Das melhores festas do ano, para mim foi
sempre o S. João, pela sua alegria e grande manifestação de fraternidade única
no mundo.
Os festejos ao S. João na cidade são
seculares, mas foi no século XX que o 24 de Junho passou a ser feriado. Tudo
graças a um decreto republicano e a um referendo aos portuenses promovido pelo
JN. Estava-se em Janeiro de 1911 e a monarquia tinha sido destronada apenas
três meses antes com a revolução de 5 de Outubro de 1910. Por decreto, a
Republica impunha a cada município do país o seu feriado próprio. Por sugestão
do republicano Henrique d’Oliveira foi proposto o 24 de Junho que foi
contestado por outros membros do Município, foi quando Souza Júnior lembrou,
inspirado num alto sentido de democracia, que devia ser o povo a escolher. O JN
dispôs-se a organizar o referendo popular para escolher o feriado municipal.
Até que a 4 de Fevereiro de 1911, foram publicados os resultados finais da
consulta popular e o dia 24 de Junho foi o mais votado com 6565 votos, seguido
pelo 1º de Maio, com 3075 votos
Recordo um ano muito especial, o de 1959,
quando a comissão de festas ao S. João Lapa, então presidida pelo Senhor
Correia (distinto comerciante da zona,) tomou em ombros a tarefa de levar a
cabo, um dos mais brilhantes festejos deste bairro tão popular na cidade. Com
tradições muito antigas como o S. João “Liberal” da Lapa, que ficou na história
com a célebre quadra:
Eu
fui ao S. João a Lapa
E da
Lapa fui ao Bonfim
Estava
tudo embandeirado
Com
bandeiras de cetim.
Da restante comissão desse ano,
faziam ainda parte o Sr. Agostinho, proprietário do famoso “Café Pereira” no
marquês. O Mário estofador e o irmão Abílio, filhos do Sr. Arnaldo, autor da
cascata movimentada e em cuja cave se guardavam os bambolins, balões para
iluminação e metros e metros de festão, feito pelas pessoas da rua nas horas
vagas. O Fernando que foi presidente do F.C. da Lapa. O Armando, o António, o
Tavares e o Zeca da Miquinhas. Foi distribuído uma pequena revista de 14 páginas
com o programa dos festejos, paga pelos anunciantes para o efeito angariados.
Na revista, podiam-se ler os anúncios das mercearias do Sousa, do Júlio e do
Marques, a carvoaria do Amaral e a padaria do Zé, a farmácia “Sanil” que era na
rua do Paraíso, o Henrique alfaiate, o Xavier gravador e a Iracema cabeleireira
Numa das páginas do programa, lia-se a Marcha da Lapa, um original do José Guimarães e Resende Dias dizia assim:
Olhai
como o nosso bairro é lindo
Recanto
infindo
Que
dá conforto
Olhai
este canteiro singelo
Que
é o mais belo
Deste
bom Porto
Bairro
da Lapa é um tesouro
Tão
cheio de majestade
Imponente
miradouro
A
dominar a cidade
O
estribilho era assim:
Bairro
da Lapa
Meu
rubi a cintilar
Tens
a graça popular
Nas
noites de S. João
Bairro
da Lapa
Oh
meu cantinho adorado
Onde
até o Rei Soldado
Tem
guardado o coração.
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