainda lhe peço:

       (àquele que me ensinaram em menino...)

Felicidade para meu filhos,

Pr’a meu netos, p’ró meu amor

Felicidade p’ra mim? Nem me lembro!

Só sei que nasci em Setembro

E seja o que for que na vida fiz

Sei que fui poucas vezes feliz

 

 

OLHAR E NADA VER

 

Olha para trás e vejo os sonhos que tive

                    e não realizei

Como vivi a minha vida

                    e à tristeza que cheguei

As feridas que tenho

                    e os poemas que rasguei

As angustias, os desgostos

                    e p’ra quê? Se nada deixei... 

 

 

 VIDA

Marca-me vida

Com a mão do destino

Roubando-me ilusões que sonhei.

Fere-me vida

Com o punhal da verdade

Mostrando-me coisas difíceis de encarar.

Cega-me vida

Com o teu Sol de sonhos

Desfocando imagens que adorava ver.

Mata-me vida

Com a tua lógica

Fazendo-me crer que foi para isto que nasci.

Mas enquanto vivo

Dá-me algumas primaveras

Para alimentar a esperança que ainda tenho

De que vale a pena seres vivida.

 

 

SOLIDÃO

Alguém na TV diz algo que não ouço

Ela no sofá, cochila um pouco

E eu aqui sentado feito mouco

Hoje o dia de trabalho foi estafante

Com muita canseira, e é enervante

Aturar o meu patrão tão petulante

Agora aqui sentado fumo e bebo

Ainda penso e observo

Aquilo que no papel escrevo

Depois penso e mais insisto

Será que a vida é só isto

É tudo tão esquisito...

Olho em volta e tenho a impressão

De novo sentir aquela sensação

De abandono

De solidão.

 

 

PORQUÊ

Porque ando assim amuado

Porque estou assim tão mudado

Porque ando com este ar de cansado

Porque fazes tanta pergunta junta?

Procura dentro do peito

Talvez encontres com jeito

Resposta à tua pergunta

 

 

ESTE... 

Este viver como calha

      na ponta da navalha

Este cumprir o ritual

      desta vida sempre igual

Esta cansada tristeza

     da esp’rança sempre acesa

Este inconformismo eterno

    da vida ser sempre Inverno

Este passar do tempo

     sem nunca se ter tempo

 Esta condescendência

     com a nossa consciência

Este cansaço no peito

     do desalento sem jeito

Esta humilhação de pedir

    constantemente desculpa

Apenas por existir.

 

 

A MINHA SALA

Gosto mais da minha sala

Ao fim da tarde, no ocaso, no silêncio

Quando o Sol entra pela janela

E ilumina as lombadas dos meus livros

Dos meus filmes, dos meus CD’s

Quando o Sol se vai despedindo

Filtrado pela cortina da janela

Lentamente

Suavemente

Calmamente

Em silêncio

Até tudo escurecer

E só ficarem as sombras

E o cheirinho bom a maçãs e melão

Na fruteira da sala.

 

 

SÓ ISTO?

Que bom chegar a casa

Cansado de trabalhar

Com uma dor nas costas

Saturado de ouvir o patrão.

Tomar banho

Jantar

Deitar-me na cama

De lençóis lavados

E pensar…

Mas a vida é só isto?

 

 

DE MIM

Eu não era nada assim

Um eremita introvertido, insociável

Hoje sou distante até de mim

Quase um monge, triste, inconsolável

Eu não era nada assim

Ria, conversava, tinha tanto amigo

Hoje, tenho saudades de mim

Ando cansado de tudo que persigo.

 

 

TRISTEZA

Conheço-te há tanto tempo

Que ás vezes chego a pensar

         que és irmã do desalento

         e me queres ver a chorar

Sinto que estás comigo

Quando um suspiro me sai

         do meu peito dolorido

         e me pões na voz um ai

E quando me foge a paz

E o mundo fica sem cor

         tu sempre, sempre lá estás

         animando a minha dor . 

 

 

NÃO COMPREENDO

Vou por anúncio atípico no jornal

Preciso de compreensão. Assina “mortal”

Penso que desde a infância a este dia

Ninguém me compreendeu, ninguém

Tenho quase a certeza que só havia

Uma pessoa no mundo, minha mãe

Serei muito difícil ou presumido?

Será que os outros não compreendo?

Mas porque sou incompreendido

Quando os outros tão bem entendo…

É castigo de algo que fiz, aposto!

Porque não gostam do que eu gosto?

Amor, sexo, ternura e amizade

Mar, Sol, noite, pêssegos e cerejas

Poesia, cinema, humanidade

E teus olhos quando me desejas….

É que eu já não aguento

Viver assim por mais tempo.

Já não tenho esperança, ando perdido

Mas há tanta gente que admiro e é feliz

Será que sou mesmo incompreendido

Ou é esta a vida que procuro e sempre quis!

 

 

SÁBADO À NOITE

Dou em doido com este silêncio

É noite de sábado e estou só

Ouvindo a solidão.

Porque não estou a beber um copo

Com amigos ouvindo um fado.

Porque não tenho direito a rir

Se trabalhei a semana inteira.

Ela dorme na cama

Indiferente ao meu drama

Bastava um pouco de alegria

Um pouco de fantasia

Dou em doido com este silêncio

É noite de sábado e estou só

Ouvindo a solidão.

 

 

AOS MEUS FILHOS

Olá meus filhos!

Queria-vos dizer que vos amo

Que tenho feito tudo para vos ver felizes

Gostava de vos ajudar mais, mas não posso

Também vivemos do trabalho, eu e vossa mãe

E nossa idade já vai avançando.

Não queria ver-vos tristes

Sofro com os vossos problemas

E não há nada pior para um pai

Querer ajudar os filhos e não poder. 

Tento manter-vos unidos

Pois penso que família é o mais importante

E com vossos filhos, meus netos vão crescendo

E a mesa da sala cada vez é mais pequena.

Agora sobra um lugar, a vossa irmã não volta mais

Partiu tão cedo e deixou-nos um vazio enorme.

A dor que sentimos e a sua recordação

Nunca mais nos vai sair do coração…

Gosto muito de vós e lembrem-se sempre:

“Cada problema esconde uma solução”

Eu e vossa mãe, passamos por muitas privações

Mas estamos aqui, sempre que de nós precisem.

Sejam felizes e tentem realizar vossos sonhos

Que o vosso anjo da guarda vos proteja.

 

 

POEIRA

Os meus pés já cansados

Vão pisando a ladeira íngreme da vida.

E o Sol que projecta a minha sombra

Cheia de ilusões perdidas

Já não queima, arde.

Mas levo os olhos molhados

Com a esperança derradeira

Que virá um dia uma tempestade

E serei feliz na poeira

Da estrada árida em que passo.

 

 

 

PEDES-ME UM POEMA


Como queres que te faça um poema!

Um verso rimado

Se venho tão cansado...

Ardem-me os olhos do computador…

Como queres que te faça um poema!

Em ti inspirando

Que sejas o tema

Se venho tão cansado...

Apenas consigo dois versos

Pelo muito que te amo meu amor…

Deixa-me descansar, por favor...

É mentira!

Nunca me pediste um poema.

 

 

SUSPIRO

Cada vez que uma gota

Me sai dos olhos e rola

Rosto abaixo inda morna

Sinto-lhe a sal na boca

Quando aos lábios se cola

E num suspiro se torna

Sufoco então no peito

Este suspiro, e minto

Digo estar feliz e bem

Pois não me sai este jeito

De não dizer o que sinto

E não magoar ninguém

Depois sozinho num canto

Meu desabafo se torna

Num suspiro que persiste

Desprendo então meu pranto

E rosto abaixo ainda morna

Rola uma lágrima triste.

 

 

O MEU AMIGO ZÉ

Por seres meu amigo, converso contigo

Durante horas falamos

Porque ambos gostamos

Quase das mesmas coisas.

Por seres meu amigo, desabafo contigo

Porque me sabes entender

E ouves-me sem ofender

Sabes da minha razão.

Por seres meu amigo, troco ideias contigo

Porque criticas sem destruir

E apoias sem omitir

Sempre a tua opinião.

Por seres meu amigo, conto sempre contigo

Porque sabes o que dizer

Muito antes de eu dizer

O que quero.

Por seres meu amigo, é que sempre te digo

Aquilo que a ninguém

Nem mesmo à minha mãe

Eu digo.

Um amigo não tem preço

Mas tu és meu amigo

O amigo que eu mereço

Por ser muito teu amigo.

 

 

HUMILHADO E OFENDIDO

Aos que me humilharam

Que alguém lhes perdoe

Eu não consigo

Aos que me ofenderam

Que a ofensa lhe doe

Como um castigo

Molhei o travesseiro tanta vez

Lavei o rosto e segui em frente

Tropeçando de quando em vez

Mas caminhei de pé, sempre.

 

 

EU SEI

Eu sei!

Que ao leres os meus poemas

              vais pensar que são todos teus

Eu sei!

Não vais sequer desconfiar

             que houveram outros amores

Eu sei!

Que vais consultar a consciência

             e pensar que tenho razão

 

 

FAÇAM

Interpretem como quiserem

Os poemas que fiz

Dai-lhe sentidos diferentes

Pintai-os de outras cores

Encurtem-lhes as frases

Mudem as palavras

Se os acharem pobres

Não lhes deem nada

Mas não lhes tirem (nem podem)

Os sentimentos que lhes dei

As verdades que lhe pus

O prazer que me deram

Só uma coisa podeis fazer

(Além de criticá-los)

Rasga-los.

 

 

UMA MERDA

Há muito que morri, ou vou morrendo

No meio do silêncio que não se cala

E nessa solidão eu vou sobrevivendo

No meio dos fantasmas desta sala

Rir, já nem sei ou não me deixam

Amigos? Não tenho! não sei porquê!

Restam os livros que não se queixam

Ou então chorar, mas para quê!

Assim, neste não m’importa ou tanto-faz

Ouço música, escrevo e vou guardando

Montes de papeis que ninguém herda

Mesmo assim eu guardo-os, pois sou capaz

De vir um dia a precisar quando cagando

Me lembrar que minha vida, foi uma merda.

 

 

 

EXISTÊNCIA

Se me quiseres encontrar

Vê-me num filme por fazer

Lê-me num livro por escrever

Num poema que não fiz

Estou lá, eu existo

Amargurado, infeliz

No meio dos sonhos triste

Neste amor que ainda resiste

Estou lá, eu existo

No meio da dor que tu não curas

Porque tu meu amor

Nem me procuras…

 

 

DESISTO

Estou cansado, muito cansado

De tudo que queria e sonhei

                      me passar ao lado

Olho para trás e não me reconheço

Não era esta a minha vida

                     E agora não há recomeço

Chegaram-me às frontes as cãs

Não gosto do que vejo

                     no espelho das manhãs

Desanimei, chega! Já não resisto

Desisto, peço desculpa

                    Mas estou cansado. Desisto!

 

 

CTRL-Z

 

Se houvesse na vida as teclas “Controle-Z”

E fosse possível o seu retrocesso

Faria “Delete” em tudo que se não vê

Nesta vida fracassada e sem sucesso

Então esta vontade que meu desejo tem

De tornar de novo a ser criança, a ser petiz

Fazia-me voltar ao ventre de minha mãe

Único lugar onde na vida, eu fui feliz.


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ENQUANTO ME LEMBRO...